Tenho acordo total quando se critica a ausência de organização e de acúmulo em lutas de rua. Mas se organização por si fosse sinal de sucesso na luta, veja bem: a gente tem partido revolucionário aqui há 100 anos. O debate é mais complexo e precisa de alteridade na reflexão.+
Nós temos muita rua, muito campo para a luta rebelde no Brasil. As estratégia de outras esquerdas atrapalha a de sua organização como? Você disputam o mesmo povo? O cursinho popular que fizeram naquela quebrada devia ser de vocês? Qt quebradas num tem ai para fazer uma ação?+
Então nosso problema é pelo oposto: há luta de menos num país sendo transformado em pasto fascista conservador cristão. Você pode achar que o campo de luta das outras esquerdas está equivocado, mas acaso sua organização conseguiu vencer alguma batalha decisiva pelos povos?+
Ou poderíamos aprofundar: no sindicato que vocês coordenam, a base é revolucionária e está pronta a tomar os meios de produção? Vocês já tomaram um território e o organizam conforme a concepção de luta que idealizam? Eu sei, o buraco é mais embaixo e este é o ponto.+
No fundo nós viramos comentadores demais de luta alheia e não temos o devido respeito por quem já fez um caminho que nunca ousamos aqui no Brasil percorrer. E você não tá com raiva do outro campo político de esquerda pq eles atrapalham, cê tá frustrado pq o seu tb tá ruim.+
Tá muito ruim, tamo perdendo batalha atrás de batalha e cada esforço que fazemos parece em vão. Enquanto isso uns pastores pilantras, umas organizações liberais com dinheiro do baronato, estão firmando bases em comunidades que poderiam estar em luta revolucionária.+
O coroa da barbearia, a tia do acarajé, o mais velho motorista do buzão, eles tão mais para estas organizações liberais e estes pastores do que para nossas organizações, né? E isso dói, né? Mas como vamos reclamar com eles? Então, começamos a procurar moinhos de vento.+
É fácil falar alto, engrossas nas redes ou numa manifestação para a galera do seu campo, que vc sabe que é humanista, que é pelo certo. O difícil é juntar o bonde para proteger testemunha ou sobrevivente de chacina. Difícil é parar o correntão no cerrado. Tem bala na agulha?+
Então compa, você num tem uma visão mais complexa ou profunda sobre a luta de classes. Você tá procurando demônios para a estratégia brilhante de sua organização não estar funcionando. Nem a comunicação e propaganda, nem o trabalho de base, nada está à altura do desafio do BR.+
Só que duas cabeça pensa mais que uma e várias organizações lutam melhor que uma só que se quer a principal ou a que comandará a unidade. Saiba que esta unidade nunca ocorreu no Brasil salvo o unidade do poder do latifúndio, da colonização. Quer assumir esse lugar?+
Essa unidade imaginária, desejada, até para ser construída precisaria de apoio dos divergentes desde baixo. Ai você tem que começar a se perguntar se tua palavra edifica esta aliança ou afasta-a. Se a postura da sua organização coloca muro ou ponte para a relação com as outras.+
Enfim, num tenta despejar suas frustrações como teorias. Nós estamos sofrendo pq é para estarmos sofrendo com meio milhão de mortos e a gente não consegue parar. Mas num me pinta como burro, não finja que vocês são politicamente superiores. Se fosse, tinham parado o genocídio.+
Nós estamos na mesma merda... e é por isso que Milton Santos chamava para a unidade: o que nos une é maior do que o que nos separa. É por isso que os Malês diziam: paz entre nós, guerra aos senhores. Uma aliança pequena e real é melhor que sua unidade imaginária!
