Há uns 10 anos, era simples. Os lunáticos pareciam estar todos de um único lado. E, assim, foi até fácil se proteger no outro. Mas, com o tempo, a turma do outro foi ficando ainda mais lunática. E, assim, nasceu um novo hábito…
O de semanalmente reclamar à terapeuta que me sinto espremido em um corredor muito estreito. De um lado, uma torcida organizada raivosa. Do outro, outra torcida ainda mais raivosa. Ambas gritando que eu sou um aliado do inimigo.
Eu já animei ambas as torcidas. Mas nunca mudei de lado. Pois sempre duvidei da boa fé dos discursos oficiais. E creio que foram raras as vezes em que esta postura se mostrou equivocada. Pois a regra é o discurso oficial ser o da contradição.
Também acreditava mais na nossa capacidade de sermos motores da história. Hoje nos enxergo mais como bolinhas de isopor boiando nas ondas do mar. Vamos para onde a onda nos leva.
(Enquanto o país se industrializava, crescia o sindicalismo, o discurso progressista. Na medida em que o país se desindustrializa, o sindicalismo míngua, cresce o agronegócio, o discurso conservador.
E o que eu posso fazer contra isso? Quantas indústrias consigo atrair? Quantas consigo fechar?)
Mas o fato é que a polarização viciava. Eu abria os jornais caçando motivos para me indignar. E resumia cada motivo em 140 toques. Aqui e ali, algum viralizava. E eu me sentia nos ombros do povo, sendo jogado ao alto.
Mas o corpo aparentemente não foi pensado para se indignar 15 vezes por dia, sete dias por semana. De repente me vi de volta à depressão. Conheci as dores do burnout. Sem perceber, corri risco de vida…
Perdi amigos, oportunidades, a sanidade. Dinheiro, muito dinheiro. Fiquei superendividado. No meio disso tudo, virei alvo de incontáveis, constantes e inescrupulosos linchamentos virtuais, quase todos originados de (ex-)amigos.
No que arrisquei falar uma primeira vez sobre isso tudo, fui aconselhado a apagar, pois seria pior demonstrar fraqueza. E, sem forças, apaguei.
Eu nem sei direito como sobrevivi. Sei, contido, o que evitava que eu desistisse: o amor que sentia por algumas raras pessoas. Por elas, eu suportaria as piores dores, inclusive aquelas.
Eu odeio esse corredor estreito. Queria que fosse largo. Um campo de futebol. Uma praia. Um bar lotado de amigos. Mas é um corredor estreito ouvindo gritos de ambos lados.
Ao mesmo tempo, preciso ser grato a ele. Pois foi no corredor estreito que encontrei resquícios de humanidade. Resquícios de escrúpulos. Resquícios de razoabilidade.
E, bom, trabalhei. Porque a única coisa que fazia sentido era arregaçar as mangas.
Hoje eu me sinto bem, fora do buraco. A situação não está boa, mas está controlada. Ao mesmo tempo, o coração se parte sempre que vejo uma pessoa bacana apanhando em meio a toda essa loucura.
Essas palavras são basicamente a essas pessoas. Se você também se sente no corredor estreito, saiba que você não está só. Somos minoria, mas não somos poucos. Sinta-se, portanto, abraçado(a).
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Entendo os que se esforçam em debater. Mas o que está rolando é uma tentativa de um partido (o PT) de desmobilizar um ato pelo impeachment de Bolsonaro. Porque o PT é traumatizado com impeachment…
No primeiro, conseguiu o que exigiu. Mas a queda de Collor serviu para que as forças se organizassem, tirando de Lula uma vitória que, dada como certa, ficaria com FHC em 1994.
Na segunda, foi o alvo do impeachment. De tão errado que estava, não conseguiu outra desculpa além de chamar o que sofria de golpe.
Inclusive… Eu concordo que, se a ideia é que a Câmara Federal seja o retrato mais fiel do brasileiro, tal retrato deveria espelhar ao máximo a pluralidade do nosso povo.
Mas não representa, dentre outras coisas, porque é 85% masculina, enquanto metade do Brasil é feminino.
Sim, estou defendendo não só cotas femininas, como uma divisão que respeite a proporção da população. Se achar ruim, basta imaginar que também estou defendendo que 50% das vagas sejam reservadas a homens.
O golpe via "Conselho da República" é algo que os bolsonaristas defendem desde o primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro como presidente da República.
O roteiro demandaria:
1. Conflito entre poderes.
2. Convocação do Conselho da República para aprovar um Estado de Defesa.
3. Com Estado de Defesa em mãos, Bolsonaro perseguiria desafetos dos demais poderes.
Assim que essa receita passa a correr os sites bolsonaristas, ainda no primeiro semestre de 2019, eles abandonam qualquer tentativa de tocar uma agenda construtiva, e passam a sabotar mesmo os próprios projetos — lembram de Bolsonaro atacando a própria reforma da Previdência?
Lula não passou a defender regulação da imprensa nessa semana. Defende corriqueiramente ao menos desde que a Lava Jato se aproximou dele. Certamente defendia antes, mas não tornava isso tão explícito, a coisa partia mais de aliados.
Então falemos mais sobre isso, então:
A esquerda (e eu vou generalizar, pois a ala contrária absurdamente se cala em debates assim) não quer regular a imprensa por desejar que o brasileiro seja melhor informado. Quer regular a imprensa porque quer controlar o que vira notícia ou não.
Por muito tempo, a esquerda e o PT se aproveitaram do modelo de trabalho da imprensa. Sempre que uma capa de revista semanal atingia nomes dos governos anteriores a Lula, virava discurso dos mais justos no plenário e no horário eleitoral.