Legalização de todas as drogas. Extinção da pena dos condenados pelo crime de tráfico e robusto acordo de paz com facções. Criação do parque científico e produtivo da maconha, com foco na absorção de mão de obra oriunda das comunidades até então afetadas pela guerra às drogas.
Apenas enfatizando: acordo de paz significa a primeira medida para que o Estado reconheça antigos "inimigos" como sujeitos de direitos. Dele, somado a medidas de justiça de transição, podemos falar em reparações, indenizações, políticas de memória e reconstrução nacional.
Temos aqui na América Latina e no mundo todo exemplos de políticas neste sentido que poderíamos nos inspirar e, sobretudo, aprender com os erros para lidar com a complexidade e especificidade do caso brasileiro.
Longe de mim querer encerrar o debate com os tweets. São ideias de um brasileiro negro, há anos envolvido no combate ao racismo, e que está cansado de ver meus semelhantes morrendo. Também de retomar a agenda propositiva e afirmar novos léxicos para fazer política de drogas.
No caso específico da maconha, o Brasil era para ser vanguarda produtiva e de construção de políticas públicas (saúde e científica em geral). Temos cientistas como Sidarta Ribeiro e Renato Malcher que são subaproveitados por esse país não ter projeto nacional para a planta.
Aliás, até temos projeto nacional para a maconha e outras drogas: demonizá-las para legitimar o autoritarismo e a política de extermínio contra bairros negros e periféricos. Enquanto isso, o bonde da história vai passando.
Sobre utopias que poderiam ser bem reais. Que nossa geração fosse indenizada e reparada, que nossos filhos pudessem buscar renda, emprego e pesquisa no parque da maconha e que nossos netos visitassem museus e aprendessem na escola sobre o fracasso da guerra às drogas. 💪🏾❤️
E mt massa! Nos comentários, MUITA gente veio colaborar, com exemplos de legalização e descriminalização, o que fazer com as drogas mais pesadas e sintéticas, legalizar só o princípio ativo ou as plantas por inteiro, políticas de memória e reparação. O debate muda e abre caminho!
Sobre reparação e antiproibicionismo, @linpjs e @merhythiago deixaram a dica! "'As bocas de fumo devem ser tombadas': o que significa reparação histórica para quem trabalha no narcotráfico?", de Monique Prado.

Aliás, o volume todo tem textos excelentes!

academia.edu/45623454/_As_b…
Como a thread e as colaborações repercutiram, vai que chega nos graúdos @LulaOficial, @cirogomes, @MarinaSilva e @GuilhermeBoulos, especialmente para não ficarmos apenas nas condenações abstratas do racismo e da violência policial. Não custa nada tentar, né haha.
Outro projeto de Brasil a partir de uma política de drogas propositiva dialoga com os programas de governo de vocês quatro, especialmente nas áreas de economia do conhecimento, geração de renda e emprego e resolução do nó da urbanização caótica. O tema não é só segurança pública!
Muitos falando que tudo isso é utopia. Bom, minha gente, eu morei num país que aprovou um acordo de paz envolvendo guerrilhas, superando todo o ressentimento, ódio e fratura social que o atravessam. Para muitos colombianos, o acordo de 2016 era impossível, até que foi feito.
O acordo de paz colombiano tem seus limites? são óbvios e muitos, infinitos! Mas o acordo destravou a sociedade. Os protestos das últimas semanas, que lutam por outro projeto nacional, só existem por causa dele, das contradições abertas na sua esteira.
Na grande noite do Apartheid ou das ditaduras militares do Chile, Uruguai e Argentina, também era impossível ver uma saída, muito menos falar em justiça de transição, verdade e reparação, como foi debatido anos depois (e continua a ser debatido) em todos esses países.
Todos esses países mantém seus dilemas históricos, mas inauguraram uma nova etapa nacional quando ignoraram o impossível. Ao meu ver, ilusão é continuar vivendo nessa realidade distópica do Brasil e achar que nada estrutural, inédito, criativo e profundo pode ser feito.
Quem diz não para o sonho é porque já naturalizou a realidade em que corpos negros e periféricos não valem nada. E para isso, não vão contar comigo nunca.
Sobre convencimento na arena política pautada pelo conservadorismo, lembrei dessa entrevista do Sidarta, que um dia mostrei a meu pai para demovê-lo de alguns preconceitos. Funcionou. Já estamos derrotados qnd pensamos que as pessoas não estão em disputa.

Falando no Sidarta, já transformei esse livro aqui em um pequeno "panfleto" nos espaços que estranham minha posição pró-legalização de tudo. É sobre maconha, mas ajuda a pensar todas as drogas para além do proibicionismo.

amazon.com.br/Maconha-C%C3%A…
Ae @Marcelodedois, meu bom, nos comentários lembraram que essa thread tem sua pegada e do Planet, abrir o debate para uma mudança radical na sociedade. "Se informe antes de falar e legalize ganja!"

Seria massa demais se você ajudasse a circular essa brisa! ❤️🥰

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7 May
Falando de filmes que gosto por aqui, fica uma recomendação: O Grande Debate. Eu o vi logo que comecei a militar no movimento negro e até hoje é uma espécie de régua moral. O filme conta a história de Melvin Tolson, revolucionário comunista, poeta e educador. 👇🏾
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6 May
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