Estava devendo um fio dessa revisão sistemática sobre eficácia das medidas não-farmacológicas contra a COVID-19. Agora vai! :) bmj.com/content/375/bm…
Bom, o objetivo do estudo foi o de revisar as evidências sobre a eficácia das medidas de saúde pública na redução da incidência de COVID-19, a transmissão SARS-CoV-2 e a mortalidade por COVID-19. A lista das ações analisadas é bem extensa! Vou destacar os achados principais.
Foram incluídos 72 estudos, dos quais 35 avaliaram medidas individuais de saúde pública e 37 avaliaram múltiplas medidas de saúde pública como um "pacote de intervenções". Oito dos 35 estudos foram incluídos na meta-análise.
De maneira geral, a revisão indicou a redução na incidência de COVID-19 quando associada à lavagem das mãos (12%), uso de máscara (84%), distanciamento físico (87%).
Sobre a questão do uso de máscaras, um experimento natural (sobre a evolução da doença) em 200 países mostrou 45,7% menos mortalidade relacionada ao COVID-19 naqueles onde o uso de máscaras era obrigatório.
Devido à heterogeneidade dos estudos, a meta-análise não foi possível para os resultados de quarentena e isolamento, lockdowns e fechamentos de fronteiras, escolas e locais de trabalho. Porém, os efeitos dessas intervenções foram resumidos de forma descritiva, que mostro a seguir
Primeiro: "todos os estudos que avaliaram a permanência em casa ou medidas de isolamento relataram reduções na transmissão do SARS-CoV-2". Isso, naturalmente, tem impacto em redução de hospitalizações e mortalidade. Mas a gente sabe que nem sempre é/foi possível...
Um destaque do artigo: "um experimento natural, envolvendo 202 países sugeriu que aqueles que implementaram o lockdown tiveram menos casos de COVID-19 do que países que não o fizeram" (o que aconteceu no Brasil em março desse ano é demonstrativo disso). 👇pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33124541/
Sobre desinfecção nos domicílios: um estudo relatou a associação entre desinfecção de superfícies e redução do risco de transmissão secundária de SARS-CoV-2 dentro dos domicílios. pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32467353/
O estudo avaliou a desinfecção retrospectivamente perguntando aos participantes sobre o seu "uso diário de desinfetante à base de cloro ou etanol nos domicílios"; observou que o uso de desinfetante foi 77% eficaz na redução da transmissão SARS-CoV-2.
Bom, todo mundo que me segue sabe que eu defendo a higienização periódica de superfícies como uma medida de Biossegurança e redução do risco de contaminação com doenças de contato, independentemente da COVID-19...
E vejam que interessante esse dado: o rastreamento para febre não mostrou sensibilidade (variando de 18% a 24%) na detecção de pessoas com infecção por SARS-CoV-2. Isso se traduziu em 86% da população com SARS-CoV-2 permanecendo sem ser detectada durante o rastreamento da febre.
Assim, a revisão sistemática e meta-análise sugere que várias medidas de proteção pessoal e social, incluindo lavagem das mãos, uso de máscaras e distanciamento físico estão associadas a reduções na incidência da COVID-19. E nós já sabemos disso! 😊
Os esforços de saúde pública para implementar medidas de controle epidemiológico devem considerar a saúde comunitária e as necessidades socioculturais, e futuras pesquisas são necessárias para entender melhor a eficácia dessas medidas no contexto da vacinação contra a doença.
Por fim, os autores terminam com essa frase, que concordo totalmente: "é provável que o controle adicional da pandemia COVID-19 dependa não apenas da alta cobertura vacinal e de sua eficácia, mas também da adesão contínua às medidas eficazes e sustentáveis de saúde pública".
Assisti a duas reportagens no jornal do almoço local que me deixaram "intrigada". A primeira sobre retorno às aulas e a segunda sobre um evento gastronômico. Na sequencia explico o porquê...
Sobre o retorno às aulas presenciais nas escolas, super entendo a importância. Porém, muitas escolas não seguem os protocolos como deveriam e na reportagem, ouvi que algumas escolas não fornecerão apoio (simultâneo) dos profes aos alunos que optarem pelo ensino remoto.
Dar aula nas duas formas é um desgaste para o professor? Sim, com absoluta certeza. Fazer o aluno frequentar o ensino presencial para ter maior dedicação do professor sem vacina para sua faixa etária deveria ser o preterido? Obviamente que não. A mim, soa até como coação...
Pessoal, o papo agora é sobre a diferença entre uma PFF2/N95 "padrão" e a KN95. MUITA gente acha que é a mesma coisa. Não é não! Vem comigo no fiozinho...
Conforme já expliquei, PFF2 é a classificação relativa à eficiência de filtração de 95%. Ambas N95 e KN95 são confeccionadas para essa eficiência. Mas o que faz a máscara completa? Camadas de tecidos (e poros), ajuste e testagem.
A eficiência de filtração é quantificada em laboratório, em condições controladas e experimentais. Geralmente, as testagens são feitas com cloreto de sódio (o sal de cozinha). Até aqui, podemos dizer que ambas são "eficientes" em filtrar, mas não que protegem igualmente.
Vacinas para crianças - o que temos? Siga o fio (com base na matéria da revista Nature do dia 21/04). nature.com/articles/d4158…
O artigo analisa como os ensaios explicarão as diferenças no sistema imunológico das crianças e a suscetibilidade à COVID-19, em comparação com os de adultos, bem como as precauções adicionais de segurança que envolvem a pesquisa médica em crianças.
E vamos lembrar que embora a doença seja menos danosa em crianças, devido ao seu sistema imune mais hábil em responder (artigo do grupo da @CrisBonorino abaixo), elas TRANSMITEM a qualquer suscetível. medrxiv.org/content/10.110…
A revista Science publicou ontem (29/04) um estudo sobre a escolaridade presencial e o risco de contaminação doméstica com a COVID-19. Acompanhe o fio!
Primeiro, destaca-se que as formas pelas quais a escolaridade presencial influencia a incidência da COVID-19 na comunidade são complexas. Mas há um consenso de que as escolas criam potenciais conexões de transmissão entre comunidades diferentes.
Isso ocorre pq mesmo que a transmissão em salas de aula seja rara, atividades relacionadas à entrada/saída de alunos, interações com professores e mudanças mais amplas no comportamento, relacionadas a diminuição de cuidados, podem levar a aumento na transmissão da comunidade.
Retorno às aulas e máscaras para crianças: como deixar os pequenos mais seguros já que as PFF2 são feitas (e testadas) para adultos? O segredo está no "meltblown". Siga o fiozinho! (1/11)
"Melt-blowing" é o processo de produção de uma camada de fibras do tipo "não-tecido" que usa polímeros termoestáticos. O principal é o polipropileno. É como uma de "teia de aranha"... (2/11)
A principal vantagem desse processo na máscara é justamente essa que faz o material se assemelhar à teia: a capacidade de reter partículas e permitir a passagem do ar. (3/11)
Fio sobre as considerações do CDC e minhas opiniões a respeito da contaminação por fomites (superfícies). Se você não concorda comigo, tranquilo. Faça como achar melhor.
Esse é link (atualização do dia 5 de abril): cdc.gov/coronavirus/20…
O SARS-CoV-2 é um vírus cuja camada externa (envelope) possui proteínas e lipídios para “embalar” o material genético. O envelope contém estruturas (proteínas Spike) para se ancorar às células humanas durante a infecção.
O envelope do SARS-CoV-2, como acontece com outros vírus respiratórios envelopados, é frágil e pode se degradar rapidamente após contato com surfactantes contidos em agentes de limpeza e em condições ambientais.