Nenhuma surpresa no uso da dispensa de licitação pelo Ministério da Saúde de Pazuello para contratar obras sem urgência por empresas duvidosas.
Todo o "milagre econômico" de 1968-73 foi baseado na "dispensa de concorrência", favorecendo grandes empreiteiras.
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O milagre rodoviarista dos anos 1970 só foi possível porque tinha em suas engrenagens o autoritarismo da ditadura, que impedia o debate social das obras e dava costas largas ao alastrado esquema de corrupção em que agentes públicos e privados se favoreciam mutuamente.
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As relações indecorosas entre empreiteiros e militares são fartamente apresentadas pelo historiador Pedro Henrique Pereira Campos, em sua tese de doutorado, depois publicada no livro "Estranhas catedrais: as empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar, 1964 - 68".
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A corrupção se servia do “amordaçamento dos mecanismos de fiscalização e divulgação das irregularidades” para se alastrar sem vir à tona, nas palavras do historiador, para quem , “as irregularidades no setor de construção pesada" eram a regra na ditadura.
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Até 1973, o governo militar podia contratar as empreiteiras realizando dispensa de licitação, prática que depois foi proibida pelo Congresso. Ainda assim, permaneceu a prática dos editais direcionados, escritos já com critérios que visavam a favorecer determinada construtora.
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O resultado de todo esse processo foi uma grande concentração econômica em algumas construtoras, empresas que cresceram a altas taxas durante a ditadura e que passaram a ter cada vez mais poder político e de influência nos governos.
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Cinco empresas que realizaram obras rodoviárias e de hidrelétricas na ditadura respondiam, ao final do regime, por mais de 50% da arrecadação das cem maiores construtoras do país: são elas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Odebrecht e Cetenco
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Essas empresas protagonizaram escândalos de corrupção recentes, atravessando a Nova República com seu modus operandi de coerção do poder público. O combate a essas práticas, pela Lava Jato, infelizmente só enxugou gelo.
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Como coloca o especialista em corrupção Eric Uslaner, “colocar políticos corruptos na cadeia (por mais que devamos fazê-lo) somente servirá para abrir espaço para outra elite corrupta”. Uslaner é cético quanto à possibilidade de redução da corrupção por operações policiais.
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O moralismo da Lava Jato na verdade joga água no moinho da corrupção. Ao colocar o debate em termos morais, desvia das soluções concretas e fica parecendo que quem fala mais grosso ou veste farda não vai roubar porque não quer. Obviamente, a corrupção ganha espaço.
Sobre o combate à corrupção e a Lava Jato, escrevi esse outro fio aqui, que aponta que as raízes da corrupção são mais profundas e, as soluções, também. Tem a ver com desigualdade e confiança social.
Uma versão mais longa desse debate está nesse artigo que publiquei em 2017, no auge da operação Lava Jato, antes de Moro ir pro governo, antes da divulgação das mensagens pelo Intercept, etc. Tenta olhar a corrupção por uma perspectiva mais ampla.
A operação mais letal da polícia do RJ deixou 25 PESSOAS MORTAS e apreendeu 6 fuzis no Jacarezinho ontem.
A maior apreensão de fuzis da história do RJ foi feita na casa de Ronie Lessa, no Vivendas da Barra: apreendeu 117 FUZIS e não deixou nenhum morto.
Ronnie Lessa – o PM aposentado acusado de assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes – era vizinho de Bolsonaro no Vivendas da Barra. E de lá saiu de carro, com seu parceiro Élcio de Queiroz, poucas horas antes do crime que encerrou a vida de Marielle.
A engenharia financeira do condomínio, que se serve da disseminação do medo e da narrativa do crime para impulsionar as vendas, é a mesma utilizada pelas milícias para extorquir moradores em troca de segurança paga e controle paraestatal de territórios.
De manhã, busca um político de direita para ser o imaginário "Biden brasileiro".
À tarde, afirma que as políticas do Biden real, de inspiração keynesiana, não são aplicáveis o Brasil.
Deu curto-circuito.
*Ops, aplicáveis AO Brasil
Biden, de centro, foi eleito com o apoio da esquerda, de Sanders e AOC. A ideia de um "Biden brasileiro" é meio ridícula, mas se a transposição fosse feita, o político mais apto a bater Bolsonaro com o apoio do centro e da esquerda começa com LU e termina com LA.
Sonhando com o dia em que vão finalmente entender que quem estava na rua lutando pela melhoria de transporte público era também o filho do porteiro que foi pra Universidade.
"Se ninguém defender o legado de Moro, é o país que perde", escreveu hoje o Joel Pinheiro da Fonseca.
O artigo não é só negacionista. É também ingênuo e desinformado sobre o debate de combate à corrupção.
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Primeiro, o artigo passa pano para as graves ilegalidades cometidas por Moro e procuradores. O que o autor chama de "excessos" ou até "abusos" diz respeito a desvirtuação do processo legal, com o juiz instruindo a acusação, combinando ações conluiadas, etc.
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Muita gente boa da área já escreveu sobre as ilegalidades da Lava Jato, como @augustodeAB e @reglezer. A lista de desvios é graúda. Fico com uma: o que Joel pensa de um juiz sugerir aos procuradores não investigar um político (FHC) para não melindrar um aliado?
Marcos Lisboa comparou o plano de infraestrutura do Biden às desonerações fiscais dos governos petistas, para dizer que já tentamos um plano Biden no BR e não deu certo.
Não consegui entender por que ele comparou investimento público em infraestrutura com renúncia fiscal. +
O American Jobs Plan é majoritariamente um plano de investimento público em infraestrutura. Poderia ser comparado com o PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Seria um ótimo exercício, aliás.
Mas, ao comparar alhos com bugalhos, o renomado economista só mostra que...
... sua oposição a qualquer forma de liderança do investimento público é maior do que a racionalidade que ele pretende levar aos debates.
A efetividade do gasto público precisa ser debatida. Mas confundir e jogar pra plateia não ajuda em nada.
Hoje entram em vigor novas regras de trânsito, aprovadas pelo governo de Jair Bolsonaro no Congresso.
O Brasil, que tem um dos trânsitos mais violentos do mundo, verá essa carnificina aumentar.
Um fio 👇
O Brasil tem a maior taxa de mortes por acidentes de trânsito da América Latina. No quesito matança nas estradas, estamos à frente de TODOS os nossos vizinhos e de praticamente todos os países da Ásia, da Europa e da América do Norte.
Nem sempre foi assim. Até a década de 1950, os trens transportavam parte relevante das cargas e das pessoas no país. Esse é um modo de deslocamento de baixo percentual de acidentes. A rodoviarização excessiva do Brasil, acelerada na ditadura, está no centro do problema.