A Precisa Medicamentos é uma empresa que já era conhecida do Ministério da Saúde. Além de fornecer privados, ela esteve envolvida em contratos problemáticos quer com Estado e Municípios, quer com o próprio Ministério.
24/201
O primeiro caso desta empresa envolve um processo de licitação para a compra de 150 mil testes rápidos para detecção da CoViD-19, que veio a público numa mega-operação (Falso Negativo) sobre diversas empresas envolvidas numa série de processos criminosos com testes.
25/201
Em processo de licitação aberto pelo Ministério da Saúde, a Precisa entregou a sua proposta fora do prazo inicial e ganhou o negócio, apesar de ser a proposta mais cara. O prazo foi estendido e as vencedoras originais, Abbott e Bahiafarma, foram desclassificadas.
26/201
A Precisa ganhou, dispensada de licitação.
O valor da Precisa foi R$ 139,90/teste, com o valor vencedor a cifrar-se nos R$ 73 (valor, ele próprio, já super-facturado, segundo o Senador @IzalciLucas, pois num pregão electrónico, o mesmo teste foi adquirido por R$ 18).
27/201
O Tribunal de Contas da União (TCU), após uma investigação, determinou que não fosse pago mais do que o valor dos R$ 73.
Não satisfeita, a Precisa entregou testes diferentes - e inferiores - aos comprados. Testes que estavam a ser recolhidos por todo o mundo, como..
28/201
... sendo totalmente ineficazes e colocando a vida de pessoas que neles confiassem em perigo.
Emanuela Medrades, representante da Precisa na Covaxin que também envolvida neste negócio, disse no seu depoimento que não havia boa-fé na forma como...
Por uma investigação do Ministério Público que quebrou o sigilo de Marconny Faria (advogado relacionado à ex-mulher de Bolsonaro e ao seu filho, Renan) e que estaria a actuar como lobista da Precisa...
... soubemos de mensagens trocadas entre ele e Francisco Maximiano, que não só detalham o esquema de favorecimento da Precisa no processo dos testes, como nomeiam Roberto Ferreira Dias (o mesmo que foi preso na CPI e que a base governista defendeu com unhas e deentes, ...
31/201
... o mesmo que Ricardo Barros queria nomear para a ANVISA e nomeado por Dominguetti no suposto pedido de suborno no caso da Davati), como dão a entender que há todo uma equipa em conluio no Ministério da Saúde, além de Deputados e um Senador).
A Precisa também vendeu preservativos femininos ao Ministério, aditando o contrato uma semana antes da sua assinatura, duplicando o valor original deste de R$ 15,7 milhões para R$ 31,5 milhões, a 18 de Fevereiro, supostamente por causa da alteraçao da cotação do dólar.
33/201
A Precisa ainda se tentou justificar a mudança porque a encomenda teria sido duplicada - de 10 milhões de unidades para 20 - quando a situação foi exposta pela CNN, mas a verdade é que depois o valor foi revertido para o valor original.
Tudo isto já deveria ser situação suficiente para pôr o Ministério da Saúde de pé atrás ao entrar num contrato que envolvia a aquisição de 20 milhões de vacinas ao preço total de mais de R$ 1,6 mil milhões (ou $54 milhões) a uma empresa que nem sequer tinha experiência...
35/201
... em comercializar vacinas, mas o caso ainda é mais grave quando percebemos quem é a Precisa: o quadro societário é Francisco Maximiano (com cerca de 1% da participação) e a Global, Gestão em Saúde (detendo cerca de 90% de participação), empresa da qual o próprio ...
36/201
... Francisco Maximiano é sócio.
Esta Global é uma empresa que, durante o Governo Temer, em que Ricardo Barros (o mesmo Ricardo Barros que hoje é líder do Governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados e que lutou pela Covaxin) foi justamente Ministro da Saúde, se ...
37/201
... envolveu na venda de medicamentos de doenças raras - medicamentos de alto custo - ao Ministério, do qual recebeu pagamento adiantado, mas nunca chegou a entregar os medicamentos.
O Ministério Público, tendo em atenção todos os antecedentes...
... da Precisa e o passado da Global, decidiu abrir uma investigação à Precisa, por desconfiar que esta - que existe desde 1999, mas foi adquirida pela Global em 2014 - serviria de disfarce para a Global poder voltar a negociar com o Ministério, sem ser detectada.
39/201
É então que o Ministério Público chega a Ricardo Miranda (irmão do Deputado Luís Miranda, que foi apoiante de Bolsonaro até ter entrado em choque com ele neste processo), servidor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde e subordinado...
... de Ricardo Dias (o protegido de Ricardo Barros) que denuncia ter sido alvo de pressões atípicas de superiores, para dar seguimento ao processo, também ele atípico, de importação da Covaxin.
O seu depoimento acaba por ser vazado e ele vê-se atirado para a ribalta e sofrendo ataques das alas bolsonaristas por conta disso. Luis Miranda, o irmão, vai então à CPI e declara que tem informações a dar à Comissão, à frente de toda a gente que estava ali para o ouvir.
42/201
Os dois irmãos Miranda vão depor à CPI a 23 de Junho, depois de atacados por Élcio Franco (ex-Secretário Executivo do Ministério, que num ofício de Janeiro centraliza em si todas as negociações de vacinas) e Onyx Lorenzoni (na altura, Chefe da Casa Civil) numa colectiva.
