Vira e mexe, alguém resgata uma fala minha comparando Marina Silva a Bolsonaro. Pensei em ignorar as provocações, o que seria mais fácil e conveniente, evitando que outras pessoas soubessem disso. Ao falar aqui, escancaro o que foi dito.
E o que foi dito foi uma merda colossal.
Eu me lembro bem do sentimento que me fez falar aquilo: eu estava possesso de raiva por uma fala de Marina, que havia mencionado a morte de Marielle para elogiar/divulgar a série O Mecanismo. Eu vi aquilo como cinismo e oportunismo imensos - além de desonesto.
E aí fiz o que faço às vezes e depois me arrependo: comentei no calor da raiva e usei uma hipérbole absurda, ridícula, OBVIAMENTE estúpida. Tive e tenho várias ressalvas a Marina Silva, mas é ÓBVIO que ela não está nem no mesmo universo de Jair Bolsonaro.
Nunca vou engolir esta fala de Marina que mencionei (e sua defesa da Lava-jato) e muito menos seu apoio a Aécio, mas estas duas atitudes, boas ou más, fazem parte de um jogo político "normal". Bolsonaro é um genocida, um sociopata, e nada a seu respeito é "normal".
Então aí está: um mea culpa público ao qual estou dando o mesmo destaque que dei à merda que falei sobre Marina. Com raiva ou não, sou responsável pelo que digo - e se digo uma imbecilidade como aquela, o mínimo que devo fazer é dizer "sim, fui muito estúpido".
E fui mesmo.
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Se vocês querem aprender uma lição importante enquanto há tempo, vejam o que aconteceu ontem nos EUA, quando um homem branco matou oito pessoas - várias asiáticas.
Os crimes de ódio contra asiáticos nos EUA têm crescido de modo alarmante nos últimos meses. E por quê?
Porque a retórica de Trump e dos republicanos tem sido de demonização absoluta dos chineses - e, para os brancos trumpistas, qualquer asiático é chinês.
Os chineses são “responsáveis pela pandemia”, são “comunistas”, são “imigrantes tomando empregos de americanos”.
Soma-se a isto a cultura de armas dos EUA, onde comprar uma arma de fogo é tão fácil quanto comprar um saco de arroz (especialmente em alguns estados).
Armas em abundância + demonização de grupos específicos + polarização = tragédia anunciada.
Como já compartilhei inúmeras vezes ao longo dos anos através de tweets, posts no FB e em textos no Cinema em Cena, tenho um histórico antigo com depressão e ideação suicida. É algo que busco discutir com frequência até mesmo para demonstrar como não deve ser tratado como tabu.
O que a família Bolsonaro fez hoje (o pai na live; o filho no twitter) é uma das ações mais repugnantes de uma trajetória já repleta de atitudes desumanas, sociopáticas. A exploração de um suicídio para fins políticos é algo que expõe as almas apodrecidas de um clã de canalhas.
Encontro-me, felizmente, em um período estável da depressão; há dias melhores e outros piores, mas há um bom tempo não tenho uma crise profunda, mais perigosa. E MESMO ASSIM o que ocorreu hoje me tirou do prumo, me chacoalhou. Imagino o efeito sobre quem está mais vulnerável.
Não há nem como expressar a gravidade de Bolsonaro, este desgraçado miliciano, ler uma carta de suicídio deixada por alguém que se matou na pandemia (se for verdade; nada vindo dele é confiável). Há estudos e mais estudos confirmando como isto é um gatilho perigosíssimo.
Há protocolos adotados inclusive pela imprensa em todo mundo para noticiar suicídios porque é algo com potencial para levar a mais mortes, para derrubar aqueles que já estão à beira do precipício. Bolsonaro é uma criatura abominável; NUNCA perdoarei aqueles que o elegeram. Nunca.
E o filho dele, que é igualmente repugnante, colocou a carta no twitter e a foto da pessoa. Denunciem, denuciem, denuciem, denuciem.
Há alguns detalhes ali que me chamam muito a atenção, como a maneira como se programaram para vazar uma informação em dois momentos para gerar "duas repercussões" JÁ CONTANDO que Moro levantaria o sigilo na hora combinada.
Mas o mais chocante é a imensidão de dinheiro público e de recursos que eles desperdiçaram por darem atenção a uma fake news. Esse era o nível da equipe de ases investigativos comandados por @deltanmd: um bando de aspirantes a Sherlock Holmes que eram na verdade Projotas.
Como parte da preparação do meu curso novo, tenho buscado conhecer melhor certos realizadores de vários lugares do mundo - e há algum tempo comecei a ler sobre o documentarista indiano Anand Patwardhan, uma figura de imensa coragem que vem denunciando abusos há quase 50 anos.
Os filmes de Anand Patwardhan (seu primeiro é de 1974) são pouco vistos até mesmo na Índia, já que de uma maneira ou de outra praticamente todos os governantes ao longo deste período buscaram atrapalhar suas exibições pelo país - e encontrar os filmes é tarefa complicadíssima.
Então eu vinha lendo sobre Patwardhan sem muita esperança de conseguir VER os filmes - até que, por uma imensa coincidência, quando eu já havia desistido de achá-los (mesmo por torrent), eles caíram no meu colo.
Não tem jeito mais. Não há como dialogar ou esperar bom senso de alguém cuja bússola moral aponta sempre pro extremo-leste. Estamos habituados a presumir que os oponentes políticos são humanos; quando não são, não sabemos combater.
Os contratos sociais e éticos que sempre foram subentendidos na democracia - mesmo nos momentos mais polarizados - começaram a se perder de vez depois de 2016. Estamos lidando com animais, com sociopatas. Eles não têm pudor de simular sequer o mínimo de humanidade ou decência.
Como combater gente que mente SABENDO que há registros em vídeo/áudio/TUDO comprovando isso? Que mente com a consciência de que a maioria saberá imediatamente se tratar de mentira, mas que o faz assim mesmo porque já percebeu que sua base comprará e reproduzirá a falsidade?