Há erros jurídicos no editorial do @JornalOGlobo sobre genocídio e pandemia. Seria importante o Jornal, em prol da seriedade e imparcialidade, dar espaço a outras vozes jurídicas sobre o tema. Aponto aqui alguns dos erros👇🏾: blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/e…
1) "intenção", em direito penal, é "conhecimento", não é abrir cabeça de Bolsonaro para saber o que ele quis. E nem precisaríamos. Há atos de Estado, como vetar água a indígenas e distribuir cloroquina a indígenas além de estimular a violência do garimpo. brasil.elpais.com/brasil/2020-07…
2) o Artigo 25 do Estatuto de Roma detalha responsabilidade penal individual, em gradação; inclui "ordenar, solicitar ou instigar" e "colaborar". Logo, acusar alguém de genocídio não é o mesmo que dizer que ele o praticou diretamente. Ignorar os níveis de resp. é leviano.
3) Sim, é difícil provar genocídio quando comparamos com crimes contra a humanidade (que dispensam o elemento subjetivo de intenção). No entanto, o editorial ignora a) que crime contra humanidade não é tipificado enquanto tal no Brasil; 2) difícil não significa implausível.
4) Ao colocar que no sistema internacional é difícil ser condenado por genocídio, o que é verdade, o jornal não exerce qualquer crítica que deveria se esperar sobre política internacional. Ser difícil a condenação não significa que não haja plausibilidade jurídica da acusação.
5) Jornal ignora o amplo leque de evidências com base em pesquisas da @Deisy_Ventura e colegas da USP apontando que não se trata de omissão de Bolsonaro, mas que o morticínio se deu por uma série de ATOS do presidente e seu governo, e ignora o relatório da @coalizaonegra recente.
6) Se o jornal @JornalOGlobo quiser ter um debate jurídico sério sobre crimes internacionais, haveria de ter passado pelos seguintes temas: 1) complementariedade do sistema internacional; 2) omissão da PGR; 3) atos vs. omissão; 4) níveis de responsabilidade; 5) fatos. Não o fez.
7) Não é fácil acusar de genocídio; há crivo que o TPI estabelece (gravidade, grau de responsabilidade, e acusações), além de provar que há intento de destruir grupo étnico-racial. O país que elegeu um ser que aplaude tortura deve ser inapto mesmo p/ enfrentar questões difíceis.
8) o que me espanta mais no editorial é que parece como a interrupção do bom debate: ao invés de exigir que se investigue a seriedade das acusações (seja genocídio ou não), editorial soa como que corroborando com a omissão da PGR: interrompe a seriedade das acusações s/ indígenas
9) O editorial do @JornalOGlobo ao mencionar que "Mas nenhum deles (crimes) foi cometido especificamente contra os indígenas." Interessante: quem disse isso? Houve investigação séria a respeito em qualquer âmbito? STF e @socioambiental apontam contrário👉🏾 covid19.socioambiental.org
10) Eu, como leitor e assinante do @JornalOGlobo, adoraria mandar estes pontos para o/a ombudsman do jornal, ou pedir um erramos. Mas, fun fact: jornal O Globo não tem nem ombudsman, nem seção de erramos. So much for self-criticism.
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BOLSONARO NA ONU: 1) Bolsonaro começa com delírios comunistas, como se algum dia o país tivesse sido comunista. Referência que não faz sentido algum no atual cenário internacional. #BolsonaroNaOnu2021
2) Bolsonaro enfatiza incentivos à iniciativa privada, numa parte do discurso voltada ao mercado. Problema? Investimento estrangeiro no Brasil atinge pior patamar dos últimos 12 anos (dados de agosto de 2021) #BolsonaroNaOnu2021cnnbrasil.com.br/business/inves…
3) "Os senhores estão convidados a visitar a Amazônia." NENHUM ator internacional acredita no Bolsonaro em seu governo ser um líder internacional. Bolsonaro é alvo de denúncia preliminar no TPI por genocídio indígena #BolsonaroNaOnu2021
No artigo na Folha de hoje, Demétrio Magnoli defende o marco temporal como “interpretação óbvia” (não é) e “determinação constitucional” (não está na CF/88). Está tecnicamente errado. 1) anais da Constituinte relevam o que “originário” significa; 2) marco foi inventado p/ 1 caso.
