Por essa lógica, por exemplo, os massacres do Khmer Vermelho, no Camboja, não poderiam ser chamados de genocídio, já que não foram racialmente motivados.
Os sobreviventes, contudo, discordam e há uma longa disputa, em fóruns internacionais, para que seja reconhecido como tal.
2) Esse inclusive é meu segundo ponto. Não sou especialista no tema, mas não creio que há algo como um "termo técnico" para genocídio que seja fechado. Ele é sempre alvo de disputa jurídica e geopolítica. Consigo lembrar agora da questão dos Herero e dos Nama, na atual Namíbia.
Um genocídio que precede inclusive o armênio e que demorou mais de 100 anos até os alemães reconhecerem o que fizeram. Agora começa todo outro debate, em fóruns internacionais, sobre o que os alemães devem a esses povos massacrados, deixados para morrer no meio do deserto.
3) Isso me leva ao último ponto: se genocídio é conceito em disputa e se suas implicações jurídicas e geopolíticas são tão mobilizadoras, por que a gente não entra nessa disputa de sentido??? Por que ficar nas cordas, restritos ao uso técnico de um conceito?
Em outras palavras, o que se ganha e quem ganha, nas humanidades, ao transformarmos conceitos em mera tecnicalidade???
No caso do Brasil pandêmico, eu só consigo ver um vencedor. E o que ele ganha é passe livre para perpetuar a matança sem que disputemos o nome do horror.
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Acho impressionante o medo que as pessoas têm de que surja uma agenda política que simplesmente queira responsabilizar a direita por ter se abraçado no verme.
Esse pânico geralmente tá disfarçado na ideia de que não pode falar nada porque senão eles vão votar de novo no Bozo.
Deve ser medo de que no próximo debate que alguém vier com "e a Venezuela?" a gente pode mandar um: "e vossa excelência que foi ministro do boçal? Que tirou foto fazendo sinal de arminha feito um abobado?"
Mas a real é que esse medo de que as direitas sejam responsabilizadas tá ali, nos anos 80, quando nos acusavam de "revanchismo" quando se queria publicizar algozes e cúmplices da ditadura.
Pessoal ficou mordido porque eu disse que Ciro pode ser o melhor candidato da direita, mas isso é menos sobre o Ferreira Gomes e mais sobre a direita não-bolsonarista, que corre o risco de se tornar insignificante na próxima eleição.
Tô pensando aqui que essa direita não vai apoiar o PT ou demais partidos de esquerda porque, afinal, são partidos de esquerda.
Mas podem apoiar o PDT. Se o Ciro for maior que o partido e flexibilizar o programa desenvolvimentista, por que não?
Seria a chance de sobrevivência e relevância para gente que, se não fosse o bolsonarismo, seria basicamente refugo da política partidária - tipo o Dória. E que agora rejeita a tigela de bosta em que se refestelou...
O @IrlanSimoes falou pra eu tentar escrever um pouquinho sobre Suez e eu disse que não tinha muita leitura.
Mas um fiozinho dá para arriscar, né?
Então vamos lá, vou apresentar um dos maiores símbolos da história do imperialismo: o canal de Suez.
Vamos "começar pelo começo": o Egito, no século XIX, era a porta de entrada do Império britânico na Ásia. Sua importância foi tanta que, nas guerras napoleônicas, "Napo" entendeu que conquistar o Egito iria alijar a Inglaterra da Índia.
Por conta disso, a França invadiu o Egito, que na época era uma província do Império Otomano.
A retaliação conjunta de turcos e britânicos acabou expulsando os franceses, mas deixou a Inglaterra ciosa de que o Egito não poderia jamais cair nas mãos dos seus inimigos.
Aliás, a história do canal de Suez é maravilhosa, é puro suco de imperialismo do século XIX. Franceses resolvem montar o canal, conseguem apoio de um governo fantoche do pashá egípcio, o seu sucessor vê que o troço é um elefante branco e vende para os ingleses...
...aí o canal passa a dar lucro imediato.
Como? Simples, os britânicos boicotaram o canal, mudando o sistema internacional de tonelagem de navios, diminuindo a arrecadação tributária da empresa.
Nem vou entrar depois no quesito independência egípcia, governo Nasser e o papel de ingleses e franceses, junto com Israel, para impedir a nacionalização do canal - num raro caso da Guerra Fria em que EUA e URSS se uniram para defender a soberania egípcia.
Obs: alimentação é campo do profano e do sagrado, então a ideia aqui é menos discutir gosto e sim ver como a nossa imprensa lidou com casos de aumento de preços com manchetes "positivas", apelando para mudanças em hábitos alimentares.
Isto posto, vamos lá:
1) "Quando é seguro comer pão, queijo e outros alimentos mofados" - Folha de São Paulo.