O que torna o pensamento dos povos menos capaz de seguir seu rumo até os corações e mentes das pessoas não é a hegemonia do pensamento europeu acadêmico. As interdições violentas anteriores à porta da academia são muito mais dolorosas. A censura da fome, da violência policial...+
Os medos produzidos pelo poder contra os territórios com pensamentos rebeldes são poderosos. Eles se construídos em doses homeopáticas nas rádios, TV's e jornais locais, são endossados em cada período eleitoral e vai minando aquela comunidade de pensadores autônomos.+
Mas os poderosos não fazem isso por uma defesa do cânone ocidental. Eles estão disputando ali o poder da terra e a influência sobre o povo potencialmente rebelde daquele lugar. São tarefas cotidianas de um bloqueio que impede a maioria dos povos rebeldes de alcançar a academia.+
Exemplos objetivos: e cidade mais próxima da Serra do Padeiro onde vivem parte dos Tupinambá de Olivença, Buerarema, é um campo minado contra o pensamento rebelde de Glicéria e Babau Tupinambá. Rádio, blog, comícios, tudo ali está preparado para incriminar os indígenas.+
Só que o que eles querem não é caçar o pensamento em si dos Tupinambá. Eles querem as terras. E para isso destituir os modos de vida é fundamental. É claro, que nesse caso objetivo, os Tupinambá conseguiram furar o bloqueio pela sua capacidade de articulação. +
Porém quantos não conseguiram furar o bloqueio? Elionice Sacramento é quilombola e pescadora. Ela tem mestrado pela UnB. Uma liderança poderosa. Mas veja, perseguida pelos potentados locais de seu município, tratada como criminosa em sua comunidade.+ diplomatique.org.br/estao-passando…
Antes de poder defender seu pensamento, sua rebeldia preta, seu pensamento sobre as mulheres e as marés, Elionice precisa se defender, do risco de violência física, extermínio, de perseguição a familiares, de acusação na justiça de crime ambiental até.+
Então toda vez que eu vejo essas elocuções super problematizadoras sobre como o pensamento ocidental, europeu, é impeditivo para a difusão dos pensamentos dos povos eu penso: vocês tão falando dos problemas da porta da universidade para dentro. O b.o. é fora.+
Mestre Joelson sendo um camponês preto, conhece África do Sul, Coreia Popular, França, China, Venezuela... tem 30 anos de tomada de terra do latifúndio e vem subindo florestas - que por si já são contribuições maiores do que esse debate sobre colonialidade. Agora veja...+
Apesar da intensa contribuição, nunca tinha escrito um livro. Nem tinha livros escritos sobre seu trabalho. Era falta de relação com acadêmicos? Que nada. O tanto de acadêmico que visita e faz viagem de campo para o Terra Vista num tá no gibi. O problema é outro. +
É que enquanto ele se organizava para reunir os povos em torno de uma aliança (ganhando mais inimigos do que já tinha no MST), os acadêmicos iam fazendo seus artigos sobre ele, não com ele. Iam se descolonizando com os esforços dele. Ele fazia esforço, o outro ficava suado.+
E o motivo é que se você não faz com... bem... veja... você não precisa concordar necessariamente com a posição política radical dele, você pode pinçar os aspectos de saber tradicional que faz melhor ao seu pensamento "acadêmico rebelde". Vi isso. Ainda vejo.+
Este ano nós lançamos 'Por Terra e Território' e provavelmente virá ainda este ano um livro ainda maior organizado por uma compa com quase todos os textos e a história do mestre. É o mínimo que fizemos para superar interdições da luta real.+ teiadospovos.org/venda-da-prime…
Só para fechar o argumento, Hamilton Borges e Dra. Andreia Beatriz da @ReajaOu, cansados de terem ideias roubadas, suas falas capturadas por intelectuais, sem que eles pudessem escrever, fizeram um editora:+ reajaeditora.com.br/reaja-editora/
Essa galera lançou a Marcha Contra o Genocídio Negro em 2005, praticamente foram os difusores do debate sobre o genocídio perpetrado pelo Estado atualmente, mas tiveram que lançar sua editora e sua livraria para poder difundir suas ideias. Por que?+
Porque estavam enfrentando arma na cabeça, perseguição, invasão de suas residências pela força policial, criminalização e suas mentes estavam machucadas por praticamente virarem coveiros enterrando seus irmãos e irmãs todos os meses.+
Então as interdições antes do portão da universidade é que importam. E é ali que devemos ajudar, apoiar, tentar se colocar a serviço dos povos. Não devemos estar em busca do pensamento deles, mas da vida deles, do seu território, seu labor, de ser companheiros deles.+
E importa pouco se este pensamento vai frutificar na academia, a questão é se este pensamento do povo consegue congregar sua comunidade em luta, organizar as bases de um futuro com mais dignidade nos territórios. Eles só tendem à universalidade depois de firmar em seu terreiro.
