#FarmacoNumTweet

A Dependência é um fenômeno complexo. Além dos aspectos neurobiológicos, o comportamento, a genética e o ambiente são cruciais para o desenvolvimento do quadro.

Vamos entender um pouco mais sobre esses aspectos neurobiológicos? Segue o fio!
Embora estes são sejam os únicos elementos envolvidos no processo de dependência e não possamos avaliar este fenômeno de modo descontextualizado, é fato que sem uma droga capaz de provocar dependência ou sem um cérebro capaz de se tornar dependente, não haveria dependência.
A dependência pode ser descrita como uma transição de ações impulsivas (incapacidade em adiar recompensas) para ações compulsivas (uso contínuo da droga, apesar das consequências negativas). O uso inicial da droga é geralmente voluntário, ligado à traços de impulsividade...
...e provoca uma sensação de prazer e satisfação. As primeiras doses costumam ser as mais reforçadoras, pois são praticamente isentas de penalidades. Isso pode facilitar que o uso se torne frequente e evolua para o uso compulsivo.
O uso compulsivo tem como uma de suas principais características a necessidade de maiores doses para a obtenção do efeito desejado e a necessidade de utilização contínua para reduzir os sintomas incômodos de abstinência
E de que forma drogas diferentes convergem para este efeito?
Cada droga de abuso possui seu mecanismo de ação, mas geralmente atuam ativando um mesmo circuito cerebral: o sistema dopaminérgico de recompensa. Há diversas maneiras de desencadear “naturalmente” a liberação de dopamina nessa região: realizar com sucesso tarefas...
... degustar uma boa refeição, atingir o orgasmo, apaixonar-se ou ouvir suas músicas favoritas podem ser alguns desses exemplos.

Algumas drogas também seguem essa lógica, mas provocam uma liberação de dopamina muito mais intensa. E qual é o problema disso?
Podemos dizer que o cérebro percebe que não é necessário ganhar essa recompensa naturalmente, uma vez que é possível consegui-la de maneira mais intensa e com menor esforço pelo uso de uma substância. Uma avaliação simplória de custo-benefício (lei do mínimo esforço😅)
Assim, quando o efeito passa, é como se ele dissesse: -Ei, cadê minha dopamina?
Por isso a dopamina é coloquialmente chamada de neurotransmissor do prazer. O mais preciso seria dizer que ela está associada à recompensa e motivação.
Por exemplo: a motivação para busca e consumo da droga. O contraste entre expectativa dos efeitos da droga e os efeitos cada vez mais atenuados da dopamina mantém o uso compulsivo da substância como uma tentativa recorrente de conquista da recompensa esperada.
Pra quem se interessou pelo tema, deixo aqui um capítulo de livro que escrevi sobre o assunto: drive.google.com/file/d/1FM4z8O… Image

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15 May
Quando qualquer um de nós se depara com uma fórmula dessas, a primeira reação é "torcer o nariz".
Mas e se eu te falar que a aplicação desse raciocínio traz mais lucidez e racionalidade para interpretar artigos científicos?