43/201
Ricardo Miranda descreveu o tortuoso processo da emissao da Licença de Importaçao (LI) da Covaxin, envolvendo três versões de invoices cheias de erros e pressões fora do comum de Ricardo Dias, Élcio Franco e outras chefias - e até do próprio Francisco Maximiano.
44/201
Luis Miranda, por sua vez, detalha como o irmão lhe comunicou o que estava a acontecer e como ambos, a 20 de Março (um Sábado), foram a casa de Bolsonaro denunciar o caso; e como o Deputado Miranda sentiu que não só Bolsonaro não dava avanço ao...
... ao mesmo Onyx Lorenzoni (que agora ameaçava Miranda, na conferência de imprensa), sem quaisquer resultados visíveis.
Durante o depoimento, o Deputado confessou que, confrontado com a denúncia de dia 20, Bolsonaro teria dito que isso era mais um caso de...
47/201
... Ricardo Barros, de cuja sobrevivência política Bolsonaro depende. Com a denúncia sem consequências, Bolsonaro é implicado em crime de prevarização.
Feito este preâmbulo, avançamos para avançar para o primeiro depoimento.
Esta thread reúne três depoimentos da #CPIdaPandemia, referentes ao escândalo da Precisa Medicamentos/Covaxin, expondo a podridão do Governo Bolsonaro. Agradeço desde já o tempo gasto na leitura e o retwet deste tweet. Vamos.
1/201 👇
Esta thread incluirá os depoimentos de Regina Célia (Fiscal do contrato da Covaxin), William Santana (funcionário ao serviço do Departamento de Logística, do Ministério da Saúde, envolvido no processo de importação da Covaxin) e Emanuela Medrades (representante da...
2/201
... Precisa Medicamentos no processo da Covaxin, que a empresa, estaria a vender ao Ministério da Saúde como intermediadora).
Fica excluída a parte do FIB Bank, que irá merecer thread própria.
Antes de mais, um pouco de contexto, para quem desconhece o caso: a Covaxin...
Na sequência da bomba dos Miranda, a CPI convoca várias pessoas envolvidas no processo da Covaxin. A primeira foi Regina Célia, Fiscal do Contrato da Covaxin, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) desde 2002/3.
49/201
Ela é Fiscal de Contrato desde Abril de 2016 (Governo Dilma). A 8 de Dezembro de 2016, já no Governo Temer, Ricardo Barros, como Ministro da Saúde, renomeia-a Fiscal, na posição DAS 2. A 15 de Fevereiro de 2018, mantendo-a como Fiscal de Contrato, despromove-a a DAS 1.
50/201
Ela diz desconhecer porquê.
É saliente que ela descreveu nomeações mais antigas, mas quando chegou à sua primeira nomeação por Ricardo Barros, tentou atrasar ao máximo a confirmação de que tinha sido nomeada por ele (um facto público).
"Honestidade, Precisa-se - Parte 4: Primeira invoice"
Dia 18 de Março, dois dias após ter enviado o contrato da Covaxin, Emanuela Medrades envia a William Santana (responsável por fiscalizar as invoices/notas fiscais, subordinado de Ricardo Miranda e a próxima pessoa...
67/201
... abordada na thread) um link de Dropbox, com documentos para abrir o processo. Portanto, já um dia DEPOIS de ter vencido a primeira entrega de 4 milhões de doses.
Como já vinha acontecendo desde 4 de Março, Regina Célia também foi incluída no processo, com William...
68/201
... a submeter-lhe o email em que seguiu o link. Esta abriu o mail, mas diz não ter entrado no link em si "porque não era da sua competência", nem respondeu.
Vamos verificar a prevalência desta atitude passivo-agressiva ao longo de todo o depoimento: ela irá tentar...
"Honestidade, Precisa-se - Parte 5: Fiscal, mas pouco"
A dia 23 de Março de 2021, Terça-feira Pazuello é exonerado, como previra no avião das FAB, a Luis Miranda, no dia 21, Domingo. Em ambos os dias, Luis Miranda enviou mensagem ao Ajudante de Bolsonaro, a cobrar-lhe...
91/201
... dar seguimento à situação do irmão.
Às 14:03, hora do Brasil, Emanuela envia a segunda invoice, que corrige o formato de apresentação do produto, mas continua com pagamento 100% antecipado e à Madison. A haver golpe semelhante ao da Global, as condições permaneciam.
92/201
O frete e o seguro permanciam errados.
Às 21:30, hora do Brasil, é enviada a terceira invoice.
❗️ Estas horas de envio das invoices serão importante depois. ❗️
Mesmo na última, continuava a haver problemas: ao trocar CIP e CIF, a invoice dava a entender que o...
"Honestidade, Precisa-se - Parte 6: William Santana"
No dia 9 de Julho, William Amorim Santana foi depor à CPI da Pandemia. William começou logo por explicar que não é funcionário do DLog ou do Ministério da Saúde, mas da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde).
116/201
Esta é uma das muitas instituições de saúde estigmatizadas por Bolsonaro.
William é Consultor Técnico, ao serviço da DLog, subordinado a Ricardo Miranda, mas não faz parte dos quadros, o que torna a sua situação bastante precária.
117/201
William, que já conhecia a Precisa e Emanuela Medrades (a representante da Precisa no processo da Covaxin) do contrato dos preservativos femininos, foi a primeira pessoa a detectar os problemas com as invoices da vacina.