Falando de filmes que gosto por aqui, fica uma recomendação: O Grande Debate. Eu o vi logo que comecei a militar no movimento negro e até hoje é uma espécie de régua moral. O filme conta a história de Melvin Tolson, revolucionário comunista, poeta e educador. 👇🏾
O longa traz Melvin treinando um grupo de jovens negros para participar de concursos de oratória no início do século XX, enfrentando o ódio branco e a segregação racial. Pra mim, o filme é especial por dois grandes motivos. 👇🏾
Primeiro, ele retrata como poucos os desafios e a busca por excelência que a população negra tem de enfrentar em sociedades racistas. No entanto, ao invés de focar na redenção ou na vitimização, ele enfatiza a luta social, por dentro e por fora do sistema. 👇🏾
Neste sentido entra o segundo aspecto: o filme aponta como as lutas comunistas e antirracistas estavam conectadas nos EUA desde o início do século XX. Em público, Melvin é um exímio educador e lutador dos direitos civis. Na clandestinidade, um político revolucionário. 👇🏾
Apesar de tratar da realidade norte-americana, o filme é uma mensagem para organizações de esquerda em qualquer lugar, especialmente as lideradas por quadros brancos aburguesados, que não conseguem internalizar em suas dinâmicas as demandas enfrentadas por negros e negras. 👇🏾
É também mensagem para nós militantes negros, de como saber fazer a luta em flancos distintos. A criação de um outro mundo exige responsabilidade, mas também criatividade. Jogar o jogo dos brancos melhor do que eles se for necessário, mas saber que nossos sonhos não cabem nele.
Off: ah, sim, quando fundamos o Grupo de Estudos Afro-Centrados na UnB, o filme passou em uma das nossas primeiras reuniões. Tínhamos uma dinâmica interna de melhorar nossa capacidade argumentativa. Em geral, sorteávamos um tema e duplas de militantes tinham que se confrontar.
O primeiro foi sobre heteroidentificação. Eu e meu irmãozinho @cientistaderua ficamos responsáveis por defender a necessidade a identificação externa em processos de cotas. O filme inspirava e animava o grupo e acredito que moldou muito do que passamos a ser dali em diante. ❤️
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Legalização de todas as drogas. Extinção da pena dos condenados pelo crime de tráfico e robusto acordo de paz com facções. Criação do parque científico e produtivo da maconha, com foco na absorção de mão de obra oriunda das comunidades até então afetadas pela guerra às drogas.
Apenas enfatizando: acordo de paz significa a primeira medida para que o Estado reconheça antigos "inimigos" como sujeitos de direitos. Dele, somado a medidas de justiça de transição, podemos falar em reparações, indenizações, políticas de memória e reconstrução nacional.
Temos aqui na América Latina e no mundo todo exemplos de políticas neste sentido que poderíamos nos inspirar e, sobretudo, aprender com os erros para lidar com a complexidade e especificidade do caso brasileiro.
Operação policial nos EUA que massacra negros: "nossa, que terrível, veja quão absurdo é o racismo".
Operação policial no Brasil que massacra negros: deixa a gente reforçar estereótipos sobre favelas e retratar essa operação como um filme de Hollywood em paz.
A polícia e o sistema político tem as mãos sujas de sangue negro, mas tudo se torna mais fácil quando se tem uma mídia que legitima e naturaliza a matabilidade dos nossos corpos.
Estamos cansados de antirracismo cosmético, Casa-Grande.
Quantas vezes Jacarezinho foi alvo de matérias nos últimos anos nos jornalões que não seja para reforçar a imagem de "bunker de criminosos"? Como você transmite uma chacina ao vivo e não pergunta sobre a legitimidade, do ponto de vista jurídico e moral, daquela operação?
No Depois do Colonialismo Mental, tem um texto do Mangabeira chamado A Questão Nacional. Ali tá a caracterização e o limite de certo projeto de esquerda para o Brasil: a identificação da burguesia parasitária e anti-nacional que temos, mas a recusa em enfrentá-la.
Aliás, o texto traz o traço anti-nacional dessa burguesia quase como uma anedota cultural, uma peculiariedade das nossas elites, ignorando que se trata de uma característica funcional das burguesias periféricas e coloniais no arranjo maior do capital.
Lembrei desse texto vendo alguns debates e vídeos aí hoje. 💅🏾
No início da pandemia, Paulo Guedes já anunciava o seu plano para o setor de serviços e microempresas: que quebrem, que fechem, que se lasquem. Parabéns, vem realizando plenamente.
Em menos de dois dias, cerca de 100 pessoas foram presas em Brooklyn Center, uma cidade de 30 mil habitantes, nos protestos após a execução de Daunte Wright.
Desde o caso George Floyd, mais de 10 mil (!!) manifestantes foram aprisionados no país. 👇🏾
Além da prisão e de penas pecuniárias, algumas dessas pessoas foram ameaçadas de deportação ou tiverem que se comprometer a nunca mais participar de protestos na vida. Para não falar das restrições dos direitos políticos, como o de voto. 👇🏾
Hoje, 28 dos 50 estados da federação estão debatendo leis anti-protestos, que criam uma nova classe de crimes. Na Florida, por exemplo, debate-se a possibilidade de prisão por 15 anos (!) para aqueles que participarem de ato com mais de nove pessoas. 👇🏾
Além de punir os responsáveis (políticos, militares e elite empresarial), o Brasil deveria construir uma memória pública do genocídio, para que as próximas gerações, ao se perguntarem de avós, tios, pais e mães levados pelo covid, tenham a medida do absurdo que nós naturalizamos.
Enquanto perdíamos nossos parentes e amigos, o presidente falava de mimimi e sabotava a saúde pública. Enquanto 4.000 mil pessoas morriam, a grande mídia e o baronato empresarial não arredava o pé da austeridade, deixando-nos à própria sorte.
Enquanto morria-se de fome ou vírus, o Congresso aprovava as pautas mais absurdas, desde a vacina privada ao retorno às aulas no pior momento da pandemia. Enquanto não havia vacina, médicos criminosos e a indústria farmacêutica lucravam com o charlatanismo do tratamento precoce.