A recente pane catastrófica no CNPq me lembrou de uma eterna discussão sobre política de dados nas instituições públicas brasileiras.
Devemos manter nossos data centers ou terceirizar?
Segue o 🧵.

Spoiler: Terceirizar. (1/12)
Nossa vida mudou com o desenvolvimento de TI barata. Toda nossa comunicação passa por grandes bancos de dados. As instituições passaram a ter seus próprios data centers, infraestrutura capaz de armazenar e processar grandes volumes de dados. (2/12)
É lá que funcionam servidores de dados, emails, centrais telefônicas, etc.
Isso causa alguns problemas:
1. Obsolescência rápida de equipamento.
2. Fragilidade em relação a falhas.
3. Vulnerabilidade a invasões e ataques.
Todos eles têm soluções. (3/12)
Recentemente apareceu outra possibilidade: empresas externas oferecem serviços de data centers. Grandes players do mercado são Amazon, Google, IBM, Microsoft. Você passa toda a gestão de seus dados para empresas mediante um contrato de sigilo e disponibilidade. (4/12)
As vantagens são óbvias:
1. Eles se encarregam da manutenção e atualização de hardware bem como backups.
2. Garantem disponibilidade 99 ou 100% do tempo.
3. Permitem configuração de máquinas virtuais sob medida, otimizando recursos quando você precisa.
(5/12)
4. Uma equipe competente e treinada para evitar invasões e falhas de segurança.
5. Um custo muito competitivo, pois a infraestrutura nunca é superdimensionada. (6/12)
Maior desvantagem:
Você passa para a empresa todos os seus dados e precisa confiar na sua idoneidade e caso necessário precisa criptografar todo seu conteúdo.
Isso invoca uma palavra amada pelos nacionalistas de esquerda e direita brasileiros: soberania (7/12)
Você fica refém da empresa, que a rigor pode de uma hora pra outra deixar você sem acesso a seus próprios dados.
Outro argumento: você está pagando para uma empresa privada tratar seus dado, coisa que poderia fazer localmente no serviço público sem custos. (8/12)
Minha opinião: é óbvio que o mais razoável é terceirizar. Melhor qualidade de serviço e custo muito menor.
Se a empresa bloquear seu acesso ela perde toda sua clientela. Ninguém vai querer contratar uma empresa que não cumpre seus contratos. (9/12)
Sobre segurança: eu me sinto muito mais seguro com meus dados na Google ou na AWS do que num data center com equipamentos obsoletos cujas placas-mãe têm o péssimo hábito de queimar depois de anos sem manutenção e que de tempo em tempo são invadidos. (10/12)
Sobre pagar para uma empresa privada, a escolha é entre pagar pelo serviço e pagar pelo equipamento. Eu prefiro pagar pelo serviço.
Ninguém acha que instituições públicas devam ter suas próprias centrais telefônicas. Por que é diferente com data centers? (11/12)
Precisamos pensar seriamente nas vantagens de usar grandes data centers, como startups de sucesso vêm fazendo.
Espero que a lição do apagão do CNPq sirva para alguma coisa. (12/12)

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2 Jun
Tá circulando nos meios mínions uma matéria da FoxNews: "New study reveals success of hydroxychloroquine as COVID treatment". Me dei o trabalho de verificar o artigo. É um preprint no medrXiv, ou seja, não passou por revisão por pares. (1/5)
Provavelmente não vai passar, e se passar vai ser num daqueles periódicos padrão DJ Raul de qualidade, ou seja, fator de impacto baixo.
Começa com uma curiosidade: o 1o e 3o autores, L. G. Smith e S. M. Smith trabalham no Smith Center for Infectious Diseases & Urban Health. (2/5)
Uma rápida googlada revela que é uma clínica de bairro em New Jersey. Nenhum deles tem doutorado. L. G. Smith não aparece no staff da clínica, que tem 3 médicos, mas atua como obstetra na mesma cidade. (3/5)
Read 5 tweets
2 Jun
Que fique registrado. Quando escolhi minha nova musa eu ainda não tinha ouvido isso. Agora está confirmada como musa forever, ainda que eu tenha várias restrições.
Tm essa também Voodoo Child. Hendrix na cabeça.
Se o Luis Carlos Heinze soubesse...

E tem pra quem não gosta de Hendrix.

Read 4 tweets
1 Jun
A ação da polícia pernambucana na manifestação de sábado foi terrorismo no seu estado mais puro.
1. O objetivo da ação foi afastar os manifestantes por medo. Se você pode perder um olho na manifestação, vai pensar muitas vezes antes de sair de casa. (1/4)
2. Até agora não apareceu um ou mais responsáveis pela ação. O governador não sabe, o secretário da justiça não entende, o comandante da polícia não notou. 5 policiais foram afastados das ruas. Tudo indica que os responsáveis e os executores da operação ficarão impunes. (2/4)
3. Claramente há uma célula de poder extra-estado funcionando nessa polícia. O mesmo ocorre em Goiás. Essas células terroristas seguem um comando central com interesses muito claros em suprimir o exercício da cidadania. Esse comando fica em Brasília. (3/4)
Read 4 tweets
26 May
"Pessoas de 1a contratam pessoas de 1a. Pessoas de 2a contratam pessoas de 3a." Esse era um dos mantras do lendário Xerox PARC onde foi inventado o computador pessoal que mudou nossas vidas. Ele explica muito do que acontece no Brasil atual. (1/9).
Quando bolsonaro foi eleito alguns conhecidos diziam que ele mudaria uma vez no poder, que tinha bons quadros como Moro e Guedes. Além dos quadros não serem bons, como a história mostrou, ele não tinha como violar a regra do PARC. (2/9).
Seu repertório linguístico limitado revela uma pessoa com pouca intimidade com a palavra escrita. Seu repertório intelectual se resume a leituras militares. Suas referências não são reconhecidas pelos pares e nutrem um profundo rancor por isso. (3/9).
Read 10 tweets
26 Apr
Durante a pré-história, antes da invenção da internet, sempre que submetíamos um artigo a uma revista científica ficávamos tão orgulhosos dele que não dava para esperar o processo de revisão por pares: mandávamos uma versão inicial para os conhecidos e amigos: os pré-print. (1/8)
Tinha até um cartão que ia junto, com o logo da instituição e os dizeres "With compliments". Assim eles tinham acesso às ideias e informações mesmo antes do demorado processamento pela revista que podia levar um ano ou mais. (2/8)
Com a invenção da internet tudo ficou mais dinâmico. Os físicos (sempre nós) inventaram o arXiv, um servidor onde poderíamos depositar nossos preprints, potencialmente estendendo o círculo de conhecidos e amigos a todo o mundo. (3/8)
Read 8 tweets
16 Apr
Eu ainda faço parte de uma comissão interdisciplinar da CAPES. Ontem mesmo recebi um processo para analisar. Essa comissão tramita processos de auxílios no exterior. A coisa funciona(va) assim: os membros recebem os processos e indicam pareceristas ad-hoc. (1/9)
Os nomes dos pareceristas são parte de um cadastro (bem desatualizado) ou indicados pela comissão. É(ra) parecido com o processo de escolha de pareceristas para revisão por pares em periódicos sérios. Vários conhecidos meus, competentes em suas sub-áreas, foram incluídos. (2/9)
A última reunião presencial foi em fevereiro/2020, sob a presidência do pastor da CAPES, o criacionista do Mackenzie. Nela a coordenadora propôs renovar o processo. Em lugar de indicados pela comissão, os assessores seriam voluntários que completassem um formulário. (3/9)
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