Hoje entram em vigor novas regras de trânsito, aprovadas pelo governo de Jair Bolsonaro no Congresso.

O Brasil, que tem um dos trânsitos mais violentos do mundo, verá essa carnificina aumentar.

Um fio 👇
O Brasil tem a maior taxa de mortes por acidentes de trânsito da América Latina. No quesito matança nas estradas, estamos à frente de TODOS os nossos vizinhos e de praticamente todos os países da Ásia, da Europa e da América do Norte.

en.wikipedia.org/wiki/List_of_c…
Nem sempre foi assim. Até a década de 1950, os trens transportavam parte relevante das cargas e das pessoas no país. Esse é um modo de deslocamento de baixo percentual de acidentes. A rodoviarização excessiva do Brasil, acelerada na ditadura, está no centro do problema.
Além da alta rodoviarização, há quatro fatores relevantes para altas taxas de mortes:
- Más condições de estradas
- Políticas de segurança no trânsito frágeis
- Tolerância com altas velocidades
- Má fiscalização
As condições de estradas variam de acordo com a condição econômica dos países. Mas, mesmo países que tem boas estradas, como os Estados Unidos, têm taxas de mortes relativamente altas (uma das maiores do mundo rico), devido à tolerância com altas velocidades.
Via de regra, o controle de velocidade costuma reduzir significativamente acidentes e mortes. Isso é comprovado em diversos estudos empíricos. Ocorre que a redução de velocidade demanda fiscalização e controle. E as novas regras de trânsito afrouxam o controle e as punições.
Ao aumentar os pontos das carteiras de motorista, as novas regras de trânsito estimulam os motoristas a cometerem mais infrações: a furarem sinais e excederem a velocidade. Os estudos empíricos já mostraram que o resultado será aumento imediato de acidentes e mortes.
Quando Dória aumentou a velocidade nas marginais em São Paulo, o resultado imediato foi o aumento de mortes e acidentes. Em fevereiro e março de 2017, esse aumento foi de 51% em relação ao ano anterior, quando as velocidades eram mais baixas. Infelizmente, isso já era previsto.
Na década de 1980, o pesquisador Goran Nilsson concluiu que o aumento de 1km/h em vias de até 50km/h resulta no aumento de 4% de acidentes. Se a fórmula fosse aplicada ao aumento médio de 13km/h nas marginais paulistanas, o crescimento de seria de 52%. 1% a mais que o ocorrido.
Há diversos estudos que demonstram correlação entre aumento de velocidade e aumento de acidentes e mortes. As novas regras de trânsito operam como a versão bolsonarista para o aumento de velocidades: ampliando a margem para que os motoristas possam desrespeitar as regras.
Segundo dados da ONG InfoSiga, apenas 6,4% dos acidentes graves no estado de SP ocorreram com motoristas mulheres no ano de 2017, contra quase 94% dos homens. A alta velocidade, a furação de sinal e a matança resultante são empreitadas da masculinidade.
Se esse governo não destruir os dados do Datasus que hoje registram as mortes por acidentes de trânsito, em alguns anos veremos as taxas subirem. À matança da pandemia que, espera-se, vai acabar, o atual governo quer amplificar a carnificina permanente nas estradas.
Escrevi um ensaio mais longo sobre a história dos acidentes de trânsito no Brasil, as políticas a favor da contravenção de Jair Bolsonaro e os modos de distinção e violência que prosperam nas ruas no Brasil.

piaui.folha.uol.com.br/materia/jeitin…
Car@s, uma tragédia de longo prazo que fica ofuscada pelo amontoado de tragédias: @raquelrolnik @biancatavolari @DanielGuth @calabriageo @hannaharcuschin @GuiTampieri @gduvivier @torturra @thiamparo @_danielsantini @BetoFMV @conradohubner

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8 Apr
A elite brasileira se fez na escravidão. Sempre usou do Estado para manter seus privilégios. Encheu os bolsos na última ditadura, às custas de mortes e tortura. Ontem, alguns de seus próceres ovacionaram o presidente genocida, enquanto hospitais colapsam e 4 mil morrem ao dia.
Alguns dos empresários presentes no apoio ao genocídio: Rubens Ometto, da Cosan, Claudio Lottenberg, presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil), André Esteves, do BTG Pactual, Alberto Saraiva, do Habib's, e João Camargo, do grupo Alpha.

