Acho que precisamos trabalhar com a hipótese de que Bolsonaro é favorito nas eleições do ano que vem.

Temos boas razões para isto, infelizmente. 🧶
As pesquisas que indicam bons resultados de Lula têm sido recebidas com entusiasmo. De fato há um alívio no fato de haver uma alternativa competitiva na mesa, fazendo os movimentos certos de aproximação com o centro e ampliação da candidatura.

Mas…
… o que vem pela frente pode mudar o cenário. Há previsão de um ciclo internacional de boom de commodities, que pode aquecer a economia brasileira, apesar da inépcia do governo. Se a pandemia arrefecer a partir do final do ano, com a vacinação, 2022 pode ter ares positivos.

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Bolsonaro nos levou ao buraco, na saúde e na economia. Mas a recuperação, mesmo partindo do fundo do poço, pode resultar em sentimento de melhora. Aqui, o @NPTO aventa a hipótese de o boom de commodities durar o tempo para reeleger o criminoso.

www1.folha.uol.com.br/colunas/celso-…

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Além disso, é preciso lembrar que, mesmo em seu pior momento, Bolsonaro manteve 25% de aprovação. Mesmo com a CPI no encalço, com a grande imprensa desembarcando, com meio milhão de mortos. A resiliência do núcleo duro bolsonarista é enorme e o coloca no 2º turno.

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Se a economia melhorar e a pandemia acabar, esses 25% serão acrescidos de parte de ⅓ do eleitorado que não eram nem a favor nem contra o presidente, e que passaram a rejeitá-lo neste momento. Este ⅓ é volátil, como bem lembrou o @zerotoledo no último Foro de Teresina.

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"Bolsonaro está fraco o suficiente para ser menosprezado pelos adversários e forte o suficiente para chegar ao 2º turno em 2022", resumiu a @RenataLoPrete em entrevista com Marcos Nobre. Menosprezar Bolsonaro, achar que ele está fraco, é tudo que ele precisa.

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O @vtorresfreire resumiu: "O pessimismo exagerado é uma espécie de otimismo negligente que pode custar caro a quem queira derrotar Bolsonaro em 2022." Em suma, desiste-se da disputa, mas acreditando no fundo que "Bolsonaro vá cair de podre". Não vai.

www1.folha.uol.com.br/colunas/vinici…

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O Miguel Lago desenvolveu, em um texto muito bom e extenso, onde estariam os furos dos que pensam que será fácil derrubar Bolsonaro em 2022. Para ele, "o favoritismo deve-se em parte à miopia de seus adversários que, repetindo o que fizeram em 2018, insistem em menosprezá-lo."
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O texto do Miguel é excelente – daria um fio bem maior que este. Leiam e compartilhem com seus dirigentes partidários favoritos. Ele examina como poucos os méritos políticos do Bolsonarismo, sua capacidade de fazer política num mundo de redes.

piaui.folha.uol.com.br/materia/batalh…

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A saída para enfrentar o bolsonarismo, argumenta Miguel, estaria em alterar o terreno do jogo, hoje favorável a Bolsonaro. Em seu argumento, a polarização criada por Bolsonaro (sistema vs antissistema, que entendemos como civilização vs bárbarie) o favorece eleitoralmente.

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A mudança do tabuleiro se daria pela chave do populismo. Não o populismo em seu sentido pueril, que geralmente é associado a demagogia e utilizado para desqualificar os adversários. Mas no populismo como forma de articulação política, na linha de teóricos como Laclau e Mouffe.
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Trata-se de uma forma de articulação política em que uma oposição entre povo e elite é feita a partir de uma cadeia de equivalências em torno de um significante vazio. Tipo: "nós somos os 99%", que pressupõe o 1% do outro lado e reúne do lado de cá uma gama de setores.

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Nessa linha, Miguel propõe contrapor os "batalhadores" – um significante que pode reunir o povo trabalhador, as mulheres, motoristas de aplicativos, motociclistas, todos aqueles que sofrem preconceitos, etc – aos "encostados" - Bolsonaro e sua família, que nunca trabalharam.

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Esse debate é central para os estrategistas de campanha. Mas diz respeito a nós também, na longa campanha que precisa começar já. Lembram daquele espírito do Vira Voto do 2º turno de 2018? Penso que precisamos começar a estruturar algo do tipo já e ir até as eleições.

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Como argumentou a @_pinheira, "o processo político daqui até 2022 é longo, duro e muito menos linear do que se pode imaginar." Para ela, ganhar as ruas é um dos elementos-chave dessa disputa. Em suas palavras, "as ruas são um dos principais remédios para mostrar…
… insatisfação popular, intimidar o bolsonarismo e causar ruptura da normalidade. Mas as ruas também são importantes para que as pessoas se reencontrem, rompam com a dor do isolamento político e possam reaprender a estar juntas novamente."

brasil.elpais.com/brasil/2021-05…

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Esse fio não tem respostas, no máximo pistas. Os textos aqui citados, especialmente o do Miguel e o da Rosana, apontam alguns caminhos. Precisamos de um grande esforço para construí-los. O primeiro passo é esquecer a ideia de que Bolsonaro está fraco e a eleição tá ganha.

