O general Walter Braga Netto, novo ministro da Defesa, tinha cargos de comando em episódios graves de violações de direitos humanos, em que seus comandados foram acusados de homicídios e tortura. Até hoje, nenhum militar foi punido pelos casos 👇
O primeiro foi a Chacina do Salgueiro, em novembro de 2017. Braga Netto era Comandante Militar do Leste. Oito pessoas morreram durante operação das Forças Especiais do Exército e da Polícia Civil na favela de São Gonçalo.
As investigações concluíram que ninguém matou as vítimas. Isso mesmo: o caso foi arquivado sob o argumento de que nem militares nem policiais civis atiraram naquele dia. Um sobrevivente, entretanto, acusa militares de terem atirado de dentro de uma mata na direção das vítimas.
Ao longo da investigação, o depoimento do sobrevivente foi desacreditada pelo Ministério Público Militar, apesar de diversos documentos internos do Exército corroborarem sua versão. Contei toda essa história aqui: epoca.globo.com/rio/as-camadas…
Outro caso que aconteceu durante comando de Braga Netto foram as acusações de tortura no quartel da 1ª Divisão de Exército, no Rio, em 20 de agosto de 2018. Braga Netto era interventor federal na segurança do Rio à época. Publiquei essa história aqui: epoca.globo.com/de-maos-atadas…
Dez homens detidos numa operação do Exército no Complexo da penha contaram, em depoimentos prestados a três juízes e a defensores públicos, que foram submetidos a sessões de tortura que começaram ainda na favela, pela manhã, e se estenderam pelo restante do dia no quartel.
Os homens ficaram 17 horas nas mãos dos militares, antes de serem apresentados a uma delegacia de polícia. Nos relatos, eles narram que foram agredidos numa "sala vermelha" do quartel com chutes, socos e madeiradas, levaram choques elétricos e jatos de spray de pimenta no rosto.
Laudo elaborado por peritos do Instituto Médico Legal (IML) a pedido da Defensoria Pública seguindo o Protocolo de Istambul corroboram os relatos dos presos, afirmam que suas versões são compatíveis com as lesões que apresentavam.
Até hoje, a investigação segue em andamento. Nenhum militar foi punido. Sete dos jovens que denunciaram a sessão de tortura ainda respondem, na Justiça Militar, por tentativas de homicídio contra os militares. Braga Netto nunca deu declarações públicas sobre os dois casos.
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Um assassinato num terreiro, um depoimento bombástico e um inquérito que vagou por 10 anos por gavetas de autoridades. No @jornalextra, conto a trajetória de impunidade de um “intocável”, o sargento PM Luiz Martins, braço direito de Adriano da Nóbrega. extra.globo.com/casos-de-polic…
O bicheiro José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, genro do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, foi executado em setembro de 2011 dentro de um terreiro em Jacarepaguá. 11 dias depois, uma testemunha ocular apontou o sargento como um dos criminosos que invadiram o local.
A testemunha disse que reconheceu a voz do PM. Contou que "conversou com Luiz várias vezes, até porque o conhecia há anos". Ainda disse que Martins "havia sido segurança de Zé Personal” e, até pouco antes do crime, "atuava como gerente das máquinas caça-níquel".
O Estado produz agentes para o crime. Os seguranças que protegiam o miliciano Adriano da Nóbrega e sua família eram egressos das fileiras da PM do Rio. Como Adriano, todos caíram no submundo após serem excluídos da corporação por cometerem crimes. extra.globo.com/casos-de-polic…
Os laços dos agentes com o chefe do Escritório do Crime foram descobertos graças a ligações telefônicas interceptadas. Na semana passada, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados a todos eles. Na reportagem, levantei a trajetória de cada um deles.
Um deles é Valdemi Gomes Júnior, o Cabeça, apontado pelo MP como "uma espécie de 'faz tudo' de Adriano e sua família, sendo seu homem de confiança". Cabeça foi expulso da PM após ser condenado, em 2006, a 19 anos de prisão por um homicídio cometido em serviço.
Tráfico e milícia avançam sobre empreendimentos do MCMV no Rio: invasões a condomínios se espalham por 24 cidades. Isso é muito triste. Milhares de famílias pobres depositaram sonhos nas mãos do Estado, que é incapaz de retomar o controle dos conjuntos. extra.globo.com/casos-de-polic…
Esses condomínios foram construídos com dinheiro público. Alguns não têm nem um ano de inauguração. Os casos de moradores expulsos por criminosos se multiplicam, assim como guerras entre facções dentro dos conjuntos. Só em Maricá, ja são duas chacinas de 2018 para cá.
Em 2015, eu e Luã Marinatto revelamos no @jornalextra que todos os conjuntos do MCMV na cidade do Rio eram controlados por tráfico ou milícia. Série foi resultado de 6 meses de apuração. Passados 6 anos, a situação piorou: invasões se espalham pelo estado. extra.globo.com/casos-de-polic…
Levantei todos os processos em que o Estado do Rio foi condenado, em 2020, por má conduta de policiais: 81 pessoas ganharam direito a indenizações que, somadas, chegam a R$ 8,3 milhões — ou só 5% do que a família de George Floyd receberá de Minneapolis. extra.globo.com/casos-de-polic…
Ao todo, 18 dos beneficiados são vítimas que foram feridas e conseguiram sobreviver e 63 são parentes de 23 mortos em ações de agentes de segurança no Rio — policiais militares, civis e inspetores penitenciários.
No Rio, a indenização mais alta arbitrada pela Justiça num caso de morte pela polícia no ano passado foi de R$ 400 mil. A mais baixa foi de R$ 30 mil para irmãos de um religioso morto em 2001 por PMs quando voltava para casa depois de um culto, em São Gonçalo.
Para encerrar o assunto, compartilho trecho da nota da Editora Globo sobre o vídeo compartilhado pela PM e aproveito para expor a metodologia da apuração.
"A reportagem atacada pela PM usa dados oficiais da própria corporação para mostrar o aumento do consumo de munição. (+)
A matéria foi feita com base nos “mapas de munição”, produzidos quinzenalmente por cada batalhão para contabilizar a quantidade de projéteis descartada após uso e em depósito. Foram analisados os “mapas de munição” de julho, setembro e novembro. (+)
No mapa da segunda quinzena de novembro, produzido no início de dezembro, consta que havia 810 projéteis de fuzil calibre 556 e 2.449 projéteis de fuzil calibre 762 em processo de eliminação, por uso “em serviço”. (+)
O consumo de munição do 15º BPM (Duque de Caxias), onde são lotados os PMs investigados pelos homicídios das meninas Emilly e Rebeca, explodiu nos últimos meses. Em novembro, a unidade descartou 6.238 cartuchos de fuzil usados por agentes em serviço. extra.globo.com/casos-de-polic…
A quantidade é 75% maior do que a eliminada em setembro e mais de três vezes maior do que a eliminada em julho, quando 1.479 cartuchos foram descartados. A eliminação de munição se dá, na maioria das vezes, até dois meses após seu uso.
Todos os dados estão em mapas de munição do batalhão que obtive. A explosão no uso de munição pelo 15º BPM acontece paralelamente ao aumento de mortes em ações da polícia na região patrulhada pelo batalhão. De setembro para outubro, os casos passaram de 5 para 12.