O corpo preto é o primeiro território a ser defendido por quem é preto, preta. Assim nos ensinou Dra. Andreia Beatriz da @ReajaOu. Às vezes nos acusam de identitarismo, mas ao povo preto, despossuído de terra e riqueza, o que sobrou foi a identidade para lutar. Veja...+
Proibido de usar seu idioma, de ter um nome próprio que o conecta a sua terra, de cultuar sua espiritualidade, aprendemos que fizeram de seu corpo a memória de sua terra com escarificações. Era a mais visível forma de não perder tudo de seu ser para o escravismo.+
Os terreiros, congadas, maracatus, bumbas e outras tantas tradições pretas foram verdadeiros refúgios de reconstrução das identidades que seguiam tentando ser apagadas mesmo após a escravidão. Terra? Uma minoria conseguiu na marra ou na resistência negociada.+
Não é fácil nestas condições imaginar qualquer arranjo coletivo mais universal como a pertença à classe trabalhadora. E isto nunca significou ausência de uma luta concreta e absoluta por terra, por um território seu ou por dignidade aos seus.+
Rebeliões, revoltas, territórios tomados, quilombos, palenques, cimarones, nós vimos a luta dos povos pretos erguer-se muito antes dos trabalhadores europeus começarem um despertar crítico contra seus reis e depois contra a burguesia. +
Contudo a luta preta não virou uma referência universal e até hoje tem dificuldades de ser considerada 'teoria', este produto fino e acabado da intelectualidade. Mas isto não significa que tenha tomado poucos meios de produção. Muito pelo contrário.+
Se contarmos os quilombos com terra, as comunidades pretas extrativistas e os pequenos proprietários de terra pretos que ainda vivem a agricultura comunitária, não há dúvida que possuem mais meios de produção que nossos partidos revolucionários.+
Mas daí sairá uma revolução, meu caro? Então, daí tem saído até hoje as condições de existência de nossos povos em meio ao genocídio preto. E se existe uma dificuldade de acumulação organizada numa única estratégia, talvez a garantia destas comunidades fez freio ao capital.+
Uma das nossas grandes derrotas foi aceitar a política da sociedade civil capitalista baseada no indivíduo. Enquanto lutávamos como comunidades, povos pretos, tínhamos mais força. Mas ainda há um resquício disto e daí dá para sair muita luta ainda.+
As comunidades periféricas precisam desse encontro com as comunidades pretas rurais. Precisam visitar os avós na roça ou no interior. Precisam reaprender o caminho da terra. A forme e violência que nos atingem não tem data para ir embora. O campo tem muito mais independência.+
Quanto ao identitarismo, sejamos francos: há uma política de genocídio de nosso povo em curso. Nós já vamos voltar à terra, só que por baixo dela. Que passemos da defesa de nossos corpos à defesa do retorno à terra por cima dela.+
Que quilombismo tenha cheiro de chão. Que aquilombamento tenha gosto de terra. Que não permitamos que os de cima sigam representando nossas lutas e as tornando simbólicas. Nunca foi só por identidade, sempre foi por terra e território, pela vida em nosso terreiro.
