A #FarsaDaProxa tem um aspecto muito didático sobre o que chamamos de ciência patológica. A criação de uma realidade paralela na qual seus criadores acreditam piamente e que a partir de um certo ponto não tem como voltar. @michaelshermer aborda o assunto em alguns livros. (1/9)
Em que momento o engano se torna autoilusão e fraude?
A #FarsaDaProxa começa com a observação por um grupo de médicos que havia mais incidência de covid em homens calvos. Eles devem ter se achado muito espertos por terem nosso algo óbvio que escapou de toda comunidade. (2/9)
Uma análise estatística minimamente rigorosa teria mostrado que se trata de uma correlação fortuita: calvície está relacionada a idade. Correlação não implica causa. Nossos bravos pesquisadores entenderam ter feito um achado genial e correram para publicar. (3/9)
Infelizmente ninguém fora do grupo deles deu bola para a "teoria androgenica", mas para eles era genial e seria a chave para a solução para a maior pandemia do século. Aí começa o lado messiânico. (4/9)
Decidem salvar a humanidade. Não há tempo para confirmar a teoria. Partem direto para um estudo fase 3, mesmo sem aprovação de comitê de ética. Isso só traria "burocracia e entraves" perante a salvação da humanidade. (5/9)
Estar num país onde o presidente e seu CFM negam a ciência os ajudou. A certeza da impunidade estimula violar preceitos éticos. Quando os experimentos não trazem resultados não hesitam a recorrer a fraude. Fraudam randomização. Fraudam cegamente. Fraudam pacientes. (6/9)
Não dá para enganar todos o tempo todo. Boas revistas científicas recusam a publicação dos trabalhos, que só passam em revistas predatórias ou de baixo padrão editorial. O universo da ciência os ignora. Nenhum outro grupo confirma seus achados. (7/9).
Quando a #FarsaDaProxa foi exposta eles obviamente se colocaram como vítimas de uma conspiração que envolve tudo de ruim que passa no imaginário popular. Afinal se acham os salvadores do planeta. (8/9)
Os envolvidos na #FarsaDaProxa precisam ser punidos cível e criminalmente. Para satisfazer seus egos narcisistas e incompetentes eles realizaram experimentos que mataram gente. Isso só se compara com os períodos mais tenebrosos da história da humanidade. (9/9)
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Nosso cérebro evoluiu para encontrar relação entre causa e efeito, mesmo onde ela não existe. Daí nascem as superstições e os falsos positivos que são tão úteis para a pseudociência. A ciência tem ferramentas para evitar que caiamos nessas armadilhas. (1/10)
A manifestação mais elementar é atribuir efeitos fora do nosso controle a ações nossas. Todo mundo sabe que pular 7 ondas na virada garante um ano próspero. Ou que rezar por um parente enfermo vai influenciar sua recuperação. (2/10)
Em situações de grande comoção, buscamos relacionar causa e efeito onde essa relação não existe. Muitos médicos de boa fé caíram no conto da cloroquina ou da ivermectina. Prescreveram a droga a pacientes com covid e eles ficaram bons. Logo, a cura se deve à droga. (3/10)
O governo atual tratou a Diretoria de Relações Internacionais da CAPES como assunto quase de família. Durante a gestão de Weintraub, de funesta memória, foi nomeada a amiga Heloísa Hollnagel, da UNIFESP com quase nenhuma experiência internacional. (1/10) cartacapital.com.br/educacao/acabo…
Eu participei de algumas reuniões com ela, desde que apareceu na CAPES como assessora da DRI. Quase pedia desculpas por não entender nada de internacionalização mas tinha muita vontade de aprender.
Liderando reuniões foi um desastre. (2/10)
Uma vez trouxe uma proposta da presidência de trocar o banco de assessores da CAPES por um no qual as pessoas se inscreveriam em lugar de serem convidadas. Não muito diferente da revista médica que recruta revisores pela internet. (3/10)
Andrew Hill é um pesquisador que tinha se iludido com os "bons resultados" da ivermectina e virou uma das referências na área. Quando começou a se dar conta dos problemas, agiu como cientistas agem, passou a ter dúvidas sobre suas próprias conclusões. (1/5)
Picaretas internacionais como o Pierre Kory revelam sua índole soltando um sonoro Fuck you.
Sou cientista há quase 40 anos. Nunca participei de uma discussão científica com esse tipo de argumento tão construtivo. (2/5)
Picaretas locais tomam a mesma posição, xingando seu ex-aliado "Você é uma desgraça".
Sou cientista há quase 40 anos. Nunca participei de uma discussão científica com esse tipo de argumento tão construtivo. (3/5)
A recente pane catastrófica no CNPq me lembrou de uma eterna discussão sobre política de dados nas instituições públicas brasileiras.
Devemos manter nossos data centers ou terceirizar?
Segue o 🧵.
Spoiler: Terceirizar. (1/12)
Nossa vida mudou com o desenvolvimento de TI barata. Toda nossa comunicação passa por grandes bancos de dados. As instituições passaram a ter seus próprios data centers, infraestrutura capaz de armazenar e processar grandes volumes de dados. (2/12)
É lá que funcionam servidores de dados, emails, centrais telefônicas, etc.
Isso causa alguns problemas: 1. Obsolescência rápida de equipamento. 2. Fragilidade em relação a falhas. 3. Vulnerabilidade a invasões e ataques.
Todos eles têm soluções. (3/12)
Tá circulando nos meios mínions uma matéria da FoxNews: "New study reveals success of hydroxychloroquine as COVID treatment". Me dei o trabalho de verificar o artigo. É um preprint no medrXiv, ou seja, não passou por revisão por pares. (1/5)
Provavelmente não vai passar, e se passar vai ser num daqueles periódicos padrão DJ Raul de qualidade, ou seja, fator de impacto baixo.
Começa com uma curiosidade: o 1o e 3o autores, L. G. Smith e S. M. Smith trabalham no Smith Center for Infectious Diseases & Urban Health. (2/5)
Uma rápida googlada revela que é uma clínica de bairro em New Jersey. Nenhum deles tem doutorado. L. G. Smith não aparece no staff da clínica, que tem 3 médicos, mas atua como obstetra na mesma cidade. (3/5)
Que fique registrado. Quando escolhi minha nova musa eu ainda não tinha ouvido isso. Agora está confirmada como musa forever, ainda que eu tenha várias restrições.
Tm essa também Voodoo Child. Hendrix na cabeça.
Se o Luis Carlos Heinze soubesse...