Como venho insistindo, mais importante que o dia 7 de setembro é o 8 de setembro. Hoje veremos o começo dos movimentos que podem decidir os rumos da política brasileira para 2022. Vai um resumão do que está rolando:
O bolsonarismo não acabou, como decretaram os mais emocionados, tampouco foi uma "marcha sobre Roma 2.0" - nem uma invasão do capitólio - como pregavam os arautos do apocalipse. O inegável é que a estratégia arriscada do presidente não teve os frutos esperados.
Mais uma vez, rios e rios de dinheiro foram despejados para encher as ruas, pessoas se arriscaram e foram presas para inflamar as massas e o que tivemos? Um público "pífio" em Brasília (menos de 50 mil), um público "ok" no Rio e um público "bom" em São Paulo.
Muito pouco para a quantidade de capital (político e financeiro) investido. Algo que dificilmente poderá ser repetido pelo conluio bolsonarista. Até pelo fato de que muitos estão frustrados pois não houve invasão do STF, não teve a tal "intimação" do Pacheco, nada.
Os grupos mais radicais estão esperando Godot, muitos já perderam a paciência com a incapacidade do presidente de adotar uma posição mais radical. Muitos falavam da ausência dos tanques militares em Brasília - algo que estava sendo prometido.
Inclusive, a ausência das FFAA se tornou um assunto nos grupos. Os prometidos 50 ônibus da PM - tão alardeados pela esquerda -, os tanques do exército que tomariam as ruas nunca apareceram - e olha que teve gente que jurou ver tanque saindo da Vila Militar (RJ) ontem.
Nos grupos menos radicais se prega a ilusão da ultraempiria, ângulos manipulados, números falseados, tudo para afirmar que as pesquisas são falsas e que a reeleição em 2022 está garantida.
Inclusive, ponto interessante, ontem circularam mensagens nesses grupos de pessoas supostamente de esquerda que estavam com medo e desesperadas com o número de bolsonaristas nas ruas.
A insatisfação dos mais radicais e o irrealismo dos médios mostra a fragilidade da base bolsonarista nesse momento. Os primeiros podem abandonar o presidente diante de sua incapacidade de dar um golpe (inclusive, muitos já o fizeram).
A manutenção dos segundos (bem menos radicais) depende da manutenção da máquina informacional, em sua maioria, tratam-se de pessoas que se informam prioritariamente por grupos de zaps e cadeias viciadas nas redes sociais (as "bolhas").
Contudo, como mostram os grafos, a manutenção destas "bolhas" está cada vez mais complicada, uma vez que, pela primeira vez em anos, o flow narrativo das redes encontrasse do nosso lado.
As coisas chegaram ao cúmulo dos grupos bolsonaristas ignorarem deliberadamente #, como a #CPIdaCovid, pelo fato destas estarem apontando os desvios do governo. Por isso a disputa narrativa das redes é tão importante, por isso não cair na máquina de medo deles é fundamental.
Sobre a política institucional, hoje é dia seguinte. Ontem Solidariedade, MDB e PSDB e PSD resolveram reunir suas bancadas para estudar um posicionamento pelo impeachment. MDB e PSD tem pesos importantes nessa questão. DEM e PSL já lançaram um comunicado criticando os atos.
Pode parecer pouco, mas fofocas dão conta que Ciro Nogueira tentou até o último minuto demover o presidente de discursar nos atos (tanto que se recusou a subir no trio com o mesmo) pois, segundo me disseram, "isso dificultaria as coisas". E dificultou.
Ontem uma pessoa com boas relações em um partido de direita (e governista) me disse que se tornou um consenso de que eles devem se livrar de Bolsonaro até 2022 ou amargarão outros 10 anos de PT.
Pelo visto abandonaram oficialmente a ideia de uma terceira via e agora vão se mobilizar nos bastidores para serem a segunda via. Pode até não parecer, mas em termos de jogo político isso diz muita coisa.
Nesse momento o grande fiador do Bolsonarismo é o PP e todos conhecemos bem a fidelidade desse partido, especialmente agora que um de seus principais atores políticos (Ricardo Barros) está na mira das investigações da #CPIdaCovid.
Enquanto isso os militares de mantém estranhamente calados. Se fosse para apoiar a pataquada presidencial, podem apostar, eles já teriam se manifestado. E isso é outro sinal negativo para o bolsonarismo.
Para melhorar tudo, hoje ainda teremos a manifestação do STF que, dizem, não está disposto a jogar panos quentes na história. Mas como deve ser feita pelo Fux podemos esperar qualquer coisa.
Por fim, importante lembrar que isso que hoje chamamos de bolsonarismo não começou e certamente não terminará com a possível derrocada do projeto político de bolsonaro. Mas, digamos, que a sua eventual queda seria um bom começo.
Hum...
O monitoramento da BBC corrobora a minha leitura sobre as reações nos grupos

