Thread by @CrimesReais

Em Goiás, essa jovem foi amarrada e esfaqueada até a morte por sua amiga, de 17 anos, ao não retribuir os sentimentos amorosos dela. "Ela não ia ficar comigo, não queria que ficasse com mais ninguém também."

Nota: alguns envolvidos são mencionados apenas por siglas em razão de se tratarem de menores e seus processos terem corrido sob segredo judicial.

Bianca Mantelle Pazinatto, aos 18 anos, era uma aluna exemplar, cursava o terceiro período de biomedicina e frequentava uma subsidiária da Universidade Federal de Goiás (UFG), a Regional Jataí, situada em município homônimo que, por sua vez, fica no sudoeste do estado de Goiás.

A jovem havia recentemente retornado para sua cidade natal após ter se mudado para Goiânia, onde iniciou a faculdade. O retorno foi motivado pela saudade do apoio familiar — ela era muito próxima dos pais e irmãos — e amigos, os quais voltou a ajudar com os estudos após voltar.

No dia 29/07 de 2013, Bianca foi visitar uma das amigas com quem convivia e ajudava a estudar. A jovem disse à mãe que iria sair para ver uma amiga e que não demoraria muito e, às 9h, saiu de casa, tendo deixado voluntariamente ou esquecido seu celular em seu quarto.

No entanto, seu retorno não veio em breve; horas se passaram sem que se tivesse notícia de Bianca. A família começou a ficar preocupada, pois a jovem, além de ser caseira, sempre avisava onde estava quando saía e costumava
voltar no horário que informava que retornaria.

Passadas algumas horas, o receio da família os levou a comunicarem o
desaparecimento de Bianca ao 1° Distrito Policial de Jataí. A Polícia Civil agiu
rapidamente e iniciou as buscas pela cidade, incluindo a casa da jovem
desaparecida, onde encontraram pistas de seu paradeiro.

No celular da moça, a conversa mais recente no Whatsapp era com uma amiga de 17 anos, “L.”, que disse precisar conversar com Bianca. Além disso, acharam uma carta enviada por L. para Pazinatto, na qual declarava sua paixão pela universitária:

“TE AMO MUITO, não por escolha, meu coração te escolheu sozinho, não me deu chance de defesa. Perdi tudo para você e isso está partindo meu coração.” Por fim, ofereceu um “conselho” para Bianca: “Lembre-se de tomar cuidado, pois muitas coisas bonitas tornam-se ruins lá fora”.

Alertados pela toxicidade do texto, os policiais se dirigiram à casa de L. Quando interpeladas sobre o paradeiro de Bianca, a jovem e sua mãe negaram ter recebido Pazinatto na residência. L. informou que Bianca havia combinado de ir à casa dela, mas não chegou a ir.

Quanto à carta, L. alegou ter se relacionado afetivamente com Bianca, mas que teriam se separado após uma traição. Entrevistados posteriormente sobre a relação das duas, tanto a mãe de L. quanto parentes de Bianca afirmaram que
nunca houve envolvimento amoroso:

“Ela [a sobrinha] não queria envolvimento com essa jovem. Bianca era perseguida por ela. A adolescente estava sempre procurando por Bianca, tocando a campainha da casa. Tanto que, quando via pelas câmeras que se
tratava da suspeita, ela nem atendia”, narrou uma tia de Bianca.

Um tio de Pazinatto corroborou essa versão, acrescentado que Bianca tinha namorado. Desconfiados de L., os policiais encerraram a interação e passaram a vigiar a garota, seguindo-a até um shopping local. No percurso, todavia, receberam um informe que exacerbou a suspeita prévia:

Uma denúncia anônima informou que uma amiga de L., M., de 16 anos, foi vista vestindo uma calça manchada por sangue. O novo dado ensejou uma nova confrontação com L., que alegou se tratar de um acidente enquanto tiravam uma carne do congelador mais cedo naquele dia.

Na casa de M., a amiga reiterou a versão contada por L. Elas foram
dispensadas, mas os investigadores não se convenceram. No início da noite, eles retornaram à casa de L., que não se encontrava no local. A mãe os recebeu e autorizou que apurassem o quarto da moça.

Uma breve checagem revelou a localização de Bianca: embaixo da cama de L., embrulhada em sacos plásticos e sem vida. Além do corpo, encontraram uma mochila com luvas, sacos, gazes e faca sujos de sangue. Os objetos faziam parte de uma folha que se assemelhava a um plano homicida:

André Fernandes, delegado regional de Jataí, afirmou que o crime foi
premeditado e que a atuação célere da Polícia foi fundamental para elucidar o crime, pois L. e M. planejavam levar o corpo de Bianca para o Setor Estrela Dalva durante a madrugada e o incinerar com fogo.

L. e M. foram presas na casa da última e levadas para delegacia, onde confessaram o crime. L. explicou que atraiu a vítima com uma mensagem e descreveu os pormenores do homicídio: “Depois da aula na faculdade ela foi até lá. Eu entrei primeiro e ela me seguiu por um corredor...

...Ela se debateu e queria gritar. Ficou muito desesperada”, narrou L. “Minha colega continuou segurando-a e eu tapei sua boca. Depois, amarrei seus pés e mãos. No quarto, percebemos que não tínhamos mais o que fazer”. O quarto foi o local em que golpearam e esfaquearam Bianca.

A Polícia Civil declarou que a vítima recebeu três facadas no pescoço. A motivação do ato era clara: "Ela não ia ficar comigo. Não queria que ficasse com mais ninguém também", explicou L. Para a mãe, a filha demonstrou remorso: “Ela me pediu perdão e está muito arrependida”.

Nadir Cordeiro, titular da Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (GO), onde as criminosas inicialmente ficaram presas, relatou que suas conversas com as garotas indicavam o contrário: “[Elas] não demonstram arrependimento e apresentam comportamento frio e calculista".

L. e M. foram indiciadas por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Ambas receberam, no mesmo ano do crime, a pena máxima (à época): três anos de internação como medida socioeducativa, com avaliações semestrais, que já cumpriram. Hoje, estão soltas e vivem normalmente.