Witzel não é e nunca será um "aliado útil", como vi alguém dizendo por aí. Não podemos cair nessa lógica simplória do "inimigo do meu inimigo...".
Witzel é uma bomba, simples assim. E que bom que ela está explodindo no colo dos bolsonaristas.
Witzel não é inocente: é um facínora da pior espécie, daqueles cujo o comportamento beira o sadismo. Mas tudo indica que ele foi alvo de uma operação do bolsonarismo, de algo que já fora denunciado por outros, uma tentativa de criar uma máquina totalitária.
Bolsonaro nunca escondeu suas intenções, ele opera uma espécie de ligação direta do Planalto com a esfera local, passando por cima dos poderes intermediários, especialmente quando estes não estão de acordo com seus desígnios. Esse esvaziamento dos poderes é muito perigoso.
Witzel, tudo indica, foi o alvo prioritário dessa operação por dois motivos: as investigações sobre a execução de Marielle e Anderson e as investigações sobre as rachadinhas de Flávio Bolsonaro.
Witzel perdeu essa disputa e teve a sua carreira política completamente destruída no processo. Provavelmente irá preso, inclusive. Felizmente, o seu desejo de vingança é maior que sua vontade de autopreservação. Donde se transformar numa bomba ambulante.
O que ele falou sobre as OS é crucial, o desenho que ele fez sobre a omissão do governo federal durante a pandemia, os deputados organizando carreatas pedindo a reabertura do comércio, tudo isso tem chances imensas de reverberar, atrapalhar alguns planos do Bolsonarismo.
Especialmente no que diz respeito a "reeleição" de Cláudio Castro - para quem não sabe, praticamente um ministro bolsonarista.
Por isso seu depoimento tem que ser comemorado. Agora, isso não significa celebrar o sujeito, se aliar a ele. Inclusive, comemoro esse depoimento pois se trata do obituário político do sujeito.
Salvo por um milagre, esse foi o fim da vida pública de um sujeito que sonhava em ser presidente dá ONU.
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Aproveitando mais uma noite insone passei a organizar as minhas notas que escrevi ao longo dos últimos seis anos monitorando redes que hoje integram o conluio bolsonarista. Impressionante como elas apontam, sempre, para uma máquina de produção e manejo de afetos e subjetividades.
São sempre os mesmos arquétipos, os mesmos tipos de sujeitos - mas não os mesmos sujeitos -, os mesmos afetos. Quanto mais fundo no sistema, mais próximo de um sujeito ideal. Bolsonaro, sua subjetiivdade, é esse sujeito ideal.
Ao longo dos anos tive a oportunidade de conversar com diversas pessoas que tiveram o desprazer de conviver com o presidente e todas dizem a mesma coisa: ele é basicamente aquilo ali, não é encenação, ele realmente acredita nas coisas que fala.
Eu vou anotando temas para desenvolver melhor quando tiver tempo para escrever alguma coisa. Um deles é como a boa parte dos comentários políticos (especialmente na internet) ignoram os setores "médios" da sociedade brasileira e sobre como isso compromete o resultado das análises
Quando se fala de bolsonarismo, por exemplo, ignora-se muito o papel dos "setores médios" na sua codificação e difusão - por isso o trabalho da @kalil_isabela é muito importante -, e sobre como eles se comportam de maneira muito distinta dos outros dois setores.
Um exemplo recente dessa discussão é uma crença difundida de que basta um reajuste no Bolso Família para Bolsonaro garantir sua reeleição. Uma análise que ignora, por exemplo, a crescente insatisfação da classe média que, tem quase uma década, vem sendo pauperizada.
Hoje a #CPIdaCovid promete, teremos a "ilustre" presença do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, também conhecido como Whitney Houston. O sujeito que sonhava em ser presidente da ONU e atualmente é coach de concurseiro.
Para quem não conhece, Witzel é mais um desses que se elegeu na onda conservadora, prometendo matar traficantes com tiros na cabeça, fazendo cospobre de PM - e andava para cima e para baixo com uma faixa de governador comprada numa loja de fantasias.
Witzel sempre foi ambicioso, nunca escondeu que o governo do Rio era apenas um estágio, ele almejava presidência da República e posteriomente - é sério - a presidência da ONU.
O vergonhoso - e perigoso - da decisão do Nunes Marques que manteve o sigilo de Élcio Franco é que ela já desenha uma linha de defesa para os indiciados na CPI em eventuais processos criminais.
Olha o nível da vergonha "não se pode confundir a hesitação de decisores ante dúvidas e incertezas, dadas circunstâncias profundamente aleatórias e complexas criadas pela Covid-19, com crime omissivo"
"hesitação", os sujeitos estão receitando nebulização de cloroquina e dispensando vacina e o Ministro está falando de "hesitação". E piora, ainda piora.
Nessa semana a #CPIdaCovid se tornará um cópia do velho quadro televisivo "a porta dos desesperados", teremos depoimentos de pessoas que estão na mira da justiça, hoje teremos Marcellus Campêlo, ex-secretário de Saúde do AM.
O depoimento de Marcellus Campêlo será crucial para desmontar a versão do Governo Federal e comprovar que Pazuello e Mayra Pinheiro mentiram deliberadamente sobre o colapso em Manaus, Campêlo já afirmou em depoimento que o MS foi oficialmente comunicado no dia 07 de janeiro.
Campêlo também deve confirmar a tese de que o Ministério da Saúde tinha a intenção de utilizar Manaus como um caso exemplar do sucesso da Cloroquina - mesmo sabendo da iminência do colapso do sistema de atendimento.
Estou beirando meus 40, nasci, fui criado e vivo no subúrbio do Rio de Janeiro, tempo suficiente para saber que casos como o de Kathlen Romeu não são uma exceção, tampouco um ponto final (ou exclamação) na política de extermínio carioca.
Infelizmente, é um ponto e vírgula.
Viver no Rio de Janeiro é viver em suspenso entre uma tragédia e outra. Ela será a grande tragédia da cidade até a próxima criança, a próxima grávida, o próximo inocente. Eu mesmo já vivi tempo suficiente para perder familiares e amigos (sim no plural) dessa forma.
Eu, eles, são apenas estatística, não há nada de extraordinário. Entre uma chacina e outra naturalizamos a barbárie e tentamos seguir com a nossa vida.