Hoje tem #neurofio temático em virtude da Semana Nacional do Cérebro, com vários eventos online no Brasil! E para contribuir, o tema de hoje é sobre LINGUAGEM: por que somos palestrinhas? como isso ocorre? Como é adquirido? Isso muda minha percepção das coisas?
Vem comigo!
Linguagem pode ser entendida como um sistema de sons, símbolos e gestos para a comunicação. O principal papel da linguagem é justamente comunicar algo, repassar uma informação - e por isso seu repertório é imenso. Sempre pensamos na linguagem verbal, mas ela vai muito além disso
Esse processo reune uma série de estruturas do nosso corpo, dentro e fora do sistema nervoso: desde os nossos sensores como os olhos, os ouvidos até a articulação da comunicação pelo sistema motor (boca, mãos), com auxílio de estruturas respiratórias entre tantas outras!
Muito se estuda o aparelho vocal humano, dado que nós temos como uma das principais manifestações da linguagem a linguagem verbal - ou a fala. É a partir do ar dos pulmões que as pregas vocais vibram para produzir o som. Estruturas como a boca, nariz, língua *modificam* esse som.
Essa modificação é tão sutil, complexa e tão diversa que produzimos fonemas, diferentes sons para cada palavra e, num maior grau, podemos dar mais ou menos ênfase no nosso discurso, gerando a complexidade que a fala apresenta, que podem caracterizar populações como os sotaques!
E como estudar a linguagem? Bem, vocês devem imaginar que é muito complexo e limitado. O estudo da linguagem parecida como a nossa carece de um modelo animal pra gente observar, dado a particularidade da nossa espécie.
Ainda, na linguagem, a relação entre a forma de um sinal e seu significado (símbolos) é amplamente diversa. Por exemplo, "azul" pode soar diferente entre as línguas ou ter outros mecanismos de associação, como na língua de sinais.
Ainda, muitos significados de um sinal podem não ser previstos e tomamos, por muitas vezes, o estabelecimento de convenções.
Como assim?
Na língua grega existem dois termos de cores fundamentais para descrever o azul claro e escuro - "ghalazio" e "ble", por exemplo.
Um estudo mostrou que essas pessoas mais propensas a ver essas duas cores como mais semelhantes depois de viver por longos períodos no Reino Unido - onde essas duas cores são descrito em inglês pelo mesmo termo de cor fundamental: azul. sciencedirect.com/science/articl…
Isso ocorre porque após a exposição diária de longo prazo a um ambiente de língua inglesa, o sistema nervoso dos falantes nativos de grego começa a interpretar as cores “ghalazio” e “ble” como parte da mesma categoria de cores, pela convenção daquela língua.
Mas isso não é apenas algo que acontece com as cores; na verdade, a linguagem pode influenciar nossas percepções em vários quesitos!
E para vocês pirarem junto de mim, recomendo MUITO esse @TEDTalks "como a linguagem molda a forma que pensamos"
Ela traz um exemplo muito interessante em uma comunidade aborígene da Austrália (Kuuk Thaayorre), não há o uso de palavras como "esquerda" e "direita". Em vez disso, tudo é expresso em pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste.
Tri né? Imaginem essa orientação!
Pegando fotos de uma pessoa com idades diferentes. Se eu pedisse para um falante de inglês organizar o tempo, seria da esquerda para a direita, muito em função do sentido da escrita. Falantes de hebraico/árabe fariam isso do sentido oposto: da direita para a esquerda.
Bem, mas voltando ao assunto: muitos dos estudos que temos hoje vieram de relatos e análises de pessoas que tem algum problema na fala (seja na elaboração, articulação ou condução). E também observando a comunicação em outros animais, visto que as bases podem ser partilhadas
A linguagem teria ocorrência natural?