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A eleição de 2022 vai ser crucial para o país. A experiência internacional mostra que, quando autocratas ganham o 2º mandato, aceleram o projeto de destruição da democracia. Se o bolsonarismo já causou tanta desgraça no 1º mandato, imaginem no 2º. A responsabilidade é enorme.
Acabou de sair uma entrevista muito importante nessa linha, do Marcos Nobre. Ele aponta a força de Bolsonaro, a possibilidade real de um cenário em 2022 melhor do que 2021 e o risco de reeleição. Precisa muito ser lida e levada a sério.

marcozero.org/bolsonaro-e-um…
Resumo de alguns pontos desse fio, enfatizando que a ideia não é levar ao imobilismo, mas o contrário: precisamos de organização e engajamento para ganhar esse jogo.

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19 May
Nenhuma surpresa no uso da dispensa de licitação pelo Ministério da Saúde de Pazuello para contratar obras sem urgência por empresas duvidosas.

Todo o "milagre econômico" de 1968-73 foi baseado na "dispensa de concorrência", favorecendo grandes empreiteiras.

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O milagre rodoviarista dos anos 1970 só foi possível porque tinha em suas engrenagens o autoritarismo da ditadura, que impedia o debate social das obras e dava costas largas ao alastrado esquema de corrupção em que agentes públicos e privados se favoreciam mutuamente.

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As relações indecorosas entre empreiteiros e militares são fartamente apresentadas pelo historiador Pedro Henrique Pereira Campos, em sua tese de doutorado, depois publicada no livro "Estranhas catedrais: as empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar, 1964 - 68".

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Read 12 tweets
7 May
A operação mais letal da polícia do RJ deixou 25 PESSOAS MORTAS e apreendeu 6 fuzis no Jacarezinho ontem.

A maior apreensão de fuzis da história do RJ foi feita na casa de Ronie Lessa, no Vivendas da Barra: apreendeu 117 FUZIS e não deixou nenhum morto.
Ronnie Lessa – o PM aposentado acusado de assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes – era vizinho de Bolsonaro no Vivendas da Barra. E de lá saiu de carro, com seu parceiro Élcio de Queiroz, poucas horas antes do crime que encerrou a vida de Marielle.
A engenharia financeira do condomínio, que se serve da disseminação do medo e da narrativa do crime para impulsionar as vendas, é a mesma utilizada pelas milícias para extorquir moradores em troca de segurança paga e controle paraestatal de territórios.

piaui.folha.uol.com.br/materia/vivend…
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1 May
Dilemas diários do liberal à brasileira.

De manhã, busca um político de direita para ser o imaginário "Biden brasileiro".

À tarde, afirma que as políticas do Biden real, de inspiração keynesiana, não são aplicáveis o Brasil.

Deu curto-circuito.
*Ops, aplicáveis AO Brasil
Biden, de centro, foi eleito com o apoio da esquerda, de Sanders e AOC. A ideia de um "Biden brasileiro" é meio ridícula, mas se a transposição fosse feita, o político mais apto a bater Bolsonaro com o apoio do centro e da esquerda começa com LU e termina com LA.
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30 Apr
Sonhando com o dia em que vão finalmente entender que quem estava na rua lutando pela melhoria de transporte público era também o filho do porteiro que foi pra Universidade.
Luiz Felipe Aniceto de Almeida, atendente de 23 anos, a mãe trabalha como agente de combate a endemias. Morador da periferia.

Morreu ao cair de um viaduto em BH, tentando fugir dos tiros da polícia, durante as manifestações de 2013.
Douglas Henrique de Oliveira, estudante de 21 anos, filho de empregada doméstica, morador da periferia de BH.

Morreu ao cair de um viaduto, fugindo dos tiros e bombas da polícia, durante as manifestações de 2013.
Read 4 tweets
28 Apr
"Se ninguém defender o legado de Moro, é o país que perde", escreveu hoje o Joel Pinheiro da Fonseca.

O artigo não é só negacionista. É também ingênuo e desinformado sobre o debate de combate à corrupção.

+
Primeiro, o artigo passa pano para as graves ilegalidades cometidas por Moro e procuradores. O que o autor chama de "excessos" ou até "abusos" diz respeito a desvirtuação do processo legal, com o juiz instruindo a acusação, combinando ações conluiadas, etc.

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Muita gente boa da área já escreveu sobre as ilegalidades da Lava Jato, como @augustodeAB e @reglezer. A lista de desvios é graúda. Fico com uma: o que Joel pensa de um juiz sugerir aos procuradores não investigar um político (FHC) para não melindrar um aliado?

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25 Apr
Marcos Lisboa comparou o plano de infraestrutura do Biden às desonerações fiscais dos governos petistas, para dizer que já tentamos um plano Biden no BR e não deu certo.

Não consegui entender por que ele comparou investimento público em infraestrutura com renúncia fiscal. +
O American Jobs Plan é majoritariamente um plano de investimento público em infraestrutura. Poderia ser comparado com o PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Seria um ótimo exercício, aliás.

Mas, ao comparar alhos com bugalhos, o renomado economista só mostra que...
... sua oposição a qualquer forma de liderança do investimento público é maior do que a racionalidade que ele pretende levar aos debates.

A efetividade do gasto público precisa ser debatida. Mas confundir e jogar pra plateia não ajuda em nada.
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