Na semana passada dei uma palestra sobre jornalismo a alunos da Universidade de Lyon, na França. A certa altura me fizeram uma pergunta inusitada, que eu acho que vale a pena comentar aqui: como lido pessoalmente com o volume de notícias deprimentes?
De forma simples: eu lido de frente. Leio, ouço, presto atenção de verdade. Mas, uma vez que entendi a informação, eu largo ela. E acho que essa é uma grande diferença entre quem lida com as notícias de modo profissional, como os jornalistas, e os que lidam de forma só pessoal.
Chega uma hora em que não há fato novo. Tudo o que se sabe sobre aquele assunto está publicado. Toma algum tempo até que haja novidades. Até lá, eu não fico regurgitando e engolindo a mesma meia dúzia de fatos que começam a jorrar a cada novo post, como água suja numa fonte.
Esse processo de reprocessar as informações na forma de análises, opiniões, campanhas, memes, posts e indignações, é que, para mim, provoca exaustão. Então, uma vez que eu entendi o fato, eu sinto a temperatura nas redes e, em seguida, largo aquilo por algum tempo.
Exemplo: crise na cúpula militar. A informação foi pobre. Se sabia pouco. As opiniões eram ruins. Coloquei alerta para mensagens do Moruão, do Heleno, do Santos Cruz e de mais alguns. Eram atores relevantes a se escutar. Nas TVs, os comentários eram repetitivos. Larguei um pouco.
Quando a informação mingua, o engajamento nas redes sociais cai. Então, as pessoas começam a postar suas dúvidas e angústias sobre o assunto. Normalmente, os piores cenários são os que geram os maiores engajamentos. As redes são movidas a susto e a maus agouros.
Há uma distância grande entre se alienar e se engajar. As redes sociais limaram muito dessa distância. Perdemos o meio termo. Mas é preciso recuperar, saber dosar, para se manter atento, no jogo. Como achei a pergunta interessante, achei que valia o comentário.
Tenho visto muitos colegas afogados em angústia no trabalho cotidiano. São notícias muito tristes. Cada um terá seu método para levar a vida: álcool, meditação, é pessoal. Mas deixo essa dica, para quem quer evitar cair na hipnose do movimentismo noticioso.
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Saiu o discurso de posse do novo chanceler, Carlos Alberto Franco França. Minhas observações:
1. Frio com seu antecessor, Ernesto Araújo, ao qual apenas agradeceu pelo "apoio na transição". Ponto.
2. Disse que tem três prioridades: pandemia, economia e meio ambiente. Comparando com o tripé religião, comunismo e terra plana de Ernesto, o novo chanceler parece um revolucionario da normalidade.
Fico meio sem jeito de fazer longas threads aqui, porque a coisa acaba tendo um tom pedante e professoral, mas talvez seja importante correr esse risco para explicar que há um ponto possível de convergência entre os que discordam sobre o que aconteceu em 1964.
Esse ponto de convergência se chama DIH (Direito Internacional Humanitário). Também é conhecido no meio militar como Dica (Direito Internacional dos Conflitos Armados), ou você também encontra como simplesmente Direito da Guerra. O que é isso?
É um corpo de normas internacionais criadas no século 19 e aperfeiçoadas ao longo do tempo para regular a forma como as guerras podem e não podem ser travadas. Inicialmente, tratava apenas de guerras internacionais. A partir dos anos 70, passou a ser aplicável também internamente
Carlos Alberto Franco França será, então, o novo chanceler do Brasil. É descrito por um colega de Itamaraty como “pessoa querida na instituição, hábil no trato e preparado”, além de ser de “absoluta confiança do presidente”.
Novo chanceler passou anos trabalhando no cerimonial do Itamaraty. Fora do Brasil, trabalhou principalmente em temas de relação energética Brasil-Bolivia, que pode voltar à pauta no governo Arce.
De 2015 a 2017, afastado temporariamente do serviço público, foi diretor de Assuntos Corporativos e Negócios Estrangeiros da AG SA, subsidiária da Andrade Gutierrez.
TVs brasileiras deviam veicular massivamente campanhas educativas sobre como lavar as mãos corretamente, quais as máscaras que realmente funcionam, como usá-las. Esse mesmo conteúdo deveria estar sendo bombardeado nas redes, em anúncios pagos pela Fiesp, por empresas privadas ...
Se a sociedade brasileira como um todo não se mobilizar, não adianta. Bolsonaro é uma parte gigantesca do problema, nas não é tudo. A sobrevivência depende em grande medida de atos individuais, que precisam sem ensinados, difundidos, martelados exaustivamente.
Distribuição de máscara e de álcool gel, entregas de sabonete em comunidades carentes, cestas básicas, botijões de gás, marmitas, o diabo. Toda pessoas que não estiver fazendo uma contribuição mensal para algum projeto efetivo, está sendo, hoje, parte do problema, não da solução.
Se não houvesse uma pandemia, teríamos de inventá-la? Se não fosse a covid-19, estaríamos experienciando a mesma sensação apocalíptica em relação a algum outro evento, como as mudanças climáticas ou ao colapso da democracia, como o mesmo temor e ansiedade?
Para além da realidade que se impõe – e, claro, a pandemia é real –, somos parte de uma geração abduzida por um compromisso atávico com a escatologia, no sentido da reflexão exaustiva e indignada sobre o fim, o término, a extinção da própria experiência na Terra?
Essas perguntas não são a negação da realidade que estamos experimentando, mas são uma tentativa de pensar na maneira como nós processamos as experiências extremas que estamos vivendo, cada um a seu modo.
O prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), é um caso a ser investigado. No início de março, foi contra o lockdown: "Não dá para ficar fechado" por causa das "perdas de arrecadação" no município. Agora, anunciou o colapso total do sistema de saúde do município. 1/4
Em 5 de março: "A taxa de ocupação de UTIs é baixíssima, temos só duas pessoas intubadas, uma há mais de 20 dias e a outra intubada ontem”. Nove dias depois: "Não tem mais vaga na UTI de São Sebastião e não temos mais médicos intensivistas para atender a essa grande demanda." 2/4
Em 5 de março: "Não dá para ficar fechado." Nove dias depois: dos 20 internados na UTI, 11 estão intubados. As vagas de emergência zeraram. Dos 53 pacientes, 15 eram crianças. 3/4