www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/0…
Lista mais completa de empresários ovacionadores do genocida presentes na festinha de ontem:

André Esteves (BTG);
Alberto Leite (FS Security);
Alberto Saraiva (Habib’s);
Candido Pinheiro (Hapvida);
Carlos Sanchez (EMS);
Claudio Lottenberg (Hospital Albert Einstein);

Segue..
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31 Mar
O Brasil que a ditadura militar nos legou

VERSUS

o Brasil que a democracia construiu até 2018

Em 7 infográficos 👇
Em 1988, o país tinha ainda 18,5% de analfabetos e 70% de casas com saneamento.

Em 30 anos, o analfabetismo caiu para 7% e já são 85% das casas com acesso a saneamento.
O Salário mínimo era quase metade do valor atual em 1988. A inflação chegava a 1.000% ao ano nos últimos anos do regime militar, só sendo controlada em 1994. A expectativa de vida do povo brasileiro cresceu em 10 anos em média durante a democracia.
Read 6 tweets
31 Mar
Um FIO com fontes e dados para não deixar dúvida que:

- O golpe de 1964 foi um GOLPE
- A ditadura que se seguiu foi uma DITADURA, sangrenta e autoritária
- O período foi de desordem, concentração de renda, desmonte da proteção social e aumento da pobreza. 👇

#DitaduraNuncaMais
Em seu discurso de posse como presidente após o golpe de 1964, o general Castello Branco prometeu “entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu sucessor legitimamente eleito pelo povo em eleições livres, uma nação coesa”.

O Brasil só pôde votar para presidente 25 anos depois.
Esta citação está no 1º tomo de "As Ilusões Armadas", de Elio Gaspari. O jornalista demonstra como as rupturas foram regra, definindo a “anarquia militar”: uma sucessão de golpes internos e emparedamentos em busca do poder, depois que as regras democráticas foram abandonadas.
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24 Feb
Ninguém definiu melhor (a falta de) cidadania brasileira que Milton Santos. Ele diz assim:

"Me pergunto se a classe média é formada de cidadãos. No Brasil não o é, porque não é preocupada com direitos, mas com privilégios."

+
"A desnaturação da democracia amplia a prerrogativa da classe média, ao preço de impedir a difusão de direitos fundamentais para a totalidade da população. E o fato de que a classe média goze de privilégios, não de direitos, que impede aos outros brasileiros ter direitos."

+
"E é por isso que no Brasil quase não há cidadãos. Há os que não querem ser cidadãos, que são as classes médias, e há os que não podem ser cidadãos, que são todos os demais, a começar pelos negros. Digo-o por ciência própria."

Milton Santos, em Cidadanias Mutiladas
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1 Feb
Com a adesão majoritária ao candidato de Bolsonaro na eleição da Câmara, o DEM volta a suas velhas origens: o autoritarismo reacionário. O outro nome disso é Centrão.

Um fio 🧶
Centrão talvez seja o termo mais mal compreendido no debate político brasileiro. Há quem o confunda com centro político ou centro-direita – uma aberração e uma incorreção. A relação com fisiologismo é correta, mas o Centrão é mais do que isso. Vamos à história.
Oficialmente o Centrão surge em 1987, durante a Assembleia Nacional Constituinte. Era composto principalmente por deputados do DEM e do PDS (partidos de sustentação da ditadura) e pela direita do MDB, que àquela altura estava coalhado de ex-apoiadores do regime.
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11 Jan
A Ford anunciou hoje que vai fechar suas fábricas no Brasil. Além de toda a questão econômica, há um grande impacto simbólico. É o fim de uma era.

Fio 🚗🚙🚕
A fábrica da Ford revolucionou o status social do automóvel. No início do século 20, o carro era um artigo de luxo: caro, elitista e complexo de fabricar. Poucos imaginavam que poderia ser massificado. Até que em 1908…
… Henry Ford apresentou seu modelo T, lançado como um veículo popular. Em um ano, 10.000 unidades circulavam nos EUA. Vinte anos depois, 15 milhões de unidades haviam sido vendidas mundo afora. Graças à gigantesca fábrica de Detroit e à linha de montagem, instalada em 1913.
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