Com forte adesão à vacinação, parece que o foco na desinformação sobre vacinas é super dimensionado no Brasil. A realidade é que as redes sociais levaram ao caminho inverso das fake news. E isso deveria ser mais estudado, ainda que pese todo mercado epistemológico sobre o tema.
A pressão por acelerar a compra das vacinas, em investigar negligência de Naro, o mix de entretenimento e info (pifaizer!), o trabalho de mídia social de gov estaduais e municípios, a memetização da campanha #VivaOSUS, as fotos estilo blogueirinho, shows no centro de vacinação...
Há ainda os mutirões entre amigos e familiares que o agendamento virtual proporcionou, reatando laços de solidariedade, em que uma pessoa agenda para aquela q não pode ficar 24h por dia na internet ou tem acesso ruim à banda larga.
O Brasil se transforma em laboratório contra a desinformação em torno da vacinação. No período do medo, Bolsonaro deitou, rolou e financiou o engodo do tratamento precoce. Mas foi derrotado. Essa adesão é o melhor sintoma da baixa popularidade do presidente.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Eu tenho uma história bem boa sobre vacinação. Fui tomar a minha segunda dose. E uma mulher (~55 anos) me perguntou se eu podia tirar uma foto dela recebendo a dose. Eu disse tudo bem. Mas ela perguntou se eu teria problema com o cartaz dela. Eu me antecipei e disse q ñ.
Ela insistiu dizendo que talvez eu não curtiria o cartaz. Eu perguntei como assim. Ela disse que não era um cartaz fora bolsonaro. Ela estava toda trabalhada num vestidão bonito amarelo. Daí eu saquei. E disse que procurasse outra pessoa, pois não compactuava com Bolsonaro.
Daí ela ficou um bom tempo procurando alguma alma que tirasse a foto com o cartaz "obrigado, Bolsonaro". O cartaz, lindinho, todo escrito à mão. Enfim, tomou a vacina, tirou foto e se manifestou favorável à figura. E daí fiquei me questionando...
às 23h, a rede bolsonarista (marrom) repercutia as imagens de vidraças quebradas, do banco Santander incendiado por manifestantes e de brigas entre integrantes do PCO e PSDB. As imagens se tornaram "ótimas" para alimentar a ideia do #3J como protesto violento e intolerante.
Nesse período, o ator de maior relevância foi a Polícia de São Paulo, narrando em primeira mão as ações incendiárias na manifestação. Isso ajudou o presidente a jogar luz na "narrativa do vandalismo", enfraquecendo a agenda anti-corrupção dos atos.
A "escudo anti-RTs" do bolsonarismo voltou então ao seu estado normal (25% do total de interações), obtendo seus vídeos e imagens para circular pelos seus grupos, perfis e canais para servirem de "respiro" à artilharia pesada que recebeu hoje das ruas.
Às 18h, os atos #3JForaBolsonaro bateram mais de 500k de postagens no Twitter. De novidade, a redução do escudo bolsonarista na plataforma em relação ao #19JForaBolsonaro. Nessa hora, naquele dia, eram 25% das interações dos RTs batendo nos protestos. Hoje, 9% (marrom).
A baixa contenção bolsonarista pode estar associada à dificuldade de resposta ao tema da corrupção. Caso afrontem às ruas, a situação pode piorar ainda mais, com atos sendo convocados mais rapidamente, pressionando ainda mais o Congresso.
Sobre a linguagem do #3J (18h).
Minerado os termos mais coassociados nas 246k postagens de 13h às 18h, o enquadramento de 'bolsonaro' continua sendo de 'genocida' e 'corrupto'. E aparece SP como novo eixo do que se deve relatar.
Analisando o comportamento da hashtag #3J, de 9h às 13h de hoje, é simples de diagnosticar que o aquece nas ruas ocorre, em paralelo, ao aumento de temperatura nas redes, protagonizado por uma multiplicidade de participantes ligados à agenda da esquerda (#ForaBolsonaro).
A Linguagem do #3J. Pela manhã, as manifestações mostram suas territorialidades (com RJ, no centro). Aparece, dessa vez, o termo 'corrupto' associado aos tópicos 'jair', 'bolsonaro', 'cadeia'. É incorporado ao repertório do ciclo de luta antibolsonarista o tema da corrupção.
As lideranças de esquerda vão capturando da extrema direita a agenda política do corrupção, que passa a ser combinada com um evento (roubo na compra de vacina), um sujeito-autor (Bolsonaro) e um antagonista (ruas).
A repercussão da #CPIdaPandemia atingiu o pico de publicações em um único dia: 812.530 postagens só ontem (25). Quase 350 mil usuários atentos. na última semana, ao trabalho da CPI.
A questão é: esse ruído alto sobre a corrupção no governo Bolsonaro se manterá?
Todo pico de viralização tende a uma decantação em 48 horas (em média). Nesse sentido, o governo deu sorte. No final de semana, cai a carga interativa nas redes sociais. Com isso, poderá se recompor com ajuda da fanbase (on e off). No domingo, o depô na CPI será algo do passado.
Qual fato novo num final de semana? É o presidente discursando na motociata. A rapaziada repercutindo isso na tevê e nas redes. Versões novas dos spin doctors pipocando. Daí o presidente chegará no domingo no zero a zero. E vida que segue.
A nova retórica do presidente Bolsonaro repete a mesma tática usada em 2020. Antes, endereçada contra a vacina. Agora, contra as restrições do lockdown.
Em outubro de 2020, em franca campanha contra a coronavac, a rede bolsonarista destinava tempo e dinheiro para desqualificar a "vacina de Dória", gerando amplo domínio sobre o tema no Twitter, conforme se vê (mancha marrom) no grafo.
Em março de 2021, tendo que engolir à seco o sucesso da coronavac, Bolsonaro mudou a rota. Abraçou para estrangular o termo lockdown, rotulando-o como medidas contra o trabalhador.
O lockdown passou a ser o centro da retórica negacionista de Bolsonaro. E anima seus apoiadores.