"Parabéns ao povo por seu empenho, mas não adiantou de nada, cadê a intervenção? Só deu oportunidade de ferrarem ainda mais o presidente ", disse um integrante.

bbc.com/portuguese/bra…

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16 Sep
Alguns breves comentários sobre a última pesquisa do Datafolha. A primeira delas é que ela não ocorre apenas após o 7 de Setembro, ela ocorre após um intenso investimento na propaganda do Presidente.

E ainda assim a tendência de piora se manteve.

www1.folha.uol.com.br/poder/2021/09/…
E não estou falando apenas dos rios de dinheiro destinados a viabilizar o 7 de Setembro, mas também na "mala direta" feita pelos seus aliados políticos, incluindo-se aí não apenas os políticos, mas figuras como pastores alinhados.
Desde as motocadas, um pouco antes disso, na verdade, a piora da aprovação do presidente já era perceptível nos grupos evangélicos, de janeiro para cá a reprovação sua reprovação subiu 11 pontos, e hoje está superior (41%) à sua aprovação (29%).
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16 Sep
Hoje a #CPIdaCovid se dedica ao caso Prevent Senior, onde temos suspeitas de que pessoas (pacientes e profissionais da saúde) foram utilizados como cobaias involuntárias do chamado tratamento precoce. Entramos no ar em cinco minutos.

twitch.tv/ocalheiros
Acabei de ver que eles não vão, de qualquer forma, entro no ar em instantes.
Senadores da #CPIdaCovid discutem se vão recorrer a condução coercitiva para garantir a presença do depoente.
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16 Sep
Nesse penúltimo episódio da série discutimos o papel da mídia e das redes sociais na Lava Jato, normalizando e comemorando os abusos cometidos pela operação e, especialmente, Sérgio Moro.
Falamos sobre como a Lava Jato foi fundamental para a consolidação de um ecossistema informacional da direita nas redes sociais, sobre como influenciadores como Mamãe Falei e Nando Moura surfaram na onda.
Ainda, sobre como a chamada grande mídia imediatamente se alinhou a operação, os motivos para tanto. Falamos sobre a relação da operação com o chamando Populismo Penal Midiático.
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15 Sep
The Lobbit! Hoje a #CPIdaCovid vai ouvir o sujeito que é apontado como o "lobista dos lobistas", Marconi Ribeiro. Nossa cobertura começa agora, 09:45.

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#CPIdaCovid bola rolando no estádio Mané Garrincha.
#CPIdaCovid "se eu fosse um lobista eu seria um péssimo lobista" diz Marconny Nunes. Olha, hoje vai ser divertido.
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14 Sep
Hoje retornamos com a #CPIdaCovid, os senadores vão ouvir o "sócio oculto" do falso banco que serviu de fiador para os contratos da Precisa Medicamentos. Ainda, vamos acompanhar a sessão do Senado que questiona a Petrobras sobre o preço dos combustíveis.

twitch.tv/ocalheiros
Enfim começamos a #CPIdaCovid com @OmarAzizSenador dando aquela chamada perguntando "ué, tu não estava aí outro dia circulando por aqui?".
#cpidacovid Tolentino tá mais para Tô Lentinho.
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10 Sep
Para vocês terem uma ideia de como as declarações de Bolsonaro repercutiram "bem" na sua base, esse é o empresário e pastor Jackson Vilar, apenas o sujeito que organizou a "Acelera para Cristo" (a motocada de São Paulo).
Essa história de que está se criando um consenso de que se trata de um "recuo antes do bote", uma "estratégia", é basicamente uma campanha de contenção de danos. Arriscaria dizer, inclusive, com alto índice de automatização (vi muito bot e fake reproduzindo).
Óbvio, pessoas de verdade compraram a narrativa, mas o número, pelo menos por enquanto, não parece ser considerável. O que eu mais vejo é silêncio ou revolta entre os apoiadores, especialmente os mais radicais.
Read 8 tweets

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