Chimpanzés e macacos do novo mundo utilizam uma variedade de sons, gestos e expressões faciais para comunicar alarme, avisar sobre adversários, demarcar território, por exemplo. link.springer.com/article/10.100…
E como ocorre a aquisição da fala? Existem inúmeras peculiaridades socioculturais, mas existem muitas similaridades através das diferentes culturas, como a figura abaixo revela:
A partir dos 18 meses, algumas peculiaridades começam a ser observadas de acordo com o ambiente que a criança está exposta (língua nativa, etc). Com 1-2 anos a fala já ganha características específicas
E esse processo no início da vida é muito interessante. Uma criança de 1-2 anos é capaz de reconhecer sons e palavras da língua nativa, apesar de não entendê-las. Alguns sons já passam a ser familiares e intervalos entre uma palavra e outra começam a ser melhor entendidos
E sabem o que ajuda MUITO a criança nesse momento? Isso mesmo, o jeito super fofo e único que mães e pais usam para seus bebês! O "maternês"! Quando damos + ênfase as vogais com uma fala mais pausada, estamos auxiliando o bebê a criar essas estratégias lógicas para o som da fala
Ainda, existem estudos mostrando que esse processo passa por um aprendizado "estatístico": o bebê, a medida que vai experienciando novas palavras e sons vai combinando e percebendo combinações mais prováveis.
A medida que mais estudos foram feitos, dois pesquisadores se destacaram e postularam o "hemisfério da linguagem" ou seja, em quais partes do nosso encéfalo a linguagem estaria ocorrendo: Estamos falando de Paul Broca e Karl Wernicke
Seus estudos foram tão importantes pra essa área da neurociência que as duas regiões analisadas por eles levam seus nomes: as áreas de Broca e de Wernicke, as quais se comunicam (badumtsss) pelo fascículo arqueado, como se fosse uma ponte entre elas para se conversarem.
No geral, a linguagem fica no hemisfério esquerdo (por isso o "hemisfério da linguagem) e são poucas coisas no nosso cérebro que não ocrrem nos dois lados (essa é uma!). Tem um estudo interessante mostrando que esse controle da fala pode mudar de acordo com a habilidade manual
Por exemplo, na figura acima vemos que em 140 pessoas destras analisadas, a área da fala era predominante no hemisfério esquerdo. Em 122 pessoas canhotas analisadas, já observamos que a maioria fica no esquerdo, mas temos também a representação no direito ou bilateral!
[FIO EM CONSTRUÇÃO]
Mas como um destro que escreve com a mão direita tem a fala na parte esquerda? Então, esse tipo de estímulo é processado "contralateralmente", ou seja, a parte do cérebro que processa a mão direita fica no hemisfério esquerdo, e vice e versa.
O modelo mais aceito de processamento hoje em dia é o modelo de Wernicke-Geshwind em que, a partir de estímulos sonoros, a área de Wernicke adicionaria sentido ao som, as palavras seriam convertidas em movimentos para a fala na área de Broca e as áreas motoras executariam os mov.
Para um estimulo visual, o processo é bastante parecido, mas contamos com regiões visuais para enviar esses sinais pra área de Wernicke e seguir no ciclo.
Existem algumas limitações desse modelo, como o fato de a informação visual poder ir direto para a área de Wernicke. Não seria como se transformássemos o estimulo lido em algo falado para entrar ali. Mas temos uma dimensão de que VÁRIAS regiões do encéfalo estão envolvidas!
Quando temos algum problema na fala, podemos estar vendo uma "afasia" e existem várias caracterizações como mostrado abaixo. Na figura ao lado, podemos ver o envolvimento de várias regiões para cada passo envolvido na comunicação
TA MELL mas e a história lá do filme "A Chegada?" A linguagem pode influenciar meus pensamentos?
P.s: Amy Adams tu merecia o Oscar, quer o mundo eu te dou.
Muita gente comenta da hipótese de Sapir-Worf. De acordo com essa hipótese, toda e qualquer categorização do mundo descenderia diretamente das línguas faladas pelos indivíduos. Mas faz sentido isso?
A linguagem tem uma contribuição para dar sentido aos objetos e a nossa realidade, mas não é a única envolvida nessa modulação. Nesse vídeo, eu comento como nossos sentidos e nossos estados de consciência podem moldar e reconstruir nossa realidade:
Por que disse TUDO isso?
Porque hoje às 20h estarei falando sobre TUDO ISSO na Semana Nacional do Cérebro de Porto Alegre!
Os últimos dados levantamos (recuperados de COVID-19, ação neutralizante e até mesmo eficácia de algumas vacinas) têm apontado para um possível escape da resposta imunológica por algumas variantes, como a B.1.351 e a P.1.
Bora dar uma atualizada? Vem comigo!
