Já escrevi isso em muitos lugares, já falei nos cursos que dei, tem aula gravada ... enfim. Vamos de novo por causa das bobagens que a @uneoficial vem fazendo, especialmente sua presidenta @brunabrelaz
(segue o fio)
Há muita bibliografia já assentada sobre o fascismo e eu pensei que aquilo seria apenas tópico de história contemporânea até bolsonaro. O fascismo é um fenômeno complexo, o que significa dizer que suas explicações andam por várias áreas do conhecimento.
Da História para a psicologia, passando por sociologia, economia, antropologia e etc. Há causas para o fascismo assentada em todas elas e raramente elas são excludentes. Ocorre uma junção de fatores, mas há alguns consensos já bem estabelecidos.
O primeiro destes consensos é que "ninguém é 'enganado' pelo fascismo". Esta tese do "engano" ou da burla é aquela que colocava Hitler como um gênio do mal que enganou o povo alemão. Isto não existe. Hitler era uma anta (mussolini menos, mas também não era nada inteligente).
E o fascismo tem suas raízes na história da Europa. Não é algo "novo" que surge da mente perversa e genial de certos líderes. É racismo, anti-semitismo, medo de classe, conservadorismo social e etc. cultivados por anos no tecido europeu. Ninguém foi enganado lá, nem aqui.
A construção dos campos de concentração na Alemanha e Itália eram noticiados nos jornais. Hoje temos acesso às cartas enviadas pelos leitores para os jornais que davam essas notícias e elas eram todas de júbilo e felicidade pela construção daquelas monstruosidades.
As ações dos nazistas eram descentralizadas, ao contrário do que se pensava. Havia um corpo diretivo centralizado responsável pelas ações que necessitavam de grandes recursos e por dar as diretrizes ideológicas básicas. Depois, cada fascista agia como achasse melhor "para o país"
No geral, há três tipos de pessoas que apoiam o fascismo (e apoiaram bolsonaro): os que concordam totalmente com ele e se sentem representados; os que achavam que ele tem mais pontos bons do que maus e não se importam com a pobreza e violência sobre os mais pobres e (+)
Os que não tinham informação sobre bolsonaro senão aquelas expostas por algum dos dois primeiros grupos.
um exemplo do primeiro grupo é Sérgio Moro. Concorda totalmente com Bolsonaro é fascista igual e se apartou por disputas internas. Muitos no sul são assim, de qualquer classe
Um exemplo do segundo grupo é o senador Alessandro Vieira. Era cônscio de tudo o que Bolsonaro significava mas julgava que se poderia suportar a perversidade em troca do que ele julgava serem "pontos bons". Ou seja, concordava em grande parte com o fascismo.
Esses dois grupos são fascistas enrustidos. Pessoas moralmente deformadas que no seu julgamento político não se preocupam com o todo da população contanto que "seus objetivos" sejam alcançados. O MBL está exatamente aqui.
o terceiro grupo (dos que não tinham informação) na maioria das vezes entendem a política como a forma de escolher que lhes vai dar ordens. Gostam de ser liderados por um líder "forte" e "decidido". Que vá "mudar as coisas" e na falta de Lula votaram em bolsonaro.
Daí, se você me disser que vai dialogar nas periferias, entre as pessoas mais pobres e sem educação formal para "reverter votos" ou vou concordar. MAS O MBL não está entre estes. NINGUÉM que tinha educação formal em 2018 foi "enganado" por Bolsonaro.
Especialmente aqueles que TRABALHARAM ATIVAMENTE para desinformar o terceiro grupo. Foram parceiros políticos ativos do fascismo porque CONCORDAM com o fascismo em quase tudo. Divergem é no ponto do poder. O fascismo não aceita concorrência e aí o MBL ficou "chateado".
Agora, parem de esconder a ignorância de vocês nos discursos populistas do "vamos conversar com todo mundo" ou "muitos foram enganados". Especialmente quando se vê que estão fazendo alianças e "conversando" não com o povo, mas com neoliberais.
Se querem "aliança" com o MBL que se assumam perversos como eles. Pérfidos e cínicos como eles. Assumam-se ignorantes do fenômeno que estão enfrentando e coloquem a história da UNE no lixo. Mas tenham coragem de assumir isto.
"Nada mais parecido com um fascista do que um pequeno-burguês com medo" Bertold Brecht
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Vou tentar me fazer entender melhor.
