Um FIO com fontes e dados para não deixar dúvida que:
- O golpe de 1964 foi um GOLPE
- A ditadura que se seguiu foi uma DITADURA, sangrenta e autoritária
- O período foi de desordem, concentração de renda, desmonte da proteção social e aumento da pobreza. 👇
Em seu discurso de posse como presidente após o golpe de 1964, o general Castello Branco prometeu “entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu sucessor legitimamente eleito pelo povo em eleições livres, uma nação coesa”.
O Brasil só pôde votar para presidente 25 anos depois.
Esta citação está no 1º tomo de "As Ilusões Armadas", de Elio Gaspari. O jornalista demonstra como as rupturas foram regra, definindo a “anarquia militar”: uma sucessão de golpes internos e emparedamentos em busca do poder, depois que as regras democráticas foram abandonadas.
A ditadura foi marcada pela violação de direitos humanos, assassinatos políticos e tortura por agentes do Estado. Foram:
434 mortos e desaparecidos listados
210 vítimas que continuam desaparecidas
377 agentes de Estado apontados como responsáveis
Números da Comissão Nacional da Verdade, que investigou as violências da Ditadura por 31 meses e ouviu 1.116 depoimentos. O relatório, com descrição dos métodos de espionagem, tortura, execução – inclusive de crianças –, pode ser lido na íntegra aqui: cnv.memoriasreveladas.gov.br
A ditadura produziu extrema concentração de renda e aumento da pobreza. Um dos primeiros efeitos do golpe foi estancar as reivindicações por melhorias salariais e de direitos trabalhistas que cresciam no país, graças à intervenção em sindicatos e proibição do direito de greve.
Como resultado, a produtividade da indústria crescia, enquanto os salários ficavam estagnados, já que aos trabalhadores foi cerceado o direito à reivindicação salarial. Na indústria automobilística, a produtividade cresceu cerca de 3x mais que os salários entre 66 e 74 (1).
Entre 1960 e 1989, os 10% mais pobres no BR reduziram sua participação na renda total de 1,9% para 0,6%, ao passo que os 10% mais ricos cresceram sua participação de 39.6% para 52.2%, em um escandaloso processo de favorecimento ao topo da pirâmide (2).
A ditadura precarizou os serviços públicos, drenando recursos para grandes obras de engenharia. No governo de Castello Branco, uma nova Constituição desobrigou o governo a investir coeficientes mínimos em educação e saúde (qualquer semelhança com Paulo Guedes não é coincidência).
Como resultado, o orçamento do MEC foi ladeira abaixo, saindo de 10,6% dos gastos da União em 1965 para 4,3% em 1975. Os gastos com Saúde foram de 4,29% em 1966 para 0,99% do orçamento da União em 1974 (3). Já imaginaram uma pandemia numa situação dessas?
Todo esse processo resultou na piora contínua da condição de vida das massas, com os salários comprimidos, os serviços públicos precarizados, falta de habitação e inchaço das cidades. A miséria, violência e pobreza extrema dos anos 1980 são resultado da ditadura.
Quando foi iniciada a transição, o regime dificilmente tinha outra opção. O mal-estar social era enorme. Os militares devolveram o país com inflação galopante, economia estacionada e uma das maiores taxas de desigualdade econômica do mundo.
Fontes: 1) Oliveira, Francisco e Popoutchi, Maria A.T., Transnacionales en América Latina: el complejo automotor en Brasil, Cidade do México, Editorial Nueva Imagen, 1979, p. 83. 2) Bonelli, R. e Sedlaceck, G. Distribuição de Renda: Evolução no Último Quarto de Século...
... IPEA/INPES, TDI, no. 145, 1988, para os anos 1960, 1970 e 1980. 3) CAMPOS, Pedro Henrique. A Ditadura dos Empreiteiros: as empresas nacionais de construção pesada, suas formas asociativas e o Estado ditatorial brasileiro, 1964-1985. Tese de doutorado. UFF. 2012.
A ditadura foi responsável também por grandes obras rodoviárias feitas sem estudo, que produziram grandes degradações nos centros urbanos e a alegria de certas empreiteiras.
Em 1988, o país tinha ainda 18,5% de analfabetos e 70% de casas com saneamento.
Em 30 anos, o analfabetismo caiu para 7% e já são 85% das casas com acesso a saneamento.
O Salário mínimo era quase metade do valor atual em 1988. A inflação chegava a 1.000% ao ano nos últimos anos do regime militar, só sendo controlada em 1994. A expectativa de vida do povo brasileiro cresceu em 10 anos em média durante a democracia.
Ninguém definiu melhor (a falta de) cidadania brasileira que Milton Santos. Ele diz assim:
"Me pergunto se a classe média é formada de cidadãos. No Brasil não o é, porque não é preocupada com direitos, mas com privilégios."
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"A desnaturação da democracia amplia a prerrogativa da classe média, ao preço de impedir a difusão de direitos fundamentais para a totalidade da população. E o fato de que a classe média goze de privilégios, não de direitos, que impede aos outros brasileiros ter direitos."
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"E é por isso que no Brasil quase não há cidadãos. Há os que não querem ser cidadãos, que são as classes médias, e há os que não podem ser cidadãos, que são todos os demais, a começar pelos negros. Digo-o por ciência própria."
Com a adesão majoritária ao candidato de Bolsonaro na eleição da Câmara, o DEM volta a suas velhas origens: o autoritarismo reacionário. O outro nome disso é Centrão.
Um fio 🧶
Centrão talvez seja o termo mais mal compreendido no debate político brasileiro. Há quem o confunda com centro político ou centro-direita – uma aberração e uma incorreção. A relação com fisiologismo é correta, mas o Centrão é mais do que isso. Vamos à história.
Oficialmente o Centrão surge em 1987, durante a Assembleia Nacional Constituinte. Era composto principalmente por deputados do DEM e do PDS (partidos de sustentação da ditadura) e pela direita do MDB, que àquela altura estava coalhado de ex-apoiadores do regime.
A Ford anunciou hoje que vai fechar suas fábricas no Brasil. Além de toda a questão econômica, há um grande impacto simbólico. É o fim de uma era.
Fio 🚗🚙🚕
A fábrica da Ford revolucionou o status social do automóvel. No início do século 20, o carro era um artigo de luxo: caro, elitista e complexo de fabricar. Poucos imaginavam que poderia ser massificado. Até que em 1908…
… Henry Ford apresentou seu modelo T, lançado como um veículo popular. Em um ano, 10.000 unidades circulavam nos EUA. Vinte anos depois, 15 milhões de unidades haviam sido vendidas mundo afora. Graças à gigantesca fábrica de Detroit e à linha de montagem, instalada em 1913.