Os ataques terroristas em Cabul hoje também mostram que um Talibã incapaz de controlar o território afegão, dando espaço para o Estado Islâmico, pode representar um perigo maior para a comunidade internacional do que um Talibã plenamente em controle do país.
De fato, nos últimos anos, os EUA têm sistematicamente combatido o Estado Islâmico em várias províncias afegãs -- sempre com a anuência tácita do Talibã, que geralmente acabou ocupando as zonas uma vez que os EUA tirou o Estado Islâmico.
Porém, o Talibã dificilmente aceitará uma aliança oficial com Washington, por medo de perder quadros para o Estado Islâmico -- agrupamento ainda mais radical do que o Talibã.
Para se ter uma noção do radicalismo do Estado Islâmico, é comum entre seus seguidores criticar e ridicularizar o Talibã e, acredite ou não, como fantoches americanos.
O Talibã está ciente do risco. Tanto que uma das primeiras coisas que o grupo fez ao tomar Cabul na semana passada foi assassinar o líder do Estado Islâmico no Sul da Ásia, que estava preso na capital.

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15 Aug
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15 Aug
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