O gráfico abaixo está circulando entre o 🐮 como evidência de que morre mais gente vacinada do que não vacinada no Reino Unido. É verdade que a fonte dessa bobagem no Brasil não domina muito bem o inglês e não deve ter entendido o gráfico. Segue o 🧵. (1/13)
A fonte dos dados é o respeitadíssimo Office for National Statistics, ons.gov.uk.
A planilha pode ser obtida em ons.gov.uk/peoplepopulati…
O gráfico foi feito a partir da Tabela 4. (2/13)
Como a confecção de um gráfico nesse nível de sofisticação está muito acima da capacidade do fraudador do INSS que o divulgou em português, encontramos a figura original no blog de um negacionista americano que usava um avatar supremacista em seu perfil. (3/13)
Esse negacionista jura que o c19study tem p-valor<10⁻14, o que o coloca em posição privilegiada na lista de prováveis responsáveis por aquela besteira.
Voltemos à denúncia do médico que atendeu milhares de pacientes com covid quando estava em afastamento por doença. (4/13)
O gráfico completo mostra que na faixa de idade entre 10 e 59 anos a mortalidade entre não vacinados vem caindo. Desde maio estacionou num platô entre 1,0 e 1,5. A dos vacinados vem caindo de 3,0 para 2,0 no mesmo perído.
Como isso é possível? (5/13)
A resposta está nos gráficos para as demais faixas etárias. Nelas a mortalidade dos vacinados está sempre abaixo da dos não vacinados. Prestem atenção nas escalas verticais:
60-69: 70,0
70-79: 350,0
80+: 1800,0
A mortalidade aumenta rapidamente com a idade. (6/13)
É até possível extrapolar a mortalidade para idades menores a partir dos dados de 60, 70 e 80.
A mortalidade entre os vacinados na faixa de 10-59 é determinada pelos mais idosos entre 50 e 59. A mortalidade dels é entre 3,0 e 10,0, muito acima da média. (7/13)
Se o médico que postou o gráfico tivesse lido e entendido a observação 8 da planilha que ele cita talvez pudesse entender o que está ocorrendo. Como é sabido que o conhecimento de inglês dele é bastante limitado, "scientific jobs em medical magazines", fiz a tradução: (8/13)
"8. Para a faixa etária de 10 a 59 anos, a população vacinada será, em média, mais velha do que a população não vacinada devido à priorização com base na idade na implantação da vacina." (9/13)
"Como as taxas de mortalidade são mais altas para os idosos, isso aumentará as taxas de mortalidade da população vacinada em comparação com a população não vacinada."
A explicação está aí. (10/13)
Trata-se de um artefato estatístico no grupo 10-59. Como em todo mundo, no Reino Unido as vacinas foram aplicadas dos mais velhos para os mais jovens. A mortalidade aumenta muito rapidamente com a idade. Os mais velhos dessa faixa têm mortalidade 4x maior que a média. (11/13)
Na medida em que o grupo vacinado inclui preferencialmente os mais velhos, com maior mortalidade, a mortalidade geral dos vacinados parece maior. No entanto, se fossem adotados agrupamentos etários de 10-19, 20-29, 30-39, 40-49, 50-59 isso provavelmente não aconteceria. (12/13)
Mais uma vez, formou-se uma rede internacional de desinformação para espalhar medo, mentiras e informações erradas sobre o efeito da vacina na mortalidade.
Para um dada idade, a mortalidade entre os vacinados é sempre muito menor do que entre os vacinados. (13/13)
*do que entre os não vacinados. (13/13)

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12 Nov
O Relatório de Recomendação do @conitec_gov é sem dúvida um alento para quem entende e confia na ciência contra a covid:
1. Não há medicamento específico recomendado de rotina parade paciente ambulatorial com covid-19. (1/8)
2. Há benefício clínico porém não é possível recomendar o uso de rotina de anticorpos monoclonais: bamlanivimabe+etesevimabe, regdanvimabe, sotrovimabe. Os custos são proibitivos para um benefício limitado. (2/8)
3. Não são recomendados por evidências ausentes ou insuficientes: anticoagulantes, budesonida, colchicina, corticosteroide sistêmico, ivermectina, nitazoxanida e plasma convalescente. (3/8)
Read 8 tweets
11 Oct
A #FarsaDaProxa tem um aspecto muito didático sobre o que chamamos de ciência patológica. A criação de uma realidade paralela na qual seus criadores acreditam piamente e que a partir de um certo ponto não tem como voltar. @michaelshermer aborda o assunto em alguns livros. (1/9)
Em que momento o engano se torna autoilusão e fraude?
A #FarsaDaProxa começa com a observação por um grupo de médicos que havia mais incidência de covid em homens calvos. Eles devem ter se achado muito espertos por terem nosso algo óbvio que escapou de toda comunidade. (2/9)
Uma análise estatística minimamente rigorosa teria mostrado que se trata de uma correlação fortuita: calvície está relacionada a idade. Correlação não implica causa. Nossos bravos pesquisadores entenderam ter feito um achado genial e correram para publicar. (3/9)
Read 9 tweets
20 Sep
Nosso cérebro evoluiu para encontrar relação entre causa e efeito, mesmo onde ela não existe. Daí nascem as superstições e os falsos positivos que são tão úteis para a pseudociência. A ciência tem ferramentas para evitar que caiamos nessas armadilhas. (1/10)
A manifestação mais elementar é atribuir efeitos fora do nosso controle a ações nossas. Todo mundo sabe que pular 7 ondas na virada garante um ano próspero. Ou que rezar por um parente enfermo vai influenciar sua recuperação. (2/10)
Em situações de grande comoção, buscamos relacionar causa e efeito onde essa relação não existe. Muitos médicos de boa fé caíram no conto da cloroquina ou da ivermectina. Prescreveram a droga a pacientes com covid e eles ficaram bons. Logo, a cura se deve à droga. (3/10)
Read 12 tweets
4 Aug
O governo atual tratou a Diretoria de Relações Internacionais da CAPES como assunto quase de família. Durante a gestão de Weintraub, de funesta memória, foi nomeada a amiga Heloísa Hollnagel, da UNIFESP com quase nenhuma experiência internacional. (1/10)
cartacapital.com.br/educacao/acabo…
Eu participei de algumas reuniões com ela, desde que apareceu na CAPES como assessora da DRI. Quase pedia desculpas por não entender nada de internacionalização mas tinha muita vontade de aprender.
Liderando reuniões foi um desastre. (2/10)
Uma vez trouxe uma proposta da presidência de trocar o banco de assessores da CAPES por um no qual as pessoas se inscreveriam em lugar de serem convidadas. Não muito diferente da revista médica que recruta revisores pela internet. (3/10)
Read 11 tweets
2 Aug
Andrew Hill é um pesquisador que tinha se iludido com os "bons resultados" da ivermectina e virou uma das referências na área. Quando começou a se dar conta dos problemas, agiu como cientistas agem, passou a ter dúvidas sobre suas próprias conclusões. (1/5)
Picaretas internacionais como o Pierre Kory revelam sua índole soltando um sonoro Fuck you.
Sou cientista há quase 40 anos. Nunca participei de uma discussão científica com esse tipo de argumento tão construtivo. (2/5) Image
Picaretas locais tomam a mesma posição, xingando seu ex-aliado "Você é uma desgraça".
Sou cientista há quase 40 anos. Nunca participei de uma discussão científica com esse tipo de argumento tão construtivo. (3/5) Image
Read 5 tweets
28 Jul
A recente pane catastrófica no CNPq me lembrou de uma eterna discussão sobre política de dados nas instituições públicas brasileiras.
Devemos manter nossos data centers ou terceirizar?
Segue o 🧵.

Spoiler: Terceirizar. (1/12)
Nossa vida mudou com o desenvolvimento de TI barata. Toda nossa comunicação passa por grandes bancos de dados. As instituições passaram a ter seus próprios data centers, infraestrutura capaz de armazenar e processar grandes volumes de dados. (2/12)
É lá que funcionam servidores de dados, emails, centrais telefônicas, etc.
Isso causa alguns problemas:
1. Obsolescência rápida de equipamento.
2. Fragilidade em relação a falhas.
3. Vulnerabilidade a invasões e ataques.
Todos eles têm soluções. (3/12)
Read 12 tweets

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