1) Chongqing flexibilizou o “hukou”, sistema implementado em 1958 que restringe o acesso de migrantes internos a serviços públicos em grandes cidades. Ele foi efetivo em desacelerar o êxodo rural e prevenir a ocupação desordenada de áreas urbanas, mas reforçou desigualdades.
Sua flexibilização local está agora no centro do debate nacional. O governo quer que o país dependa menos das exportações, estimulando a demanda interna. Nesse sentido, a expansão da prestação de serviços públicos poderia aumentar o consumo dos trabalhadores.
2) Gestores locais são promovidos em parte com base no seu desempenho administrando entes subnacionais. O “Modelo de Chongqing” ganhou tanto destaque que o Secretário do Partido Comunista da cidade rivalizou com Xi Jinping pelo comando do país em 2012.
Bo Xilai, que administrou a cidade entre 2007 e 2012, não só acabaria perdendo a conflituosa disputa interna como também a sua liberdade. Acusado de corrupção e de abuso de poder, Bo Xilai foi condenado à prisão perpétua em processo bastante tumultuado.
3) Chongqing se rebelou contra seu destino geográfico. Distante do mar e com terreno extremamente acidentado, tinha tudo para permanecer pobre. Hoje possui a 2ª maior renda per capita do interior da China. Se fosse um país, teria renda média alta, superior à do Brasil.
Com território equivalente ao da Áustria, 40,2% do PIB provém da indústria, mais do que a média da China (38,6%) e muito mais do que a do Brasil (17,9%). Sob o comando de Bo Xilai, atingiu incríveis 55% de participação da indústria em 2011.
4) Apesar de ter tido conexões com setores mais liberais do Partido, Bo adotou em Chongqing uma estratégia liderada pelo Estado, que ainda emprega quase metade dos trabalhadores (vs. 20% na China). Também defendia redistribuição radical de renda/riqueza. madeinchinajournal.com/2021/01/11/the…
Bo Xilai e seus apoiadores caíram em desgraça, mas várias políticas públicas implementadas na cidade durante a sua administração parecem ter sido incorporadas à agenda do governo central nos últimos anos. ft.com/content/fcb065…
Artigo recente analisou dados inéditos referentes a 145 países ao longo de 170 anos e concluiu: industrialização é o principal fator por trás da democratização no mundo.
Nem o mero crescimento da renda, nem a redução da desigualdade, nem a educação explicariam melhor.
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Isso ocorreria porque a industrialização aumenta o tamanho e a capacidade de mobilização dos trabalhadores urbanos e da classe média, ao mesmo tempo em que reduz os incentivos e a capacidade das elites de se oporem ou de enfraquecerem a democracia.
Por quê?
i) trabalhadores industriais estariam mais vulneráveis a choques negativos e, assim, precisam influenciar o governo para implementar políticas de proteção social. Parte dos agricultores pode retornar à agricultura de subsistência. Elites usam seu estoque de riqueza;
"A China exibe alguns dos sintomas semelhantes que afetaram o Japão, incluindo o rápido declínio do crescimento de 10% para 6% na última década, bolhas imobiliárias, crescimento estagnado da produtividade e o envelhecimento da população"
Tema gerou ótima discussão!
Quatro comentários:
➡ A China não é o Japão. Só pra ilustrar, estima-se que a 🇨🇳 possui 1.137 vezes mais recursos minerais no seu subsolo do que o 🇯🇵.
A probabilidade de um país superar o subdesenvolvimento é muito baixa
Novo artigo de @IsabellaMWeber e outros mostra que a estrutura produtiva que um país tinha há mais de 100 anos praticamente determina sua posição atual na hierarquia global
Os autores criaram uma base inédita de comércio internacional para a era da globalização do séc. XIX, discriminando os dados o máximo possível para identificar os bens específicos que cada país exportava. Assim, puderam apurar a complexidade das estruturas produtivas de cada país
A intuição é que, se um país consegue produzir competitivamente muitos produtos que poucos outros países conseguem produzir, pode-se dizer que aquele país desenvolveu uma estrutura produtiva complexa (o conhecimento produtivo é amplo e está enraizado e disseminado na sociedade)
O NIS possui até um Departamento cuja função é garantir que as tecnologias permaneçam no país
De 2014 até 2019, o NIS reportou 123 casos de vazamento de tecnologia da Coreia. 83 foram para a China
"Garantir o sucesso da Samsung é uma questão de importância nacional para Seul"
A Samsung elaborou um sofisticado sistema para impedir o vazamento de tecnologia. Por exemplo: em um laboratório, o papel usado em máquinas copiadoras contém lâmina de metal, parte de um sistema de detecção que busca impedir que os funcionários imprimam informações confidenciais
Quão autônomos/independentes eram os Banco Centrais (BCs) dos tigres asiáticos nos anos 1980, quando exibiam elevado crescimento econômico e reduziam rapidamente a distância para o mundo desenvolvido?
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Em 1992, Cukierman, Webb e Neyapti criaram uma medida de independência dos Bancos Centrais, analisando a legislação de 50 países.
Consideraram os seguintes aspectos: (i) nomeação, duração do mandato e demissão do Presidente do Banco Central; jstor.org/stable/3989977…
(ii) formulação da política monetária (se cabia ao governo e se o BC possuía algum papel); (iii) objetivos do BC (se apenas estabilidade de preços ou se permitia outros, como pleno emprego); e (iv) limitações para o BC financiar o governo.
A tradicional estratégia chinesa era limitar em 50% o controle de multinacionais estrangeiras, oferecendo seu mercado interno em troca de capital, expertise e tecnologia
Nesse fio, explico por que a estratégia ainda não gerou os resultados pretendidos
A Tesla usou seu status como produtora de carros mais valiosa e mais avançada do mundo, e se beneficiou da ameaça de isolamento comercial imposta pelos EUA à China, para conseguir o controle total sobre a subsidiária
A fábrica gigante em Shanghai foi construída em tempo recorde