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Olha o tamanho de nosso problema. Temos "Duas Argentinas" em insegurança alimentar e "Uma Grande SP" passando fome no Brasil. Os dados são do site: olheparaafome.com.br. Só que esse buraco é mais fundo. Segue aí.+
Voltamos aos patamares de 2014 com 11,4% de pessoas em insegurança alimentar e 9% em insegurança alimentar severa. As políticas adotadas pelos políticos foram claras: Teto de Gastos, fim da reforma agrária, privatizações, baixo investimento em políticas sociais, etc;+
Enquanto isso o agro que num é pop nem nada, segue batendo record atrás de record nas suas safras aproveitando uma política econômica de dólar alto. Se o latifúndio tá feliz, é claro que a gente tá triste. Mas ainda piora.+ agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-notici…
Se o PM trabalhava em Itacaré, são 5h de carro até Salvador, com um Ferry-Boat no meio do caminho. Ele passa obrigatoriamente por 2 postos de policia rodoviária. Se ele não se apresentou com o fuzil de trabalho no batalhão, pergunta: como a PM não parou ele antes?+
Se ele não passou pelo Ferry, então foi pela BR. Ai são 2 postos de PRF no mínimo, e uma da rodoviária estadual. Por que não foi dado o alerta para que as polícias parassem um PM que levou um fuzil da guarnição? +
Disseram na imprensa que ele estava sendo seguido por viaturas antes de chegar no Farol da Barra. Pergunta-se: então a PM alertou só depois de mais de 5h da situação? Ou que outro incidente ele teria causado para chamar atenção de policiais de Salvador?+
Desde quando comecei a frequentar as rodas de capoeira angola e depois os terreiros de candomblé, uma expressão comum martelava: só passa axé quem tem axé. Essa é uma sabedoria de como transmitir a tradição ao futuro de maneira desalienada, direta, mestre a discípulo.+
De alguma forma nós reproduzimos isto no meio das esquerdas quando valorizamos escritos de Chê, Lenin, Fidel, Mao, Ho Chi Minh, SCI Marcos, Sankara, etc. Ou seja, lemos os escritos revolucionários daqueles que fizeram a seus modos suas revoluções e aprenderam com elas.+
Contudo, também, sempre rolou muitos intelectuais que não vivenciaram muita coisa, não participaram das lutas de seus tempo, ficaram nos gabinetes e ali e acolá nós aprendemos algumas coisas. O profeta Muhammad diz que o conhecimento devemos buscar até na China (no lugar longe).+
Nós ficamos felizes por uma injustiça ser parcialmente desfeita - Lula pegou cana e foi impedido de usar seus direitos políticos, por tanto, alguéns deveriam ser penalizados por terem feito isto. Mas eu penso logo: que tipo de arte do cão trama a burguesia contra nós?+
Para mim vem mais um ciclo de de ilusões. Ilusão do campo democrático-popular, no petismo, na democracia burguesa, nas eleições, enfim. E com tudo isto há que ter a certeza absoluta: a burguesia tem projeto de poder e não envolve romper a desigualdade que estrutura o BR.+
O mau governo e muitos militares estão cometendo genocídio. O golpe dado em 2016 não foi derrubado pelo povo. Se houver uma transição pacífica será, evidentemente, com todo perdão pelas perversidades do mau governo. Isso não é paz.+
Uma coisa tb que ficou muito evidente para mim é que a galera tem uma formação política para o debate racial rasa como um pires (de cabeça para baixo), mas eficaz para este modelo de redes. Você mete uns termos pré-fabricados, uma emulação de altivez e estética. Cabô.+
O problema que um pouco mais de olhar sobre o processo e as contradições vão do não domínio de conceito básico e/ou história até não conseguir extrair da experiência registrada como lidar com situações de subalternização e de ódio racial. É tudo superficial.+
Quando a gente se expõe ao trabalho de base, com as comunidades e mesmo se coloca como aprendizes das lideranças, vamos percebendo que estes termos pré-fabricados podem dar lugar ao silêncio diante da dor, à escuta sensível e à postura de combate que nasce das coisas simples.+
Antes deste modelo de agricultura industrial houve toda uma cultura de difusão de como viver na cidade era moderno, desenvolvido, culturalmente mais avançado. Pq antes de tomar a terra, é preciso enfraquecer a resistência e isso começa pelo imaginário, pela cultura.+
Quando falamos em êxodo rural, nós associamos a secas, paisagens castigadas, mas falamos pouco do papel do rádio e da TV, por um lado, e da violência e autoritarismo dos fazendeiros, por outro. A operação de força precisa e financia a operação ideológica, cultural.+
Quem é do interior sabe que muitos políticos profissionais são ao mesmo tempo donos de terras e dos meios de comunicação local. Quando não o são, estão ligados por parentescos ou afiliação política. Eu trabalhei com jornais em meados do século XX, aquilo era uma operação.+