Esse caso é bem conhecido em HIV. Nosso sistema imune produz anticorpos em uma combinação de variabilidade (mistura aleatória de genes) e seleção do que funciona. Uma evolução acelerada. Que em algumas pessoas, por sorte e/ou background genético, pode dar muito certo.
Geralmente são anticorpos capazes de inativar muito bem um vírus. Não quer dizer que outros não podem escapar. Em HIV são chamados de "controladores de elite" pq conseguem segurar bem o vírus. Mas tem casos de linhagens que causam doença neles.
Essa é uma das estratégias evolutivas, a dinâmica da Rainha Vermelha. Nosso sistema imune é uma das regiões mais variáveis do nosso genoma. Justamente pq com variedade, tem mais chances desse tipo de escape de uma doença infecciosa.
Hoje em dia vacinas e medidas de distanciamento tiram parte da pressão evolutiva dessa habilidade. Mas por grande parte do nosso passado, mesmo antes de sermos humanos, essa variabilidade foi o que salvou parte dos humanos em pandemias que varriam a população.
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Se não viram a entrevista da Ludhmila Hajjar na @GloboNews, vejam. O assédio que ela passou por propor medidas sanitárias razoáveis e científicas é insano. E enterra qualquer chances de vermos medidas mínimas vindo do governo federal.
E a variante P.1 certamente subiu o limiar de vacinação necessária, pois o vírus é mais transmissível. E corre o risco de interagir menos com anticorpos vacinais (papers.ssrn.com/sol3/papers.cf…).
Ou seja, nosso não combate à COVID pode sabotar a vacinação mundial a longo prazo.
A vacinação continua fundamental pra proteger vacinados e impedir o colapso do sistema de saúde, diminuindo a severidade da COVID e a necessidade de internação e UTI.
Mas se as vacinas não forem suficientes para parar completamente o coronavírus, o Brasil contribuiu pra isso.
No dia em que registramos quase 1600 mortes, fechamos um acordo de + de R$ 1 bi por uma vacina que não sabemos se funciona. Enquanto dispensamos a vacina mais usada no mundo e registrada na Anvisa e outra que só precisa de 1 dose, ambas testadas no Brasil. bbc.com/news/world-asi…
Estamos com pouquíssimas doses das vacinas já contratadas, gastando um dinheiro que não temos pra comprar uma vacina incerta enquanto dispensamos as certas e o melhor que podemos esperar é que entreguem as poucas doses no estado certo.
Temos menos de 3% da população mundial, mas 1 em cada 10 pessoas que reconhecidamente morreram de Covid no mundo morreu no Brasil, país que um dia teve um dos dez maiores PIBs do mundo.
Com discussões sobre se variantes poderiam infectar vacinados, vale entender qual a proteção que vacinas dão e quando realmente se preocupar, se e quando for o caso. Segue um fio para entender as notícias recentes e futuras sobre escape.
Entre não ter contato com o vírus e morrer de COVID, tem um gradiente de condições de infectados sem sintomas, casos muito leves, casos leves, moderados e graves que os testes clínicos de vacinas mediram. E mesmo essa classificação muda de acordo com os critérios de cada estudo.
A maioria dos testes começou a medir eficácia com base em casos leves. Não no contágio pelo vírus, que seria bem mais caro de monitorar, com testes regulares. Por isso dizemos que vacinas são eficazes em proteger X% de casos leves a moderados. E não que elas impedem o vírus.
Saiu o artigo da Sputnik V (🙏) mostrando a eficácia mais alta entre vacinas de adenovírus. Ótimo ter mais uma no páreo e forte sinal que alternar o vírus vetor, que leva um pedaço do coronavírus, promove mais imunidade produtiva. Isso tem outras implicações, que explico abaixo.
Falamos muito sobre vacinas serem atualizáveis, para cobrir novas variantes, como as que aparecem. Em muitos casos é um processo simples, como trocar a sequência em vacinas de RNA. Acredito que a vacina de Oxford terá dificuldades e os resultados da Sputnik reforçam a impressão.
As vacinas de vetor com adenovírus têm esse nome porque usam um vírus modificado (adenovírus) para carregar um pedacinho do coronavírus (nesse caso) contra o qual queremos desenvolver imunidade. É uma estratégia legal pq apresenta o alvo pro sistema imune de forma mais "real".