O Estado produz agentes para o crime. Os seguranças que protegiam o miliciano Adriano da Nóbrega e sua família eram egressos das fileiras da PM do Rio. Como Adriano, todos caíram no submundo após serem excluídos da corporação por cometerem crimes. extra.globo.com/casos-de-polic…
Os laços dos agentes com o chefe do Escritório do Crime foram descobertos graças a ligações telefônicas interceptadas. Na semana passada, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados a todos eles. Na reportagem, levantei a trajetória de cada um deles.
Um deles é Valdemi Gomes Júnior, o Cabeça, apontado pelo MP como "uma espécie de 'faz tudo' de Adriano e sua família, sendo seu homem de confiança". Cabeça foi expulso da PM após ser condenado, em 2006, a 19 anos de prisão por um homicídio cometido em serviço.
O crime aconteceu em julho de 2001, em Jacarepaguá. Dois homens foram sequestrados pela patrulha integrada por Cabeça durante uma abordagem policial. Uma arma foi encontrada no carro, e os PMs tentaram negociar R$ 500 para que a dupla fosse liberada. A dupla não tinha o valor.
Segundo a investigação, Cabeça foi o responsável por matar Marcos Vinicius de Oliveira, um dos jovens capturados. O outro jovem, Marcelo da Cruz, fugiu em meio aos disparos. Cruz desapareceu meses depois após ser sequestrado a caminho do fórum para uma audiência do processo.
Dois celulares de Cabeça foram interceptados durante a investigação. O ex-PM foi flagrado em conversas com as duas irmãs de Adriano. Numa delas, em junho de 2019, ele chegou a afirmar que faria uma "missão" em Rio das Pedras, reduto de seu chefe.
Ao todo, foram identificados 3 ex-PMs que trabalhavam como guarda-costas do miliciano e de suas irmãs. Outros 2 PMs da ativa que trabalhavam para a família também foram identificados — ambos morreram durante a investigação. Conto as histórias de todos na reportagem.
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O general Walter Braga Netto, novo ministro da Defesa, tinha cargos de comando em episódios graves de violações de direitos humanos, em que seus comandados foram acusados de homicídios e tortura. Até hoje, nenhum militar foi punido pelos casos 👇
O primeiro foi a Chacina do Salgueiro, em novembro de 2017. Braga Netto era Comandante Militar do Leste. Oito pessoas morreram durante operação das Forças Especiais do Exército e da Polícia Civil na favela de São Gonçalo.
As investigações concluíram que ninguém matou as vítimas. Isso mesmo: o caso foi arquivado sob o argumento de que nem militares nem policiais civis atiraram naquele dia. Um sobrevivente, entretanto, acusa militares de terem atirado de dentro de uma mata na direção das vítimas.
Um assassinato num terreiro, um depoimento bombástico e um inquérito que vagou por 10 anos por gavetas de autoridades. No @jornalextra, conto a trajetória de impunidade de um “intocável”, o sargento PM Luiz Martins, braço direito de Adriano da Nóbrega. extra.globo.com/casos-de-polic…
O bicheiro José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, genro do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, foi executado em setembro de 2011 dentro de um terreiro em Jacarepaguá. 11 dias depois, uma testemunha ocular apontou o sargento como um dos criminosos que invadiram o local.
A testemunha disse que reconheceu a voz do PM. Contou que "conversou com Luiz várias vezes, até porque o conhecia há anos". Ainda disse que Martins "havia sido segurança de Zé Personal” e, até pouco antes do crime, "atuava como gerente das máquinas caça-níquel".
Tráfico e milícia avançam sobre empreendimentos do MCMV no Rio: invasões a condomínios se espalham por 24 cidades. Isso é muito triste. Milhares de famílias pobres depositaram sonhos nas mãos do Estado, que é incapaz de retomar o controle dos conjuntos. extra.globo.com/casos-de-polic…
Esses condomínios foram construídos com dinheiro público. Alguns não têm nem um ano de inauguração. Os casos de moradores expulsos por criminosos se multiplicam, assim como guerras entre facções dentro dos conjuntos. Só em Maricá, ja são duas chacinas de 2018 para cá.
Em 2015, eu e Luã Marinatto revelamos no @jornalextra que todos os conjuntos do MCMV na cidade do Rio eram controlados por tráfico ou milícia. Série foi resultado de 6 meses de apuração. Passados 6 anos, a situação piorou: invasões se espalham pelo estado. extra.globo.com/casos-de-polic…
Levantei todos os processos em que o Estado do Rio foi condenado, em 2020, por má conduta de policiais: 81 pessoas ganharam direito a indenizações que, somadas, chegam a R$ 8,3 milhões — ou só 5% do que a família de George Floyd receberá de Minneapolis. extra.globo.com/casos-de-polic…
Ao todo, 18 dos beneficiados são vítimas que foram feridas e conseguiram sobreviver e 63 são parentes de 23 mortos em ações de agentes de segurança no Rio — policiais militares, civis e inspetores penitenciários.
No Rio, a indenização mais alta arbitrada pela Justiça num caso de morte pela polícia no ano passado foi de R$ 400 mil. A mais baixa foi de R$ 30 mil para irmãos de um religioso morto em 2001 por PMs quando voltava para casa depois de um culto, em São Gonçalo.
Para encerrar o assunto, compartilho trecho da nota da Editora Globo sobre o vídeo compartilhado pela PM e aproveito para expor a metodologia da apuração.
"A reportagem atacada pela PM usa dados oficiais da própria corporação para mostrar o aumento do consumo de munição. (+)
A matéria foi feita com base nos “mapas de munição”, produzidos quinzenalmente por cada batalhão para contabilizar a quantidade de projéteis descartada após uso e em depósito. Foram analisados os “mapas de munição” de julho, setembro e novembro. (+)
No mapa da segunda quinzena de novembro, produzido no início de dezembro, consta que havia 810 projéteis de fuzil calibre 556 e 2.449 projéteis de fuzil calibre 762 em processo de eliminação, por uso “em serviço”. (+)
O consumo de munição do 15º BPM (Duque de Caxias), onde são lotados os PMs investigados pelos homicídios das meninas Emilly e Rebeca, explodiu nos últimos meses. Em novembro, a unidade descartou 6.238 cartuchos de fuzil usados por agentes em serviço. extra.globo.com/casos-de-polic…
A quantidade é 75% maior do que a eliminada em setembro e mais de três vezes maior do que a eliminada em julho, quando 1.479 cartuchos foram descartados. A eliminação de munição se dá, na maioria das vezes, até dois meses após seu uso.
Todos os dados estão em mapas de munição do batalhão que obtive. A explosão no uso de munição pelo 15º BPM acontece paralelamente ao aumento de mortes em ações da polícia na região patrulhada pelo batalhão. De setembro para outubro, os casos passaram de 5 para 12.