Vou discutir alguns dados desse preprint publicado recentemente e trazer alguns fios que já foram escritos abordando o tema biorxiv.org/content/10.110…
O SARS-CoV-2 é um vírus de RNA, e utiliza uma enzima chamada RNA polimerase dependente de RNA, que basicamente cria uma cópia do RNA se baseando numa fita existente de RNA.
Durante essa cópia, erros podem acontecer, e existem sistemas de correção, mas algum erro pode passar né?
Sobre o artigo da AstraZeneca:
- O dado é sobre a B.1.351 e é um dado com n pequeno, algumas questões estatísticas importantes, mas é um dado importante que aponta a necessidade de mais estudo
- B.1.351 não é a P.1! Para a P.1, precisamos de estudos específicos - e logo! (1/n)
- Em outras vacinas (especialmente dados de ação neutralizante) vimos que a P.1 tem um impacto menor do que a B.1.351 sobre esses dados analisados
- O estudo não viu sobre casos graves, então não sabemos o impacto da B.1.351 sobre a vacina quanto a evitar agravamentos (2/n)
- Dos 87 antígenos específicos da Spike identificados, 75 permaneceram não afetados pelas mutações da B.1.351 e foi observada uma boa expansão de células T CD4+ e CD8+. A resposta celular pode estar relacionada com a prevenção de agravamentos = + estudos! (3/n)
Onde foi parar ochoque ao ver mil óbitos diários na Itália, no início de 2020? Se pegássemos a notícia de hoje e mostrássemos para a população em Fev/20 e disséssemos que isso seria BR em Mar/21, ninguém acreditaria que chegaríamos nisso. Não aceitaríamos nunca isso.
Se chegássimos lá em Fev/20 e disséssemos que tem gente fazendo carreata para reabertura de tudo, gestores contra o uso de máscara e lockdown numa situação de quase 3 mil óbitos só nas últimas 24h, aquela população estaria cobrando gestores por atitudes coerentes.
Se disséssemos para essa população que não foi por falta de aviso de cientistas, profissionais da saúde, eles olhariam pra nós e perguntariam "como vocês ignoraram isso? O que deu em vocês? Pra que desafiar o vírus?"
Estamos fazendo isso. E tem gente que não entendeu isso.
Analistas ainda começam a se preocupar com a chegada do feriadão de Páscoa, na primeira semana de abril. Se o sistema de saúde do RS não se recuperar até lá e houver grande mobilidade da pop., com viagens e encontros, a situação pode piorar ainda mais.
Segundo @sucamey graças às medidas restritivas, evitamos cerca de 2 mil internações. "Mesmo se considerarmos que algumas pessoas não tenham sido internadas, não temos 2 mil em casa pela falta de leito. Essa é uma certeza: as medidas tomadas conseguiram evitar um caos maior "
Os impactos mais significativos só devem começar a ser sentidos no *início de abril*.
Isso se as pessoas mantiverem o distanciamento.
O efeito de desafogar UTI levaria ainda mais 20 a 30 dias para ser enxergado.
A alta transmissão do SARS-CoV-2 desperta uma preocupação urgente quanto às hospitalizações, novos casos e óbitos, mas também quanto ao surgimento de VARIANTES de nossa preocupação. Hoje vamos falar de algumas descritas lá nos Estados Unidos
Esse é o fio!
Na Califórnia, no fim de Dezembro de 2020, pesquisadores começaram a investigar a presença de variantes de atenção que poderíam ter uma maior transmissão, como a B.1.1.7, que tinha sido identificada no Reino Unido (UK) em Setembro de 2020.
Além de encontrar a presença da B.1.1.7 em algumas amostras, os pesquisadores descobriram outro achado: uma variante "para chamar de sua", até então não descrita em amostras de residentes na Califórnia. A variante foi chamada de CAL.20C
@WHO afirma que não há indícios de que o imunizante esteja causando os raros casos de coagulação sanguínea detectados. A suspensão corrobora que o sistema de vigilância funciona e que controles eficazes estão em vigor - 🧶
Importante destacar que suspensões, pausas e outras ações quando temos a notificação de eventos após a imunização são parte da rotina do monitoramento de imunizantes. Quando a suspensão ocorre, não significa que a relação entre evento A e vacina A está estabelecida.
E não é porque duas coisas acontecem próximas que elas necessariamente tem uma relação de causa e consequência entre si. Explico um pouco mais nesse fio: