É excelente ter pessoas com a sofisticada formação do @lmonasterio interessadas em projetos militares de alta tecnologia.

Como parece que o tema é recorrente e de grande interesse para ele e seguidores, me esmero em um fio caprichado, mas longo

[1/22]
Há consenso de q ao contrário de países como EUA, Rússia, UK, Turquia, Índia e outros o baixíssimo interesse de pessoas de fora do nicho acadêmico e/ou militar prejudica muito a avaliação das politicas de defesa no Brasil.
Analistas de pol públicas são mais q relevantes [2/22]
No entanto, chama a atenção de cara o @lmonasterio confundir a escolha de um desses projetos – na verdade, dois, o Prosub e o PNM – com sua avaliação propriamente dita.
P. ex, há países q têm pesadas politicas culturais nacionalistas, nas quais são investidas parcela... [3/22]
... relevante do orçamento. Possivelmente aqui acharíamos descabido.

Mas dizer que não gosto/não concordo/acho que tem coisas mais importantes/não iria por aí etc., convenhamos, é um critério ruinzinho. Há uns 25 anos, quando estudei análise de pol públicas, dizia-se...
[4/22]
... q esse tipo de “critério”, de definição de fins, por assim dizer, caberia a decisores políticos, eleitos ou indicados.

A avaliação propriamente dita diz respeito à otimização de meios e foca em verificar se os recursos empregados estaõ gerando os resultados esperados [5/22]
No Brasil, isso é bem fácil de fazer para a defesa – ou pelo menos mais fácil do que para outras áreas – pq por lei é exigido um planejamento, inclusive de gastos, bem minucioso.
Sem ser especialista como o Leo acho que isso em si já é algo salutar...
[6/22]
... já q permitiria, em tese, fazer avaliações mais rigorosas do que para outras áreas.

Feito isso introito, digamos, epistemológico, passemos ao busilis.

[7/22]
Claro q não segue do exposto que nada se pode dizer sobre a escolha brasileira (de 2008) em investir em projetos de alta tecnologia militar.

Pode-se verificar se o Brasil faz escolhas esdrúxulas (como a dos países que possuem politicas culturais nacionalistas, por ex.)

[8/22]
Para que ter submarinos?

Do que conheço, não há pesquisador sério q não considere q para países defensivos e com grande áreas oceânicas como o nosso nçao devam operar submarinos – ao contrário por exemplo, de porta-aviões ou grandes destroyers.

Mas parece q o Leo...

[9/22]
... se incomoda mais, 1, como eleitor do q como especialista (já q isso não tem evidentemente nada a ver com custo vs beneficio), 2, q além de ter/operar que o Brasil tenha resolvido prduzir submarinos ("imaginários").

Dei uma olhada no q parecem ser países comparáveis.

[10]
Digamos, as 20 maiores economias globais. Apenas Holanda, Suíça e Mexico não fabricam ou estão tentando fabricar submarinos.

Coréia, Itália, Indonésia, Argentina etc fabricam ou planejam fabricá-los, em alguns casos com projetos próprios (não mera cópia).

[11/22]
Parece fazer sentido.

Mesmo em países com área bem menor q o Brasil, submarinos são um meio relativamente barato de dificultar acesso ao mar. Se a fabricação é tua, surpresas, como algum sistema crítico não funcionar na hora do vamos ver, têm chances menores de acontecer.

[12]
Claro, submarino nuclear são outros 500.

Nesse caso, entre os países com PIB top 12 (o Brasil é o 12º) só não tentam fabricá-los (ninguém vende submarino nuclear) o Japão, a Alemanha e a Itália. Acho que a história comum deles é bem conhecida.

[13/22]
O 13º país mais rico, interessantemente, a Austrália, tb resolveu q era um bom negócio. E, novamente, até a Argentina (32º PIB) tem planos para o seu.

No entanto, uma avaliação estrita do PNM-Prosub começaria, me parece, justamente pelo tal plano de longo prazo dele.

[14/22]
O PNM foi orçado em 4,2 bi em 2012. O Prosub em 37,1, incluindo aí todas obras de estaleiros, logística, laboratórios etc (eu sei que quem não gosta não quer nem saber, mas é difícil construir submarino sem a infra para isso, né?)

As obras de infra, de ambos, estão ...

[15]
acima de 90% atualmente.

Os estágios construtivos atuais dos sub 4 convecionais vão de 98% no 1º até 52% no último (incluídos aí todos testes reais no mar).

Não conheço medida não ambígua do PNM, mas o PPA fechado em 2019 apontava para ...

[16]
... 80% de cumprimento das metas (do programa nuclear como um todo)*.

Em outubro a Marinha iniciou os testes com o motor do sub nuclear **

[17/22]

* repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/1…

** naval.com.br/blog/2021/10/2…
Naturalmente, é fácil perceber a diferença entre projetos para construir coisas que nunca foram feitas e construir coisas banais (genericametne referida no meio acadêmico como incerteza tecnológica).

De fato, em algumas abordagens a extrema dificuldade ...
[18/22]
... de projetos desse tipo ("mission oriented") é em si meritória sempre q não for um tiro no escuro, pois o potencial de "aprendizagem tecnológica" tende a ser igualmente elevado.

No nosso caso, eventos que nada tem a ver com isso dificultaram sobremaneira seu progresso ...
..., como a desvalorização de 200% do Real e a quebra da Odebrecht defesa (responsável pelas obras civis).

Ainda assim, desconheço projeto de estrada d chão batido no Brasil mais dentro do prazo e orçamento.

Observo q o Leo publicou notícia de q em 1991 já teríamos ...

[20]
... um sub nuclear.

Talvez tranquilize saber que nos anos 70 Índia e o Canadá tb se programaram para ter os seus nos 80.

O da Índia saiu há 5 anos, o Canadá desistiu (mas voltou a debater o assunto recentemente). É caro e extremamente difícil fazer.

[21/22]
Mas apostaria que não há país com mais de 30 milhões de habitantes no mundo que se pudesse não faria – principalmente se contasse com as capacidades que ao que tudo indica o Brasil possui.

[fim]
P.S. Esqueci de mencionar um aspecto crucial: quanto foi gasto para chegar nessa execução.

Até 2018, do total de 37,1 bi previstos para o Prosub foram pagos 23,2%.

Do PNM, foram pagos 45,2% (1,9/4,2), sempre em R$ nominais (dados do Relatório IPEA/Cepal sobre os PE de Defesa)

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25 Apr
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Preferindo, vá direto para o fim (mas o ínicio é importante)
@jpkupfer123 @claudferraz @mjmendes65 1.
Para quem trabalha com economia da inovação tecnológica como eu soa absurdo se dizer que o 2º PND acabou em pobreza. Há um amplo consenso na literatura especializada internacional de que o crescimento a longo prazo é liderado pela inovação ...
@jpkupfer123 @claudferraz @mjmendes65 2.
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27 Jun 20
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11 Nov 19
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