Você sabia que mais de 60% da matriz energética do Brasil é vinda de Usinas Hidrelétricas? Atualmente em território nacional nós temos mais de 700 usinas operantes, que geram e distribuem energia elétrica para o país. Mas você conhece os impactos ambientais causados por elas?
Hoje vou falar para vocês dos impactos ambientais negativos oriundos da instalação de usinas, principalmente sobre a Ictiofauna, que depende dos cursos d’água para sobreviverem e são afetados diretamente por esses empreendimentos.
As usinas hidrelétricas são grandes estruturas geradoras de energia feitas em rios, onde usam a força mecânica da água para impulsionar as turbinas que geram energia. Para garantir o controle do fluxo de água, são construídos barramentos que resultam em grandes reservatórios.
Esses barramentos afetam brutamente a diversidade de peixes, modificando a estrutura do ambiente, podendo levar a diminuição ou extinção de algumas espécies e introduzindo populações invasoras em sistemas fluviais próximos ao empreendimento.
Como eu falei lá em cima, junto com a Usina, é formado um reservatório, que vai assegurar o controle de fluxo da água para a produção de energia, e certamente isso afeta o ecossistema.
Elas são feitas em locais estratégicos, geralmente em rios com um fluxo forte de água, isso é vantagem na geração de energia. Porém esse fluxo será interrompido com a formação da barragem e do reservatório.
Com isso, a paisagem é completamente modificada, um rio que possuía um fluxo contínuo, agora possui águas lênticas, afetando diretamente os peixes que se adaptaram para viver ali, principalmente as espécies migradoras que dependiam desse percurso.
As populações dos grandes peixes migradores estão sendo ameaçadas, pois a migração reprodutiva deles foi barrada. Durante o período de cheia, esses peixes sobem o rio e depositam seus ovos, que por sua vez são levados para até as regiões mais baixas+
Quando o período de chuva passa, e o nível do rio baixa, são formadas Lagoas Marginais, que servem como berçários para os peixes, onde eles ficam seguros nos primeiros meses de vida. Com a barragem feita, essas lagoas não são mais dependentes da chuva para se formarem+
E sim da demanda de energia, e as lagoas passam a maior parte do ano inundadas, logo os peixes que possuem uma fina sincronia com o período de chuva e a formação dessas lagoas sofrem com esse impacto.
Os animais que dependiam desse berçário para sobreviver nos seus estágios iniciais de desenvolvimento sofrem com a predação de outras espécies, que tiram proveito da situação para se alimentar, este é um dos problemas acarretados pelo barramento+
Espécies como os Tucunarés (Cichla spp.) são sedentários, não precisam migrar para se reproduzir, além disso são predadores e acabam tendo vantagem em competição com esses peixes diminuindo sua abundância+
📷Cichla temensis - Autoria na imagem
Outro impacto gerado pelo barramento, é o afogamento de barreiras naturais, que asseguram o isolamento entre diferentes comunidades. As principais barreiras naturais são as cachoeiras, elas isolam algumas espécies que só ocorram na parte baixa do rio e outras na parte alta.
Quando essas cachoeiras são inundadas, as duas partes do rio se unem, permitindo um fluxo entre as comunidades que antes não existia, isso pode acarretar na introdução de espécies. No thread sobre o Lago Vitória eu falei sobre os problemas causados por espécies invasoras+
Obviamente essa questão não tem a mesma escala do Lago Vitória, mas ainda assim é preocupante. Um exemplo clássico é a Cachoeira das Sete Quedas, no Rio Paraná, uma das maiores do mundo com 114 metros, e infelizmente não existe mais.
Na década de 1980 foi construída a Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Rio Paraná, com a barragem da água abaixo da cachoeira, o nível da água subiu, cobrindo as Sete Quedas, hoje no lugar existe apenas um reservatório.
Mas os problemas não acabam por aí, na década de 90 o pesquisador Carlos S. Agostinho constatou em sua tese de doutorado a invasão de Piranhas (Serrasalmus marginatus) que só ocorriam na parte baixa da cachoeira.
📷Juliana Formosa
Uma vez que a barreira natural não existe mais, elas ocuparam rio acima afetando outras espécies. Além deste caso, ainda foram verificadas invasões biológicas de 30 espécies diferentes após o afogamento da cachoeira.
Outro problema referente aos migradores, é o simples fato de não conseguirem mais migrar, há literalmente um ''muro'' no meio do rio que impedem sua passagem. Peixes com os grandes bagres podem viajar centenas de quilômetros para desovar,
Durante a construção de uma barragem, é necessário que se construa em conjunto uma escada na lateral da Usina ou um canal de vazão, feitos com o intuído de possibilitar a passagem dos peixes migradores +
e apesar de serem eficientes em alguns casos, os peixes não conseguem retornar, assim as comunidades de peixes que vivem abaixo do reservatório, estão desaparecendo, nem os adultos e nem os filhotes conseguem fazer o retorno da rota migratória.
E ainda é lucro quando são construídas essas escadas, porque em algumas hidroelétricas nem a escada nem o canal são realizados, como por exemplo na UHE Estreito, no Maranhão
Lembrando que essa escada é eficiente apenas para peixes de pequeno e médio porte, os maiores como a Piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) nem se quer conseguem passar por essas escadas.
📷pousadarioxingu.com.br/es_ES/peixe/pi…
Infelizmente o futuro não é otimista, enquanto mais a população do país cresce, maior é a demanda de energia. Há mais de 400 projetos de instalações de usinas somente na Bacia Amazônica, com uma comunidade de peixes gritante comparada a outras bacias.
