A Folha começou a dar "barrigas" importantes. Sente a pressão da concorrência e a necessidade de dar "furos jornalísticos " para se diferenciar das redes sociais. www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
1) Sinto que este fenômeno é recente, mas afeta veículos como a Folha que se pautam pelo perfil do seu leitor. O DATAFOLHA realiza periodicamente pesquisa sobre este perfil. Sinteticamente, trata-se de um perfil bem tucano: liberal nos costumes e na política econômica
2) No levantamento realizado em 1998, o leitor médio da Folha era casado, 38 anos, com diploma universitário, católico e das classes A e B. www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2…
3) Em novo levantamento realizado em 2000, o leitor típico da Folha tinha 40 anos e mantinha alto padrão de renda e de escolaridade. A faixa etária média estava no intervalo que vai de 30 a 49 anos (a idade média era 40,3). O leitor não-paulista era mais jovem e mais elitizado
4) A visão liberal é predominante entre os leitores da Folha. Se no levantamento de 1997 havia praticamente um equilíbrio entre os que eram a favor (45%) e os contrários à adoção da pena de morte (51%), em 2000 a maioria que discorda desse tipo de punição atingia 61% do total
5) Ainda em 2000, 33% apoiavam a descriminação do uso da maconha e 85% apoiavam a reforma agrária, sendo que 59% apoiavam a descriminação do aborto. Metade era favorável à união homoafetiva.
6) Salto para o período digital da Folha, quando cria um perfil no Twitter, em abril de 2008. Em dezembro de 2019, possuía mais de 6,8 milhões de seguidores. Publicava uma média de 967 tweets por dia. Em março de 2019, a Folha liderou a circulação total (digital e impressa)
7) Em janeiro de 2019, a @folha ganhou destaque ao publicar a primeira thread no Twitter, recebendo 20 mil curtidas. As matérias mais acessadas foram às das editorias de Poder, Mundo, Cotidiano e Ambiente, além de conteúdos do caderno Ilustrada e do site de entretenimento.
8) Há picos de acessos às notícias da Folha, como as relacionadas com meio ambiente. Contudo, não existe um foco de atenção do leitor ou seguidor da Folha no Twitter, o que nos leva ao início deste fio: a insegurança editorial da Folha
9) Como o perfil é liberal no costume, mas oscila em termos econômicos e políticos e, ainda, a atenção do leitor da Folha é significativamente dispersa, a Folha é levada a enveredar para a busca de "furos jornalísticos " para se diferenciar das redes sociais.
10) Por aí, aumenta sua velocidade de produção em detrimento da essência do jornalismo: a apuração. Acredito, ainda, que se tornou refém da confusão entre opinião e notícia que inundou as editorias brasileiras neste século.
11) Se analisarmos as manchetes de veículos de informação brasileiros, perceberemos uma certa oscilação entre o sensacional (a atenção do leitor sendo atraída pelo espetacular) e o tom opinativo. As opiniões diminuem o custo de reportagens e apurações e são emocionalmente fortes
12) Do ponto de vista jornalístico, contudo, tais manchetes esvaziam o trabalho do repórter. O colunista passa a ser a notícia. Basta vermos como Reinaldo Azevedo é mais comentado do que efetivamente noticia. O veículo fica refém da celebridade
13) Finalmente, a auto exigência da Folha com a síntese, a objetividade visual, o texto "clean" que a distinguiu, anos atrás, do modelo Estadão, prejudica ainda mais a qualidade do conteúdo e a possibilidade de explorar contradições e tendências. Tudo fica muito objetivado
14) Tal linha editorial exige uma enorme capacidade de leitura da realidade porque se apoia na síntese e no foco do que noticiar ou explorar em meio ao dinamismo dos acontecimentos. A situação piora em momentos de transição de padrões sociais e políticos. Este é o caso.
15) O governo Bolsonaro vinha claudicando, mas se mantinha nos 30% de avaliação positiva. De repente, a avalanche: CPI e mobilizações de rua nitidamente com "ethos" de esquerda. Onde fica a Folha? Como reage o editor se está "de rabo preso com o leitor"?
16) Esta é a tragédia para um jornal liberal, de linha editorial nitidamente mercadológica (que segue os interesses do leitor-cliente): como definir a manchete espetacular ou quem destacar entre os colunistas e opiniões? Como acompanhar a mudança rápida de percepção social?
17) Foram ao menos três "barrigas" (o jargão jornalístico para escorregada ou pisada no tomate) da Folha em duas semanas. Hoje, foi obrigada a se retratar com destaque porque seu erro estimulou pânico em relação às vacinas pretensamente vencidas.
18) Vivemos mudanças aceleradas neste início de século e desgastes profundos de governantes (mais que o desgaste de parlamentares) devido à fragmentação de interesses e fragilidades na economia mundial. Vivemos disputas muito agressivas entre EUA, China e Rússia com repercussões
19) Denominei essa corrosão da legitimidade de governantes de "política de ciclo curto". Um governante dificilmente consegue atender a tantas demandas, tantos interesses fragmentados e tanta mudança acelerada no mundo atual. Em dois anos, perde o charme.