Robert Paxton, em seu já clássico, Anatomia do fascismo, afirma que "vai estudar os fascistas para entender o fascismo". Isso pode parecer bobo, mas é uma enorme mudança na historiografia sobre o fascismo. (fio)
Até então, se estudava o fascismo para entender os fascistas, claramente em acordo com o estruturalismo vigente no século XX. Isso dava espaço a uma série de interpretações equivocadas do fenômeno. Porque tomava o sujeito como epifenômeno da ideologia.
Surgiram as explicações circunscritas à luta de classe, surgiram as teorias econômicas sobre o rebaixamento do valor da mão de obra e a acumulação do capital ao largo do setor financeiro ... enfim, a ideia era que o fascismo criava os fascistas.
Bafão dos vizinhos conservadores.
O pai grita a plenos pulmões que não "cuidou da filha a vida toda" para ela casar com mulher. Supostamente, ele ficava em cima dos homens que se aproximavam e a guria apresentou uma namorada hoje.
Bafão!!!
E a gritaria pegando ...
O pai (militar aposentado) gritando com a namorada da filha e mandando ela ir "chupar outra b%^$&a".
Ao que a namorada responde:
"Não era isso o que tu me dizia quando tentava me comer, mesmo eu sendo amiga da sua filha"
Bafão!!
A mulher do cara chora.
Enfim, o submundo da família "conservadora brasileira". Não preciso dizer que tem uma bandeira do brasil estendida na frente e o cara fazia campanha aberta para Bolsonaro ...
Esse é um caso interessante de comentar. Parece haver uma correlação positiva entre grau de escolaridade e voto em bolsonaro. Quanto mais estudo, mais voto no fascista. O que parece ilógico. (+)
Supostamente, com maior grau de instrução seria mais fácil perceber e reconhecer a vilania e incompetência de Bolsonaro. Mas a relação é diferente. Bolsonaro mostra o quanto nossa educação está calcada no viés de classe, e o quanto Bolsonaro opera em favor das classes altas.
Por um lado, quanto maior o grau de instrução, maior a origem elitizada do indivíduo (a revolução iniciada por Lula e Haddad não teve tempo de se completar). Assim, o voto em bolsonaro É o grau de escolarização São DEPENDENTES da classe que o indivíduo é oriundo.
O bolsonarismo (que é a forma brasileira do fascismo) é um ethos. Não apenas um comportamento político, mas um conjunto de valores e práticas para a vida.
(segue o fio para entender o que é isso e pq a gente reconhece bolsonarista na rua ...)
O fascismo, entre inúmeras outras características, acredita que a sociedade é o local das disputas pelo poder e não um local de convivência. É o espaço social onde "os mais fortes sobrevivem" e os mais fracos "perecem".
Este tipo entendimento acarreta 3 consequências diretas. Por um lado a glorificação da violência e, in extremis, a guerra. Ela é vista como uma forma de "purificação" da sociedade. Por meio da violência, é possível "depurar" a sociedade de seus membros fracos que pouco contribuem
Nossas manifestações floparam. É preciso entender isso.
Em primeiro lugar, é preciso saber que com a população empobrecida, manifestações antes do dia 5 ou 10 ficam vazias por simplesmente não se ter dinheiro para ir.
Depois, é preciso perceber que a população está cansada de se manifestar e não ser ouvida. Nem pelas autoridades e nem pelas próprias lideranças que seguem mantendo as coisas em "banho maria"
É triste ver que nem a CPI, nem os advogados que lá vão "defender" seus clientes não saibam o papel da CPI.
A CPI não é juízo. Renan não cumpre o papel de um juiz. A CPI é um INQUÉRITO e a lógica do inquérito é diferente. Renan está no papel de DELEGADO DE POLÍCIA. (+)
Na lógica do inquérito, o delegado NÃO PRECISA dar AMPLA DEFESA ao depoente. Na lógica do inquérito TODA A AMPLA DEFESA do inquirido é não ter seu corpo ou saúde psicológica violada e o silêncio. Tão somente.
Não é permitido ao depoente tecer juízo sobre a forma pela qual o delegado leva seu inquérito assim como a CPI não deve aceitar essas palhaçadas de depoente querer falar o que não lhe foi perguntado. Isso se ensina no primeiro ano do curso de direito.