Antes de escrever sandices, Magnoli deveria ler sobre técnicas de interpretação constitucional, p.ex. literal (está na CF?); teleológica (interpretação leva a fim constitucional?); expansiva (progressivamente implementa direitos?); originalista (o que a Constituinte dizia?).
Magnoli em seu texto faz crer que a tese do marco temporal está evidente na CF (não está), e no STF (não está, foi inventado para 1 caso não erga omnes). Seria legal se ele tivesse pesquisado que “originário” significa terras ancestrais (ver anais da Constituinte).
Na coluna da folha desta semana eu citei a peça "Esperando Godot" do Samuel Beckett, e tem um trecho que eu amo muito e que nos faz pensar sobre esse limbo entre democracia e autoritarismo em que estamos metidos e do qual sairemos. Tem um quê de esperança neste trecho.
VLADIMIR: "Não percamos tempo com palavras vazias. (Pausa. Com veemência). Façamos alguma coisa, enquanto há chance! Não é todo dia que precisam de nós. Ainda que, a bem da verdade, não seja exatamente de nós. Outros dariam conta do recado, tão bem quanto, senão melhor...
... O apelo que ouvimos se dirige antes a toda a humanidade. Mas neste lugar, neste momento, a humanidade somos nós, queiramos ou não. Aproveitemos enquanto é tempo. Representar dignamente, única vez que seja, a espécie a que estamos desgraçadamente atados pelo destino cruel...
🇺🇸 Suprema Corte rejeitou bloquear a lei do Texas que proíbe aborto a partir de 6 semanas e permite que qualquer cidadão no estado processe por 10mil USD outro cidadão que contribua p/ aborto. Importante entender o nó técnico por trás desta decisão ruim👇🏾 nytimes.com/2021/09/01/us/…
1o. A decisão não foi de mérito (sobre a lei ser ou não ser constitucional), mas sobre quem pode questionar a lei. Aqui tem 4 pontos: a) no direito dos EUA - diferente do Brasil - não se questiona a lei em abstrato, mas é necessário alguém “pessoalmente prejudicado” pela lei.
é o que nos EUA se chama “personally injured by an act fairly traceable to state action”. Pois bem, a lei do Texas foi especialmente desenhada para diluir esse efeito pq todos cidadãos podem processar todos, num vigilantismo a la Alemanha Oriental. Perversamente esperta a lei.
Precisamos falar sobre WhatsApp como ferramenta de trabalho ininterrupto. Lado positivo: agora é possível arquivar pra sempre conversas. Lado negativo: estou cansado e penso em ter zap só p/ mostrar mensagem automática que diga: você me encontra neste e-mail. #GloriaPiresfeelings
Se formos falar de ferramentas instantâneas de mensagem de trabalho, há alternativas gratuitas como Slack e Lark, mais eficientes do que WhatsApp e focadas em trabalho. Isto separa foto de gatinho de um documento urgente de trabalho.
E-mail é igualmente ineficiente, daí essas outras ferramentas de comunicação profissional. No entanto, para um primeiro contato profissional e para documentar conversas importantes, e-mail ainda tem lugar.
CÂMERAS EM POLICIAIS REDUZEM VIOLÊNCIA? Vem aqui que o debate é bom e complexo. Fio longo 0 de 16 e já peço desculpas por erros de ortografia e etc.👇🏾🧐🧵
1) Vimos efeito imediato na redução de letalidade, o que é condizente com estudos internacionais. É bom para os cidadãos pela redução da letalidade e bom para os policiais para servir de prova em casos de abusos. Mas, não é uma panaceia. Vamos lá www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021…
2) Vários estudos já foram feitos sobre o tema. O principal deles é um estudo randomizado na Califórnia que mostra que há duas vezes mais probabilidade de uso da força em operações sem a câmera e redução das denúncia contra polícia: link.springer.com/article/10.100….