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A luta indígena deveria ter centralidade para qualquer espectro de esquerda no BR. Vejamos, se liberar qualquer empreendimento capitalista em Terra Indígena, é deixar 12% das terras do país indisponíveis para o capital disponíveis para gerar riqueza para nossos inimigos. +
Por outro lado, se você impede novos territórios indígenas a partir da tese do marco temporal, nós estamos falando que menos terras irão se converter em bem comunal e passarão a ser meios de produção na mão dos mesmos de sempre: os latifundiários que ganharão mais poder.+
Se, pelo contrário, povos indígenas seguem se levantando e retomando terra, nós estamos falando que nossos inimigos (os latifundiários) perderão meios de produção, portanto, menos recurso, menos poder na sociedade. Tirar meio de produção da burguesia rual é fundamental.+
O que torna o pensamento dos povos menos capaz de seguir seu rumo até os corações e mentes das pessoas não é a hegemonia do pensamento europeu acadêmico. As interdições violentas anteriores à porta da academia são muito mais dolorosas. A censura da fome, da violência policial...+
Os medos produzidos pelo poder contra os territórios com pensamentos rebeldes são poderosos. Eles se construídos em doses homeopáticas nas rádios, TV's e jornais locais, são endossados em cada período eleitoral e vai minando aquela comunidade de pensadores autônomos.+
Mas os poderosos não fazem isso por uma defesa do cânone ocidental. Eles estão disputando ali o poder da terra e a influência sobre o povo potencialmente rebelde daquele lugar. São tarefas cotidianas de um bloqueio que impede a maioria dos povos rebeldes de alcançar a academia.+
Quanto mais eu acompanho a cena política brasileira, mas eu percebo que o caminho que deveríamos nos aprofundar está na tradição rebelde, clandestina das rebeliões de povos que vivemos, sobretudo, no século XIX e início do XX. Elas guardam algo que seria fundamental hoje.+
Uma moral elevadíssima de um povo sujeitado pela escravidão, mas que se rebelava apesar de todos os riscos. Não existia nem esboço do estado de direito. A tortura, a degola, a execução em campo e o enforcamento eram a prática do Estado brasileiro contra seu povo.+
E como ousavam resistir diante de todos estes riscos? É que o mundo dos povos apesar de violentado, carregava suas cosmovisões como uma extensão do corpo até o território, as águas, as matas, os parentes, os seres que ali viviam. Esta sabedoria formavam a gente para a guerra.+
Sobre greve e luta hoje. Sabemos pela @PFFparaTodos que é possível comprar PFF2 no atacado a R$1,30. Isto significa que uma manifestação de mil pessoas custaria R$1.300 para um sindicato. Bom, só a minha seção sindical tem arrecadação superior a 70 mil por mês. Segue o fio.+
Quando @CUT_Brasil, @CSPCONLUTAS, CTB, UGT e cia fazem suas reuniões nacionais, plenárias e etc, quanto gastavam com diárias e passagens de seus dirigentes? Vamos ser honestos? Quando custava uma plenária nacional da @andessn ou do @SINASEFE?+
Há quatro anos eu fiz uma conta por baixa de uma plenária nacional que um amigo foi e sem pensar no hotel, só entre passagens e alimentação, o custo da operação para dois dias superava fácil os 150 mil reais. Então não é falta de grana. +
Há alguns anos houve uma grande reunião com muitos movimentos sociais da Bahia em um dos territórios da Teia. A gente queria saber como seria a aliança e luta após a vitória do mau governo. O meu sindicato foi convidado, mandou dois representantes. Se liga no absurdo.+
Ali estavam Pataxó, Pataxó Hã-hã-hãe, Tupinambá, vários quilombos, MST, CETA, MSTB, tinha de tudo um pouco. E esses dois sindicalistas, com carro alugado, com diárias pagas pelos sindicato... chegaram uma dia depois de acabar a reunião... e cheirando à bebida.+
Os caras foram dirigindo e bebendo de Salvador até um assentamento que fica pelo menos 6h de viagem. Não bastasse o desrespeito com os povos em luta, a safadeza e irresponsabilidade de beber no volante. Eu vi tudo. E outros militantes. Tudo muito triste.+
O corpo preto é o primeiro território a ser defendido por quem é preto, preta. Assim nos ensinou Dra. Andreia Beatriz da @ReajaOu. Às vezes nos acusam de identitarismo, mas ao povo preto, despossuído de terra e riqueza, o que sobrou foi a identidade para lutar. Veja...+
Proibido de usar seu idioma, de ter um nome próprio que o conecta a sua terra, de cultuar sua espiritualidade, aprendemos que fizeram de seu corpo a memória de sua terra com escarificações. Era a mais visível forma de não perder tudo de seu ser para o escravismo.+
Os terreiros, congadas, maracatus, bumbas e outras tantas tradições pretas foram verdadeiros refúgios de reconstrução das identidades que seguiam tentando ser apagadas mesmo após a escravidão. Terra? Uma minoria conseguiu na marra ou na resistência negociada.+