Abra o seu coração para a palavra do reverendo Bayes Image
Thomas Bayes foi um pastor presbiteriano do século XVIII, que veio a se tornar posteriormente famoso pelo "Teorema de Bayes", resumido na fórmula do tweet anterior.
Bayes desenvolveu a probabilidade condicional para tentar inferir a probabilidade subjacente a partir da observação
Não tá entendendo nada? Eu também demorei pra entender. Quando ele explicou isso para os outros, ninguém entendeu também. Por isso é mais fácil explicar isso por meio do experimento que originou o seu Teorema. Foi necessário apenas uma mesa e duas bolas. E uma mente brilhante.
Read 11 tweets
2 May
A maioria de nós tivemos a oportunidade de aprender o que é ceticismo com Scooby-Doo sem nem perceber
Frente a enxurrada de obras ficcionais que colocam o sobrenatural como lugar-comum e menosprezam a figura do cético, Scooby-Doo se destaca por valorizar o ceticismo. Segue o fio!
Com mais de 50 anos de existência Scooby-doo, a seu modo, pertence a cada geração desde sua estreia em 1969. Um grupo improvável de 4 jovens e um dogue alemão viajam em uma van (Máquina do Mistério), investigando e desvendando casos sobrenaturais em todo tipo de lugar bizarro.
O desenho ocupou um papel de destaque na infância de muitos de nós, competindo com o mundo supersticioso em que vivemos. Mesmo considerando personagens de diversos perfis desde a racional Velma até os medrosos e motivados por comida Salsicha e Scooby, as lições são as mesmas:
Read 10 tweets
1 May
Já falei por aqui da "Regressão à Média": em uma série de eventos aleatórios, há uma grande probabilidade de que um evento fora do comum (extremo) seja seguido por um outro mais corriqueiro (retornando a valores médios).
Hoje tem historinha pra ver como isso pode nos confundir...
Na década de 60, o (hoje) Nobel Daniel Kahneman começou a dar aulas a um grupo de instrutores de vôo da Aeronáutica. Nas aulas, ele dizia que recompensar comportamentos positivos dos pilotos era mais interessante do que punir os equívocos.

Mas ele foi confrontado por um aluno:
"Muitas vezes elogiei meus alunos por manobras muito bem executadas, e na vez seguinte se saíram pior. Já gritei com eles por manobras mal executadas, e geralmente melhoram na vez seguinte. Não me diga que recompensa funciona e punição não. Minha experiência contradiz essa ideia"
Read 11 tweets
10 Apr
Toda vez que você fala que vai tomar um "suco detox" ou fazer um "tratamento detox" num spa, as células do seu fígado e dos seus rins choram de desgosto até sofrer apoptose.

Detox, ou desintoxicação, é a eliminação de substâncias potencialmente nocivas do organismo.
Trata-se de um termo originalmente utilizado para se referir à capacidade do nosso organismo em metabolizar e excretar drogas, medicamentos, venenos, agentes tóxicos...
Também é um termo que se aplica no tratamento da dependência química e de intoxicações.
Porém, a palavrinha "detox" foi sequestrada e passou a ser utilizada em qualquer contexto. Desde um "tratamento" para os excessos alimentícios do fim do ano até uma semana de luxo em um spa. E nenhum desses novos usos tem qualquer relação com desintoxicar o seu corpo.
Read 6 tweets
8 Apr
#FarmacoNumTweet
Como um antibiótico mata as bactérias sem me matar?

De modo geral, antibacterianos "matam" bactérias sem causar danos excessivos às nossas próprias células.

Como isso acontece? Spoiler: Seletividade de ação!
Segue o fio.
O termo antibiótico vem da capacidade de um microorganismo inibir o crescimento de outro (antibiose). Foi assim que a penicilina foi descoberta: em uma placa onde bactérias deveriam crescer, mas que foi contaminada com um fungo do gênero Penicillium.
Esse fungo produzia uma substância que não permitia o crescimento bacteriano à sua volta. Essa substância foi chamada de penicilina. De lá pra cá ampliamos o número dessas substâncias, extraídas de microorganismos ou sintetizadas e assim montamos nosso arsenal de antibacterianos
Read 10 tweets
3 Apr
É interessante como especialistas em uma área específica podem estar com o olhar "viciado" sobre as evidências da sua própria área ou de áreas correlatas, adicionando muita subjetividade às suas análises.

Vem comigo nesse fio para entender melhor esse problema...
Em casos mais extremos, a "opinião de especialista" pode refletir simplesmente um olhar enviesado cultivado durante sua trajetória pessoal e profissional. As vezes até mesmo um "grupo de especialistas" pode, ao invés de tornar a análise imparcial, multiplicar todos seus vieses.
Na história não faltam exemplos de práticas que eram amplamente aceitas como "boas práticas médicas", mas que caíram em descrédito em virtude de ensaios clínicos de alta qualidade. Desde 500 a.C. especialistas afirmavam que a sangria era o tratamento para qualquer doença aguda.
Read 9 tweets

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