Em 2016, ainda durante o segundo turno das eleições municipais, eu escrevi - em tom de desespero - que o Rio de Janeiro era o futuro do Brasil. Ali se desenhava claramente o conluio dos ressentidos: uma máquina de vingança (genocida) disfarçada de conservadorismo.
Fala-se muito - e com razão - da máquina de difamação montada contra o então candidato de oposição @MarceloFreixo, mas costumam ignorar o que fora montado contra a própria sociedade, a população carioca.
As notícias falsas contra o Deputado Marcelo Freixo não circulavam no vácuo, elas se "criavam" (i.e. cresciam, ganhavam tração) nos grupos de bairro, onde circulava um tipo muito específico de informação. Relatos de crimes e violências.
Ao lado do "Marcelo Freixo é amigo de traficantes e vai legalizar a maconha" circulavam relatos exagerados sobre ondas de violência, imagens e vídeos de supostos criminosos mortos, sendo torturados. Os grupos assustavam, deixavam as pessoas com raiva e lhes ofereciam inimigos.
Marcelo Freixo era o rosto desses inimigos, mas era apenas isso, um rosto. Havia um grande "inimigo" que ia além do Freixo: o próprio povo. Nos grupos se criava uma ideia de que a sociedade se degenerou para além de todas as medidas. Por isso eram necessárias medidas extremas.
Vi pessoas que foram "radicalizadas" nesses grupos. Toda aquela informação orientava, codificava sua raiva, sua frustração de existir numa sociedade como a nossa. Lembrem-se, eram grupos de bairros, onde supostamente se trocavam noticias e informes sobre a região.
Ali, os mortos por policiais eram automaticamente transformados em monstros. Lembram do que aconteceu com o DG? Com a Maria Eduarda? Com a própria Marielle? Não havia inocente, apenas inimigos. Pessoas que deveriam ser destruídas da pior forma possível.
Cada morto pela polícia era "vendido" como uma redenção do próprio sofrimento, um alento. O "cancelamento de CPFs" não tinha outra razão de ser que a pura vingança. Ele se bastava em si mesmo: já que a sociedade está condenada, pelo menos vamos comemorar a destruição do outro.
Existe um pessimismo muito característico desses movimentos. Amplamente estimulado por suas lideranças, naturalmente. Vide, por exemplo, o presidente da república. Mas não apenas: aqui também entram algumas lideranças religiosas (sem generalizações).
Existe todo um conjunto de igrejas que se alimentam dessa destruição cognitiva do mundo social. O tom beligerante destes pastores não é acidente; o tom de Crivella em 2016 certamente não o foi.
2021, hoje o Brasil tem como presidente um dos maiores representantes dessa política de destruição, dessa degeneração do pensamento, da própria ideia de sociedade. O Rio de Janeiro, por sua vez, dobra a aposta.
Ontem tivemos uma das maiores chacinas da história da cidade, grupos de zap foram invadidos por mensagens comemorando, imagens dos mortos, vídeos dos policiais comemorando. Representantes do Estado nem se deram ao trabalho de bolar uma desculpa para a ação.
Eles sabem que não precisam, contam com o apoio da população ressentida, especialmente em tempos de pandemia. Já que não tem emprego, não tem renda, vamos lhes oferecer um espetáculo de sangue.
Estado mínimo, cada vez mais reduzido ao papel de entertainer genocida.
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Hoje a #CPIdaCovid promete, depoimento do atual Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga e do Presidente da Anvisa. Nosso Camarote da CPI começa 09:45 e segue até quando Deus quiser.
Quem não puder acompanhar a live, recomendo muito a cobertura do @camarotedacpi (não somos parentes).
#CPIdaCovid já começou quente com Tasso Jereissati pedindo a convocação dos "responsáveis pela ABIN" para explicar as falas de ontem de Jair Bolsonaro sobre a existência de uma guerra química.
Teich não é político, por isso tem mais chances de dar informações menos "controladas" que Mandetta. Por exemplo a indicação direta de Pazuello por Bolsonaro e a insistência no protocolo da Cloroquina #CPIdaCovid
A maior força política de Jair Bolsonaro - provavelmente a única coisa que o mantém na presidência - é o fato de que nenhum grupo político quer assumir essa bomba que virou o Brasil. Estagflação, desemprego histórico, fome e uma situação sanitária calamitosa.
Não existe solução para o Brasil no curto ou médio prazo. Só nos resta torcer para que não tenhamos ultrapassado o ponto de não retorno de uma nova Década Perdida. Eu, sinceramente, estou um tanto pessimista quanto a isso.
A situação é tão grave, mas tão grave, que até setores que passaram incólume por outras crises estão em franca decadência - como os frigoríficos.
Digo, insisto e repito, a @ninadhora é um dos perfis essenciais dessa rede (e de outras) no que diz respeito a influência da tecnologia no debate político contemporâneo.
O @MarceloFreixo sempre fala do caso em que um áudio falso foi utilizado na campanha de 2016 para minar o seu apoio entre os taxistas. Uma parcela da população muito importante nas estratégias de propaganda política.
Tratava-se de um áudio tosco, onde "ele" (alguém imitando sua voz de forma ridícula) atacava os taxistas. A mesma coisa se repetiu em diversos outros momentos e com outras figuras, já vi até áudio falso com Lula combinando "roubos". Agora imagina isso com vídeo?
Sempre bom lembrar que foi EXATAMENTE assim que ele começou a sua corrida presidencial ainda em 2016. Isso não é apenas uma visita, é um símbolo, uma estratégia de aproximação dos "comuns".
Pessoal fica zoando dizendo que parece vereador em época de eleição, e é, a estratégia é essa mesma. Criar uma relação com o "local", com o "popular". Lembrando que enquanto ele faz isso, ele também tira fotos com Malafaia e companhia.
Uma parte crucial da política é que ela é abstrata. O bom político, a boa comunicação política, é aquele, aquela que transforma o abstrato em cotidiano. É isso que Bolsonaro está fazendo aí. Não é "patético", é uma estratégia de comunicação política muito poderosa.
Em um país sério a surra que o Lula daria no Bolsonaro seria considerada tortura qualificada.
É impressionante como Bolsonaro é incapaz de concatenar meia dúzia de ideias em uma frase que faça algum sentido. Todos os seus discursos são construções precárias que visam atingir um bordão.
Percebam que seus discursos sempre tem um bordão para ser atingido. É uma espécie de áudio de whatsapp - e não estou sendo leviano na comparação. Ele fala como quem manda áudio no WhatsApp (e sempre foi assim, mesmo antes da tecnologia).