Em 64, os militares implantaram uma ditadura sob a desculpa de estarem “salvando” o país do comunismo. Se apresentavam como garantidores da liberdade do “cidadão de bem”.
Bolsonaro já está falando em voz alta a mesma canalhice sobre “garantir a liberdade”.
Avisos não faltam.
Momentos de caos institucional são, repito, frequentemente empregados por figuras autoritárias para promover ruptura democrática.
Bolsonaro está CRIANDO propositalmente esse caos usando a pandemia e agora já está falando em voz alta que se prepara para a etapa seguinte.
Poucas vezes um golpe de estado foi anunciado previamente de modo tão ostensivo. E repetidas vezes.
O problema é que - como podemos ver também na pandemia - o ser humano tem uma tendência irresistível de negar a realidade quando é muito assustadora. Tenho certeza de que mesmo aqueles que, como eu, estão alertando para um golpe que se aproxima não acreditam DE FATO nisso.
Apontam que a retórica de Bolsonaro se torna cada vez mais perigosa e indicativa de ruptura democrática, mas no fundo pensam “nahhh... claro que não. Algo será feito antes”. E acabam sendo surpreendidos quando nada é feito e o pior acontece.
Sugiro fortemente que não continuem em negação. Se vocês estivessem, sei lá, 30 anos no futuro e lessem o agravamento da retórica de Bolsonaro num cenário de caos institucional, certamente pensariam “como eles não viram o que estava acontecendo? Como não fizeram nada?!”.
É sempre assim. O espanto com a inação só chega tarde demais.
Se vocês acham que será difícil convencer a população de que um golpe foi “a única maneira de impedir o autoritarismo dos governadores e salvar o Brasil”... vocês nunca leram um livro de História.
E as “elites econômicas” e a mídia corporativa vão se alinhar rapidinho a isso.
O passo seguinte será calar a voz daqueles que estiverem “ameaçando a estabilidade e a segurança institucionais”. Jornalistas, vlogueiros, artistas. Primeiro, conduzindo pra depoimentos coercitivos. Se não funcionar, detenção “temporária”.
O passo seguinte vocês já sabem.
A comunidade internacional soltará notas de repúdio, protesto, “implorando” para que as autoridades restaurem a normalidade democrática o mais rápido possível. Dirão que “estão vendo com imensa preocupação os acontecimentos recentes no Brasil”. Mas não farão nada.
Três meses passarão. Seis. Muitos terão a esperança de que em 2022, com o fim do “mandato” de Bolsonaro, uma eleição marque o retorno à normalidade.
As eleições presidenciais serão adiadas até que o país esteja “mais seguro”.
Se vocês acham que estou delirando... bom, eu adoraria estar.
Mas não acredito não. Estamos caminhando SIM para isso. É só, repito, consultar os livros de História.
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Eu falei disso mais cedo, mas deu vontade de repetir de modo um pouquinho mais detalhado: essa passagem do @bbb da festa desta madrugada me impressionou muito pela inteligência e pelo instinto exibidos pelos responsáveis pelas câmeras e pelos cortes (além da agilidade no pensar).
A passagem começa com Fiuk cantando "Às vezes, no silêncio da noite" e, então, Arthur passa à sua frente sorrindo. Ele fazem um rack focus rápido, mudando o foco de Fiuk, ao fundo, para Arthur - e estabelecendo este como centro da "cena".
Então, há um corte pra Carla olhando (aparentemente) pra Arthur e sorrindo - e eles fazem um zoom rápido na atriz. Aqui duas coisas acontecem ao mesmo tempo: eles estabelecem um raccord de olhar entre Arthur e Carla (que veremos ser falso) e o zoom sugere atenção de Arthur nela.
Se vocês querem aprender uma lição importante enquanto há tempo, vejam o que aconteceu ontem nos EUA, quando um homem branco matou oito pessoas - várias asiáticas.
Os crimes de ódio contra asiáticos nos EUA têm crescido de modo alarmante nos últimos meses. E por quê?
Porque a retórica de Trump e dos republicanos tem sido de demonização absoluta dos chineses - e, para os brancos trumpistas, qualquer asiático é chinês.
Os chineses são “responsáveis pela pandemia”, são “comunistas”, são “imigrantes tomando empregos de americanos”.
Soma-se a isto a cultura de armas dos EUA, onde comprar uma arma de fogo é tão fácil quanto comprar um saco de arroz (especialmente em alguns estados).
Armas em abundância + demonização de grupos específicos + polarização = tragédia anunciada.
Vira e mexe, alguém resgata uma fala minha comparando Marina Silva a Bolsonaro. Pensei em ignorar as provocações, o que seria mais fácil e conveniente, evitando que outras pessoas soubessem disso. Ao falar aqui, escancaro o que foi dito.
E o que foi dito foi uma merda colossal.
Eu me lembro bem do sentimento que me fez falar aquilo: eu estava possesso de raiva por uma fala de Marina, que havia mencionado a morte de Marielle para elogiar/divulgar a série O Mecanismo. Eu vi aquilo como cinismo e oportunismo imensos - além de desonesto.
E aí fiz o que faço às vezes e depois me arrependo: comentei no calor da raiva e usei uma hipérbole absurda, ridícula, OBVIAMENTE estúpida. Tive e tenho várias ressalvas a Marina Silva, mas é ÓBVIO que ela não está nem no mesmo universo de Jair Bolsonaro.
Como já compartilhei inúmeras vezes ao longo dos anos através de tweets, posts no FB e em textos no Cinema em Cena, tenho um histórico antigo com depressão e ideação suicida. É algo que busco discutir com frequência até mesmo para demonstrar como não deve ser tratado como tabu.
O que a família Bolsonaro fez hoje (o pai na live; o filho no twitter) é uma das ações mais repugnantes de uma trajetória já repleta de atitudes desumanas, sociopáticas. A exploração de um suicídio para fins políticos é algo que expõe as almas apodrecidas de um clã de canalhas.
Encontro-me, felizmente, em um período estável da depressão; há dias melhores e outros piores, mas há um bom tempo não tenho uma crise profunda, mais perigosa. E MESMO ASSIM o que ocorreu hoje me tirou do prumo, me chacoalhou. Imagino o efeito sobre quem está mais vulnerável.
Não há nem como expressar a gravidade de Bolsonaro, este desgraçado miliciano, ler uma carta de suicídio deixada por alguém que se matou na pandemia (se for verdade; nada vindo dele é confiável). Há estudos e mais estudos confirmando como isto é um gatilho perigosíssimo.
Há protocolos adotados inclusive pela imprensa em todo mundo para noticiar suicídios porque é algo com potencial para levar a mais mortes, para derrubar aqueles que já estão à beira do precipício. Bolsonaro é uma criatura abominável; NUNCA perdoarei aqueles que o elegeram. Nunca.
E o filho dele, que é igualmente repugnante, colocou a carta no twitter e a foto da pessoa. Denunciem, denuciem, denuciem, denuciem.
Há alguns detalhes ali que me chamam muito a atenção, como a maneira como se programaram para vazar uma informação em dois momentos para gerar "duas repercussões" JÁ CONTANDO que Moro levantaria o sigilo na hora combinada.
Mas o mais chocante é a imensidão de dinheiro público e de recursos que eles desperdiçaram por darem atenção a uma fake news. Esse era o nível da equipe de ases investigativos comandados por @deltanmd: um bando de aspirantes a Sherlock Holmes que eram na verdade Projotas.