Falando com a @lukissima me bateu uma nostalgia do "pago". Nascido e criado em Porto Alegre, faz quase 5 anos que apeei o pingo em terras nordestinas.
Aí fui cavar uma coleção de citações sobre Porto Alegre, dêem uma olhada:
Prefácio da edição brasileira de "Linhagens do presente", de Aijaz Ahmad, 2002.
Prefácio da edição brasileira de "Democracia contra capitalismo", da Ellen Meiksins Wood. 2002 também.
Página 148 do livro "Como ser anticapitalista no século XXI", do Erik Olin Wright. O livro é de 2019.
Cada vez mais me convenço que o olhar dos estrangeiros para Porto Alegre, em especial da esquerda, era excessivamente esperançoso. Ninguém tinha como saber que a cidade ia se tornar um reduto do núcleo duro do fascismo 15 anos depois, mas...
... talvez seja exatamente isso que me encafife. O limite dos projetos progressistas e democráticos precisa ser estudado mesmo, precisa ser compreendido. Porto Alegre é, pra mim, símbolo de uma derrota imensa.
Afinal, é a cidade onde nasci e me criei. Uma cultura alternativa foda desde os anos 1980, intensas mobilizações políticas, um centro sensacional...mas também foi a cidade do Fórum da Liberdade, do Lasier Martins, de uma direita fascistoide bem próxima dessa que tá no poder hoje.
Como eu disse pra @lukissima , o astrólogo da Virgínia escrevia no jornal mais vendido domingo sim, domingo não. Os programas de rádio debatiam se o comunismo petista era satanista. O PDT era a principal força eleitoral da direita.
FARSUL mandava latifundiários receberem sem terra à bala. FIERGS organizou a debandada industrial da capital gaúcha para as cidades ao redor (a grande Porto Alegre, que hoje já é quase maior que a própria). Isso tudo também era anos 1990 no RS.
Abro para uma lembrança triste aqui: uma professora de química no meu ensino médio, indignada com a construção de habitações populares perto da FABICO com banheiro, falando EM AULA que pobre nem sabia usar a privada.
Porto Alegre da Restinga, do maior bairro da América Latina. De um apartheid brutal que fui percebendo ao longo do ensino médio, conforme fui saindo da minha bolha e a renda da minha família foi caindo...
Essa Porto Alegre de luta de classes constantes viu grandes vitórias, mas o germe das nossas atuais derrotas, mano...ele tava todo lá. Como eu disse, não é à toa que o empresariado de lá é ainda tão bolsonarista.
Portinho talvez seja hostil demais pra mim hoje, mas ainda há muitos amores e amoras por lá, e ainda quero levar o Tupaquinho na Redenção. Mas por ora, tô nostálgico da época que o nosso norte tava no sul mesmo.
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Vocês podem até duvidar do meu comunismo, que eu não sou bolchevique e coisa e tal.
Mas não duvidem do meu jacobinismo, que ele é sincero.
Regicídio é cool!
Claro que regicídio bom é aquele que garante que não vai ter mais família real e monarquia. Como o pessoal aí de cima aprendeu depois (a duras penas), depois os principezinhos crescem e resolvem se vingar.
Destaco também que comunistas e anarquistas elevaram o jogo do regicídio no século XX. Em alguns casos, pra melhor.
Quem já foi meu aluno sabe, mas o fato de acreditarmos que os faraós do Egito estão diretamente ligados ao Estado-nação egípcio do século XX-XXI é um ótimo exemplo de orientalismo.
Isso porque aprendemos que o Egito Antigo é uma espécie de berço da chamada "civilização ocidental". Mas onde o Egito "estagnou", o mundo greco-romano o superou.
Tem uma pá de erros aí. Mas o que mais eu gosto de salientar é que Egito é uma designação territorial e historicamente datada. As mudanças culturais nesse território, que nada mais é do que a passagem terrestre Ásia-África, são imensas ao longo dos milênios.
Acho impressionante o medo que as pessoas têm de que surja uma agenda política que simplesmente queira responsabilizar a direita por ter se abraçado no verme.
Esse pânico geralmente tá disfarçado na ideia de que não pode falar nada porque senão eles vão votar de novo no Bozo.
Deve ser medo de que no próximo debate que alguém vier com "e a Venezuela?" a gente pode mandar um: "e vossa excelência que foi ministro do boçal? Que tirou foto fazendo sinal de arminha feito um abobado?"
Mas a real é que esse medo de que as direitas sejam responsabilizadas tá ali, nos anos 80, quando nos acusavam de "revanchismo" quando se queria publicizar algozes e cúmplices da ditadura.
Pessoal ficou mordido porque eu disse que Ciro pode ser o melhor candidato da direita, mas isso é menos sobre o Ferreira Gomes e mais sobre a direita não-bolsonarista, que corre o risco de se tornar insignificante na próxima eleição.
Tô pensando aqui que essa direita não vai apoiar o PT ou demais partidos de esquerda porque, afinal, são partidos de esquerda.
Mas podem apoiar o PDT. Se o Ciro for maior que o partido e flexibilizar o programa desenvolvimentista, por que não?
Seria a chance de sobrevivência e relevância para gente que, se não fosse o bolsonarismo, seria basicamente refugo da política partidária - tipo o Dória. E que agora rejeita a tigela de bosta em que se refestelou...
Por essa lógica, por exemplo, os massacres do Khmer Vermelho, no Camboja, não poderiam ser chamados de genocídio, já que não foram racialmente motivados.
Os sobreviventes, contudo, discordam e há uma longa disputa, em fóruns internacionais, para que seja reconhecido como tal.
2) Esse inclusive é meu segundo ponto. Não sou especialista no tema, mas não creio que há algo como um "termo técnico" para genocídio que seja fechado. Ele é sempre alvo de disputa jurídica e geopolítica. Consigo lembrar agora da questão dos Herero e dos Nama, na atual Namíbia.