Lula não passou a defender regulação da imprensa nessa semana. Defende corriqueiramente ao menos desde que a Lava Jato se aproximou dele. Certamente defendia antes, mas não tornava isso tão explícito, a coisa partia mais de aliados.
Então falemos mais sobre isso, então:
A esquerda (e eu vou generalizar, pois a ala contrária absurdamente se cala em debates assim) não quer regular a imprensa por desejar que o brasileiro seja melhor informado. Quer regular a imprensa porque quer controlar o que vira notícia ou não.
Por muito tempo, a esquerda e o PT se aproveitaram do modelo de trabalho da imprensa. Sempre que uma capa de revista semanal atingia nomes dos governos anteriores a Lula, virava discurso dos mais justos no plenário e no horário eleitoral.
José Dirceu, inclusive, foi a fonte de algumas dessas capas. E não duvido que outros figurões do partido tenham ajudado no acesso a informações cruciais para que tais reportagens nascessem.
Mas o PT virou governo. E naturalmente a fiscalização da imprensa se voltou contra ele, uma vez que o foco do trabalho é o monitoramento do poder.
Mais do que isso, outros aprenderam a jogar o mesmo jogo, como lotar uma rua para pautar um assunto, como ocupar um trending topic, como repassar detalhes de uma investigação para um jornalista de confiança.
E a Lava Jato talvez seja o melhor exemplo de fenômeno que aprendeu a fazer uso do modelo, prendendo o tipo de empresário que o PT adoraria ver preso — antes de se tornar aliado dele, claro.
Até porque a Lava Jato, na pessoa de Sérgio Moro, rasgou qualquer fantasia, assumindo que o juiz tinha lado e projeto político, a imprensa vem repensando o modelo. E vem sendo mais cautelosa antes de entrar em qualquer história que chame a atenção da opinião pública.
O novo modelo ainda não é perfeito, mas já temos algum avanço. Por exemplo, sem os cuidados que a imprensa teve na pandemia, ou mesma sem a coragem de muito jornalista, teria morrido MUITO mais brasileiro.
Se Lula tivesse regulado a imprensa como hoje lamenta não ter feito, a regulação estaria hoje aos cuidados de Carlos Bolsonaro. E você provavelmente veria Alexandre Garcia diariamente defendendo ivermectina no Jornal Nacional.
E Jair Bolsonaro teria sido eleito da mesma forma pois, uma vez desacreditada a imprensa, o brasileiro acreditaria muito mais no que recebe de parentes no WhatsApp.
Se a sua ideia é produzir algo que não pode cair em mãos erradas, a sua ideia é ruim. O Brasil já tentou regular a imprensa. E esse experimento culminou com Herzog morto após sessões de tortura. É revoltante que defensores dos direitos humanos se esqueçam disso.
Se a esquerda de fato quer ter um projeto para a imprensa, precisa antes parar de se informar por panfletos partidários que só não desinformam e distorcem mais do que veículos do bolsonarismo — a quem serviram de inspiração, diga-se.
Dica boa também é aprender a conviver com verdades inconvenientes. E parar de uma vez com todas com a perseguição a vozes (principalmente as femininas) que, na mídia, demonstram alguma independência para a transmissão de tais verdades.
A esquerda tem na agenda um porção de pautas caras ao nosso tempo, que vão ficando ainda mais valiosas na medida em que o bolsonarismo avança, e que contam com o apoio, vejam só, da imprensa.
Mas o projeto da esquerda para a imprensa continua defasado, autoritário, rancoroso, despeitado e burro, pois só serve para subtrair votos que poderiam ser úteis aos capítulos valiosos da agenda.
Essa semana mesmo vi algumas pessoas que se acostumavam com a ideia de votar em Lula voltarem a falar em voto nulo. O que, claro, é um enorme favor que toda essa discussão faz a Bolsonaro.
Por isso, acho importante reafirmar o que disse em 2018: contra Bolsonaro, voto nulo é pouco. Mas o voto não significará endosso a tudo o que pregar o adversário do segundo turno. De minha parte, certamente continuarei na oposição fazendo jornalismo, goste o vencedor ou não.
(Apenas uma breve correção em erros de digitação: ali em cima, é “de uma vez POR todas”. E saiu um “então” a mais no primeiro tweet. Perdão pelo vacilo.)
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Entendo os que se esforçam em debater. Mas o que está rolando é uma tentativa de um partido (o PT) de desmobilizar um ato pelo impeachment de Bolsonaro. Porque o PT é traumatizado com impeachment…
No primeiro, conseguiu o que exigiu. Mas a queda de Collor serviu para que as forças se organizassem, tirando de Lula uma vitória que, dada como certa, ficaria com FHC em 1994.
Na segunda, foi o alvo do impeachment. De tão errado que estava, não conseguiu outra desculpa além de chamar o que sofria de golpe.
Inclusive… Eu concordo que, se a ideia é que a Câmara Federal seja o retrato mais fiel do brasileiro, tal retrato deveria espelhar ao máximo a pluralidade do nosso povo.
Mas não representa, dentre outras coisas, porque é 85% masculina, enquanto metade do Brasil é feminino.
Sim, estou defendendo não só cotas femininas, como uma divisão que respeite a proporção da população. Se achar ruim, basta imaginar que também estou defendendo que 50% das vagas sejam reservadas a homens.
O golpe via "Conselho da República" é algo que os bolsonaristas defendem desde o primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro como presidente da República.
O roteiro demandaria:
1. Conflito entre poderes.
2. Convocação do Conselho da República para aprovar um Estado de Defesa.
3. Com Estado de Defesa em mãos, Bolsonaro perseguiria desafetos dos demais poderes.
Assim que essa receita passa a correr os sites bolsonaristas, ainda no primeiro semestre de 2019, eles abandonam qualquer tentativa de tocar uma agenda construtiva, e passam a sabotar mesmo os próprios projetos — lembram de Bolsonaro atacando a própria reforma da Previdência?
Há uns 10 anos, era simples. Os lunáticos pareciam estar todos de um único lado. E, assim, foi até fácil se proteger no outro. Mas, com o tempo, a turma do outro foi ficando ainda mais lunática. E, assim, nasceu um novo hábito…
O de semanalmente reclamar à terapeuta que me sinto espremido em um corredor muito estreito. De um lado, uma torcida organizada raivosa. Do outro, outra torcida ainda mais raivosa. Ambas gritando que eu sou um aliado do inimigo.
Eu já animei ambas as torcidas. Mas nunca mudei de lado. Pois sempre duvidei da boa fé dos discursos oficiais. E creio que foram raras as vezes em que esta postura se mostrou equivocada. Pois a regra é o discurso oficial ser o da contradição.