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Quanto mais eu acompanho a cena política brasileira, mas eu percebo que o caminho que deveríamos nos aprofundar está na tradição rebelde, clandestina das rebeliões de povos que vivemos, sobretudo, no século XIX e início do XX. Elas guardam algo que seria fundamental hoje.+
Uma moral elevadíssima de um povo sujeitado pela escravidão, mas que se rebelava apesar de todos os riscos. Não existia nem esboço do estado de direito. A tortura, a degola, a execução em campo e o enforcamento eram a prática do Estado brasileiro contra seu povo.+
E como ousavam resistir diante de todos estes riscos? É que o mundo dos povos apesar de violentado, carregava suas cosmovisões como uma extensão do corpo até o território, as águas, as matas, os parentes, os seres que ali viviam. Esta sabedoria formavam a gente para a guerra.+
Sobre greve e luta hoje. Sabemos pela @PFFparaTodos que é possível comprar PFF2 no atacado a R$1,30. Isto significa que uma manifestação de mil pessoas custaria R$1.300 para um sindicato. Bom, só a minha seção sindical tem arrecadação superior a 70 mil por mês. Segue o fio.+
Quando @CUT_Brasil, @CSPCONLUTAS, CTB, UGT e cia fazem suas reuniões nacionais, plenárias e etc, quanto gastavam com diárias e passagens de seus dirigentes? Vamos ser honestos? Quando custava uma plenária nacional da @andessn ou do @SINASEFE?+
Há quatro anos eu fiz uma conta por baixa de uma plenária nacional que um amigo foi e sem pensar no hotel, só entre passagens e alimentação, o custo da operação para dois dias superava fácil os 150 mil reais. Então não é falta de grana. +
Há alguns anos houve uma grande reunião com muitos movimentos sociais da Bahia em um dos territórios da Teia. A gente queria saber como seria a aliança e luta após a vitória do mau governo. O meu sindicato foi convidado, mandou dois representantes. Se liga no absurdo.+
Ali estavam Pataxó, Pataxó Hã-hã-hãe, Tupinambá, vários quilombos, MST, CETA, MSTB, tinha de tudo um pouco. E esses dois sindicalistas, com carro alugado, com diárias pagas pelos sindicato... chegaram uma dia depois de acabar a reunião... e cheirando à bebida.+
Os caras foram dirigindo e bebendo de Salvador até um assentamento que fica pelo menos 6h de viagem. Não bastasse o desrespeito com os povos em luta, a safadeza e irresponsabilidade de beber no volante. Eu vi tudo. E outros militantes. Tudo muito triste.+
O corpo preto é o primeiro território a ser defendido por quem é preto, preta. Assim nos ensinou Dra. Andreia Beatriz da @ReajaOu. Às vezes nos acusam de identitarismo, mas ao povo preto, despossuído de terra e riqueza, o que sobrou foi a identidade para lutar. Veja...+
Proibido de usar seu idioma, de ter um nome próprio que o conecta a sua terra, de cultuar sua espiritualidade, aprendemos que fizeram de seu corpo a memória de sua terra com escarificações. Era a mais visível forma de não perder tudo de seu ser para o escravismo.+
Os terreiros, congadas, maracatus, bumbas e outras tantas tradições pretas foram verdadeiros refúgios de reconstrução das identidades que seguiam tentando ser apagadas mesmo após a escravidão. Terra? Uma minoria conseguiu na marra ou na resistência negociada.+
Olha o tamanho de nosso problema. Temos "Duas Argentinas" em insegurança alimentar e "Uma Grande SP" passando fome no Brasil. Os dados são do site: olheparaafome.com.br. Só que esse buraco é mais fundo. Segue aí.+
Voltamos aos patamares de 2014 com 11,4% de pessoas em insegurança alimentar e 9% em insegurança alimentar severa. As políticas adotadas pelos políticos foram claras: Teto de Gastos, fim da reforma agrária, privatizações, baixo investimento em políticas sociais, etc;+
Enquanto isso o agro que num é pop nem nada, segue batendo record atrás de record nas suas safras aproveitando uma política econômica de dólar alto. Se o latifúndio tá feliz, é claro que a gente tá triste. Mas ainda piora.+ agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-notici…
Se o PM trabalhava em Itacaré, são 5h de carro até Salvador, com um Ferry-Boat no meio do caminho. Ele passa obrigatoriamente por 2 postos de policia rodoviária. Se ele não se apresentou com o fuzil de trabalho no batalhão, pergunta: como a PM não parou ele antes?+
Se ele não passou pelo Ferry, então foi pela BR. Ai são 2 postos de PRF no mínimo, e uma da rodoviária estadual. Por que não foi dado o alerta para que as polícias parassem um PM que levou um fuzil da guarnição? +
Disseram na imprensa que ele estava sendo seguido por viaturas antes de chegar no Farol da Barra. Pergunta-se: então a PM alertou só depois de mais de 5h da situação? Ou que outro incidente ele teria causado para chamar atenção de policiais de Salvador?+