O surto de COVID na Índia e a provável diminuição das exportações de vacinas me faz pensar o quanto o Brasil poderia ser soberano nessa área e não é.
Ser soberano em produção de vacinas significa ser capaz de sustentar a própria demanda e ainda ser líder mundial em capacidades tecnológicas e de exportação. Nós deixamos essa soberania para trás, quando decidimos ter políticas de governo e não de estado.
Em 2004, com o surgimento da Lei de Inovação Brasileira (muito atrasada por sinal), houve um primeiro suspiro para que empresas e universidades colaborassem para a criação de verdadeiros parques tecnológicos. Lembrem-se: Universidade não é indústria, ela produz conhecimento.
É necessário algum tipo de interação com a indústria para levar tecnologias da universidade para o mercado, algo que a Índia fez com maestria no Instituto Serum, responsável por mais de 50% da produção mundial de vacinas.
O Instituto Serum não é um prediozinho com uma fábrica de vacinas dentro. Ele é um Parque Tecnológico (quase igual a um campus - cheio de prédios e empresas de base tecnológica instaladas).
Mas a nossa Lei de Inovação demorou 12 anos pra ganhar algum tipo de relevância, foi só com o Marco Legal da Ciência e Tecnologia em 2016 que tivemos as "bases jurídicas" para que empresas e universidades pudessem interagir com confiança
O cenário que surgiu desse atraso: empresas não têm pessoas capacitadas para conversar com pesquisadores. Universidades não têm pessoas para conversar com empresas. Falta sinergia. Falta conhecimento para proteger tecnologias antes de publicá-las em artigos científicos
É um milagre que o Brasil tenha Fiocruz e Butantã, capazes de produzir por conta própria algumas vacinas. Mas ainda dependemos de IFA para produzir vacinas da COVID. Isso porque não temos os parques industriais com alta capacidade que a Índia tem.
E não temos porque faltou pensamento de longo prazo, desde 2004. Desde que a Lei de Inovação foi sancionada, ninguém parou pra ler o que está escrito nela. EUA, China, Alemanha só se desenvolveram porque fizeram o que eu disse: parques tecnológicos interagiram com Universidades.
Infelizmente, ainda não temos massa crítica para mostrar aos políticos a importância de ter um parque tecnológico capaz de produzir milhares de litros de IFA para o mundo. O que fazemos é rotular e envasar. Nada de tecnologia de ponta. A tecnologia ainda vem de fora.
Eu explico bem isso nesse corte do Plantão COVID que eu apresentei na última quinta-feira, caso você queira saber mais:
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