20) Assim, definir uma linha editorial a partir do que o leitor-cliente deseja é correr num labirinto no qual o editor tende a se perder constantemente. O erro não está nos profissionais da Folha, mas na sua estratégia comercial que invade a linha editorial.
21) A Folha, enfim, parece refém de suas escolhas. Como, aliás, acontece com todos nós. Seus "furos" também ingressaram no "ciclo curto" das notícias. Imagino que terá que se reestruturar. O início do século envelheceu precocemente. (FIM)
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Bom dia. Farei um fio sobre as manifestações de ontem a partir de um prisma: a esquerda retomou as ruas. Lá vai.
1) As manifestações de ontem foram mais potentes que as duas anteriores. Os organizadores citam 800 mil manifestantes em pouco mais de 300 cidades. Tudo foi organizado em pouco mais de uma semana, já que a decisão inicial era da manifestação ocorrer em 24 de julho.
2) Os manifestantes estavam mais confiantes. Estampavam cartazes e bonecos mais agressivos em relação ao governo Bolsonaro e, agora, à Arthur Lira.
Já aparecem performances como os cartazes dos familiares mortos pela COVID estampados nas ruas de João Pessoa.
Início do encontro estadual do Pacto no Maranhão, retransmitido pela página da UFMA, pelo Youtube. Começou com o "Toque das Caixeiras". Em seguida, apresentação do Boi de Leonardo- Zabumba da Liberdade
Este é o quarto encontro estadual do Pacto Educativo Global no Brasil. Já tivemos o encontro de MG, de SP e de PE. Nas próximas semanas: DF, RS e PR. Queremos nos estruturar no Brasil para construir uma proposta nacional para educação brasileira
O Pacto Educativo Global foi lançado pelo Papa Francisco em setembro de 2019. Em 2020, realizamos um encontro nacional de lançamento do Pacto brasileiro na sede do SINESP, em São Paulo. Mais de 60 entidades participaram desse evento inicial
Bom dia. Prometi um fio sobre os desafios das manifestações de rua e a dificuldade da esquerda partidária compreender e se definir em relação à atual conjuntura. Lá vai.
1) As manifestações que iniciaram em 29 de maio são coordenadas por mais de 600 entidades que se reúnem ao redor da Campanha Fora Bolsonaro. São organizações do campo popular e de esquerda. Então, o primeiro passo é distinguir esquerda.
2) Temos uma divisão não explícita entre a esquerda que se vincula aos movimentos sociais e entidades da sociedade civil e a esquerda partidária. Esta divisão já existia em muitas organizações de esquerda (semi-clandestinas) desde os anos 1980. Havia divergências internas
Percebo que há certo oba-oba de todo setor empresarial e de direita (os de extrema-direita não conseguem falar de coisa séria) sobre a tal "retomada da economia". Até economistas aparentemente do campo progressista estão ingressando nessa ladainha.
Gente que confunde crescimento econômico com desenvolvimento econômico (seria bom retornar às cartilhas que leram na faculdade) e são tão ingênuos que não entendem que se trata de disputa, no âmbito da política. Gente que se envolveu com as discussões de miocroeconomia
Com a taxa de desemprego beirando os 15% e consumo familiar (ver ICF) atingindo o menor nível desde novembro de 2020; com ritmo de vacinação projetando sua finalização somente em junho de 2023 (ver vacinômetro, da USP), chega a ser uma afronta ao bom senso bater bumbo
Um breve fio sobre a necessidade de estarmos atentos ao % de brasileiros vacinados com a segunda dose (contra Covid), não com os vacinados apenas com a primeira dose. O governo está procurando nos confundir. Lá vai.
1) Vejam o slide que estou postando como ilustração desta nota que fiz para apresentar na minha análise de conjuntura de amanhã às 8h. Percebam como vínhamos tendo a 1a e 2a doses com ligeira diferença em abril.
2) Contudo, a partir de maio, o número de pessoas que tomou a 2a dose despencou, aumentando muito o número dos que tomaram a 1a dose
Prometi que faria um fio sobre o desastre que se abate sobre nossa estrutura econômica. Dificilmente conseguiremos recuperar nossa pujança econômica na próxima década. Então, vamos ao fio.
1) Os empresários brasileiros festejam um crescimento do PIB neste ano que gira ao redor de 3,5%. Com um desemprego ao redor de 15% e aumento significativo do poder aquisitivo e precarização das condições gerais de trabalho no Brasil.
2) Sabemos como nosso empresariado é superficial e é incapaz de pensar um projeto nacional. Pensa a partir de seu próprio umbigo. Em 1994 lançou as bases de uma ofensiva para desregulamentação dos direitos sociais sob o slogan da redução de custos de produção.