Dagosta & Pinna, 2019
Infelizmente as usinas são feitas de maneira que passam por cima de normas ambientais, em um país onde não há incentivo de produção de energia limpa, como a energia solar. Estamos matando nossa maior riqueza, que é nossa biodiversidade, tudo em nome do progresso.
Esses foram apenas problemas ecológicos causados pela instalação, ainda existem uma gama de perturbações durante o funcionamento das usinas. Além dos problemas sociais envolvidos de ribeirinhos que perdem suas terras.
📷Lilo Clareto / Amazônia Real amazoniareal.com.br/o-rastro-de-de…
Essa thread foi baseada em Kieran A. Monaghan, Carlos S. Agostinho, Fernando M. Pelicice , Amadeu MVM Soares. O impacto de uma barragem hidroelétrica nas comunidades de peixes neotropicais: uma análise espaço-temporal da hipótese de aumento trófico.
Caso vocês tenham interesse, há algumas palestras no youtube sobre esses impactos, ministradas pelo Prof. Dr. Carlos Sérgio Agostinho, que eu citei lá em cima no trabalho da Usina de Itaipu.
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Olá pessoinhas, tudo bem com vocês?
Depois do Fio de ontem sobre Baiacus, decidi falar sobre arraias de água doce, outro bichinho fofo que também já foi marinho um dia.
Segue o fio!
As arrais de água doce são peixes cartilaginosos, parente bem próximos dos tubarões. Ambos estão dentro do mesmo grupo, Elasmobranchii. Há alguns animais que parecem um meio termo entra arraia e tubarão, o tubarão-carpete é um exemplo deles.
📷Kristian Laine
São animais bem peculiares, sua característica mais marcante é sua forma achatada e suas nadadeiras peitorais que se modificaram projetando-se para as laterais e envolvendo quase todo o corpo do animal. A boquinha dela fica na parte ventral do corpo, e os olhos na dorsal.
Você sabia que existem Baiacus de água doce que ocorrem no Brasil?
Hoje vou falar um pouquinho sobre os peixinhos que eu estudo.
Segue o fio!
Ao contrário do que muitos pensam, existem peixes da família Tetraodontidae (tetra= quatro/ odonto= dente) em rios brasileiros. A hipótese mais aceita atualmente é que esses animais entraram no continente através de transgressões marinhas, 15-20 ma atrás, durante o Mioceno+
Isso ocorreu com outros animais também, um exemplo que eu gosto muito de usar são as arraias, parentes dos tubarões que se adaptaram muito bem a água doce. No Brasil nós temos a família Potamotrygonidae, comportando mais de 30 espécies de arraias de agua doce.
Olá pessoinhas.
Depois de deixar vcs tristes falando um pouco sobre o desastre do Lago Vitória, hoje vou falar sobre um dos peixes mais incríveis que já nadou nas águas do nosso planeta, o Celacanto!
Primeiramente, o que seria exatamente um Celacanto???
Bem, Celacantos fazem parte de um grupo chamado Actinistia, presente dentro da Classe dos peixes Sarcopterygii, um grupo bem peculiar.
Existem duas principais Classes de peixes ósseos (Osteichthyes) elas são: Actinopterygii e Sarcopterygii, dentre as diversas diferenças que distinguem esses grupos, a principal delas são as nadadeiras +
Você provavelmente já deve ter ouvido falar sobre "Introdução de Espécies". Essa é uma das maiores causas de extinções que existem, e hoje eu vou contar um caso pra vocês;
Vamos falar sobre a introdução da Perca do Nilo no segundo maior lago do mundo, e o desastre que isso gerou;
O Lago Vitória é o maior corpo de água doce do continente africano, e um dos maiores do mundo, com mais de 68 mil metros quadrados. Ele se encontra sob a jurisdição de 3 países: Tanzânia, Uganda e Quênia, sendo sua maior parte na Tanzânia;
Um lago gigante e isolado dentro do continente, é de se esperar que haja uma biodiversidade e um alto grau de endemismo. Esse ambiente proporcionou a evolução de muitos animais. Ali são descritas mais de 190 espécies endêmicas, a maioria ciclídeos, e grande parte já foi extinta..
Por mais que sejam animais que causem medo e repulsa em muita gente, as baratas tem um grande papel em processos essenciais para a vida no planeta Terra. Na thread de hoje, iremos pontuar qual a importância destes bichinhos!
Antes de tudo, é importante pontuar que a menor parte das espécies de baratas causa danos ao ser humano. Das cerca de 4600 espécies que existem, menos de 1% pode transmitir doenças ou danificar a agricultura. As outras 99% são "limpinhas" e devem ser preservadas!
LIXEIRAS NATURAIS?
Baratas urbanas realizam decomposição de restos (incluindo cadáveres) produzidos pelo ser humano. Estes restos, que ocupam lixões e esgotos, contribuem para a poluição do ambiente. Assim, baratas e outros decompositores contribuem para um meio ambiente limpo.
A ordem Orthoptera é composta por gafanhotos, grilos, esperanças e paquinhas. Com algumas exceções, estes animais são conhecidos principalmente por duas características: saltos ágeis para a fuga e locomoção e capacidade de emissão de sons.
Os membros desta ordem estão divididos em duas subordens:
> Caelifera - gafanhotos e taquarinhas
> Ensifera - grilos, esperanças e paquinhas
Uma base de dados interessante que pode ser utilizada para ter conhecimento da Taxonomia desta ordem é o Orthoptera Species File (orthoptera.speciesfile.org), que possui imagens e informações sobre sistemática, bioacústica, distribuição etc.