É preciso entender que a Copa América é muito pior do que a realização dos campeonatos e eventos esportivos (que em função da pandemia, não deveriam estar sendo realizados).
São 10 delegações. Imprensa esportiva. Anunciantes. Sem torcida, claro - dentro do estádio.
Colômbia, Chile e Argentina rejeitaram o evento, mas fazem seus campeonatos nacionais. Por que? Ou por considerarem que a pandemia se agravaria, ou porque não queriam dar isenção fiscal pra Conmebol e anunciantes, ou simplesmente por causa dos protestos.
A gente pode dizer que eles estão sendo hipócritas, já que seus campeonatos nacionais tão rolando, mas as condições da Conmebol (que envolvem inclusive final com público) são inaceitáveis. Ou eram.
O governo brasileiro e a CBF acharam de boa.
Isso tornaria, então, o governo brasileiro menos hipócrita? Ou mais desdenhoso com a saúde e a economia dos brasileiros?
Podemos debater isso. Afinal, a Copa América é pior do que os demais campeonatos (e eu tenho certeza que é)
Eu só não acho que devemos fazer esse debate.
O governo Bolsonaro resolveu comprar uma briga, sediar um mega-evento em tempo de pandemia. Deliberadamente mesmo, não foi compromisso prévio.
Ele precisa mesmo que fiquemos nós, da oposição, refletindo sobre o mérito da ação? Sobre o quão pior é a Copa América?
Ou a gente deveria aproveitar a onda de indignação para, com isso, pressionar ainda mais esse desgoverno e isolar ele politicamente? Para ocupar espaços (na rua, no parlamento, nas redes) dialogando com essa indignação?
Um dia queria escrever uma história dos #panelaços no Brasil. É um tema interessante, protesto social e suas múltiplas formas. E por aqui, ele foi apropriado por diferentes classes e diferentes ideologias - em diferentes contextos.
Mas a verdade é que panelaço tem uma variante latino-americana que é o cazerolazo. E como no Brasil, as "cazerolas" não têm uma ideologia específica.
No Chile, em 1971, viraram sinônimo de protesto da direita golpista contra Salvador Allende.
Mas tanto na Argentina, em 1982, quanto no Uruguai, em 1983, os cacerolazos foram apropriados pela luta contra a ditadura. Uma luta talvez ainda restrita a setores privilegiados...um professor meu, uruguaio, dizia que essa era um protesto das classes médias.
Sobre fascista e não-fascista, tem um textinho que encontrei uma vez vendo as referências de uma pesquisa do antropólogo Gilberto Velho.
Se chama "Good people, dirty work", escrito pelo antropólogo Everett C. Hughes focado na Alemanha nazista (procurem nos russos).
Na verdade, o foco é Hughes analisando o imediato pós-guerra na Alemanha. As pessoas comuns lá, tudo arrependidas, mas no fundo, elas soltavam pistas de que sua adesão ao nazismo na época é porque os nazistas faziam o "trabalho sujo".
O trabalho sujo poderia ser uma série de coisas, mas basicamente, na compreensão das pessoas comuns, eles resolviam os problemas das pessoas com antisemitismo, diversidade, pautas morais que estavam disseminadas antes do nazismo.
Sobre o Hamas ser legítimo, ou não, para mim parece óbvio.
Quem confere a legitimidade do Hamas enquanto partido é o povo palestino. Parte significativa dele apoia o Hamas. A legitimidade tá aí.
Pode se alegar que há discurso no Hamas que promovem o fim de Israel e anti-semitismo. Mas consideremos que o Likud também promove o fim da Palestina e o sentimento anti-árabe.
Entretanto, só o Hamas é representado como terrorista.
Ainda que desde 2008 o partido tenha se posicionado a favor da solução dos dois Estados, ainda hoje impera a versão de que o Hamas é contra o Estado de Israel. A cobertura de boa parte da imprensa segue o mesmo tom desde os anos 1990 (mesmo que o maior atentado político...
Graças ao @ThiagoKrause2 li uma das resenhas da nova biografia de Edward Said e graças ao @MundosTrabalho li a resenha da Barbara Weinstein sobre a biografia do Eric Hobsbawm.
O foda é que agora quero ler muito ambas. Já falei que gosto muito de biografias?
Mas falando sério, as duas resenhas são muito boas. E me chama atenção como dois intelectuais que escreveram textos autobiográficos ao longo da sua vida são, agora, biografados em morte.
Enfim, para quem quer ler as resenhas, essa é a da professora Barbara Weinstein (em português) sobre a biografia de Hobsbawm:
Não acompanhei a CPI, mas apesar de querer, sei que o foco não é prender ninguém.
CPI é palco.
Nesse ponto, o fato do Flavinho caganeira ter ido lá fazer chacrinha é sintomático de que é preciso criar factóide pra não ser engolido no tsunami de merda.
Isso não quer dizer que a CPI vai necessariamente dar em pizza, mas... né, o primordial dela é fazer palco, mostrar que os caras são culpados mesmo para a opinião pública. Nesse ponto, o Waisifuden lá contribuiu lindamente.
A narrativa da CPI o Planalto já perdeu faz tempo. Mas vai rolar cada vez mais chinelagem.
Renan vai jogar com chuva, no La Bombonera e sem policiamento. Vai ser bonito de ver.
Não são poucas as falas nostálgicas de colegas sobre a universidade no passado, quando ela supostamente era uma ilha de excelência diante de nossa tamanha desigualdade.
Nesse ponto, vejo que a extrema-direita soube capturar esse lamento, transformando-o em arma ideológica.
Na guerra cultural que ela promove, há esse insólito encontro do fascismo com docentes que se recusam a repensar suas abordagens didáticas, seus comportamentos e até mesmo o papel da universidade. Aquele chorume que a própria Piauí publicou de um anônimo reclamando...