Sabemos que o populismo-autoritário, o nacional-populismo de extrema-direita, adotou a via da erosão da democracia. Seu objetivo é converter democracias eleitorais em autocracias eleitorais. Mas será que o neopopulismo, o populismo de esquerda, também erode a democracia?
Siga.
Para responder isso é necessário entender que as democracias que existem no mundo de hoje são de dois tipos: as democracias liberais e as democracias eleitorais. Sigo a classificação do V-Dem (Universidade de Gotemburgo) dos regimes políticos.
Vai seguindo.
Em geral o neopopulismo (o populismo de esquerda) incide - com maior expressividade - em democracias eleitorais. Mas o populismo de esquerda (ao contrário do populismo de extrema-direita) não quer fazer decair o regime para uma autocracia eleitoral.
Tem mais.
O populismo de esquerda quer manter a democracia eleitoral como democracia eleitoral, impedindo que ela alcance o patamar de democracia liberal. Em outras palavras, quer drenar - mas lentamente - o conteúdo liberal da democracia, estacionando a democracia como guerra eleitoral.
Esta é uma via arriscada, pois um erro de percurso (ou uma radicalização da força política populista no comando) pode fazer a democracia eleitoral virar uma autocracia eleitoral, como vimos acontecer na Venezuela e na Nicarágua (que hoje são ditaduras francas de esquerda).
O populismo de esquerda, entretanto, pode-se dizer democrático (no sentido eleitoral do termo). Sua estratégia é ganhar eleições sucessivamente para se delongar nos governos, ganhando tempo para conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido.
Foi assim na Bolívia de Evo, no Equador de Correa, no Paraguai de Lugo, em El Salvador de Funes e no Brasil de Lula. Esses líderes populistas de esquerda eram democratas eleitorais, mas não democratas liberais. Eram hegemonistas e majoritaristas, ou seja, i-liberais.
Ocorre - e aqui está o ponto - que a democracia não é um modelo e sim um processo (o processo de democratização). Como na metáfora da bicicleta, se parar de andar, cai. Se a democracia eleitoral não caminhar para ser uma democracia liberal, o regime corre o risco de decair.
E o regime político tende a decair, por perda de conteúdo liberal, se um populista de esquerda (ou um partido populista de esquerda) permanece no poder por tempo suficiente para ir enfreando o processo de democratização rumo a uma democracia liberal.
Isso pode ser interpretado como um tipo de erosão da democracia. Ainda que seja uma erosão diferente daquela produzida pelo populismo de extrema-direita.
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No longo prazo, de um ponto de vista democrático, Moro é o candidato mais perigoso de todos.
Veja por quê seguindo o fio.
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O epílogo do seu livro de campanha tem como título “Precisamos de você” e como frase final: “A luta contra o sistema de corrupção nunca poderá prescindir de bons combatentes, entre eles você.”
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Ele continua querendo fazer uma cruzada de limpeza ética para punir os corruptos. Quer instalar na presidência da República a fedorenta vibe lavajatista. Como declarou hoje ao Correio Braziliense, o ex-juiz quer ser o juiz supremo, o juiz dos juízes.
Com a volta de Lula, o Brasil passará do quadrante 1 para o quadrante 2. E há sempre um risco de decair do quadrante 2 para o quadrante 4, embora menor.
Continua
O maior risco, neste caso, é o Brasil estacionar como democracia eleitoral e não se converter em democracia liberal - já que Lula é um democrata eleitoral i-liberal).
Continua
Com a reeleição de Bolsonaro ou a eleição de Moro o Brasil pode pular do quadrante 1 para o quadrante 3.
Veja o diagrama abaixo, agora com arte-final do @renatojcec
Cristãos fundamentalistas da extrema-direita americana estão fazendo um movimento preocupante. Depois de tentarem cavalgar em Trump, resolveram agora "liberar" áreas para experimentar a autocracia como modo-de-vida.
Siga o fio.
Seus argumentos espelham, enganadoramente, os argumentos de uma iniciativa inovadora que proponha experimentar a democracia como modo-de-vida (o real objetivo é experimentar a autocracia como modo-de-vida).
Continua.
Sob o valor supremo da "liberdade" e, inclusive, da atuação "pacífica", eles querem criar polis paralelas (que são, na verdade, anti-polis paralelas). Eles querem passar da guerra de movimento à guerra de posição, cavando trincheiras na América profunda.
A democracia não tem proteção eficaz contra a nova forma de "golpe" do século 21: a erosão democrática, que derrui as regras não-escritas sobre as quais se assentam as instituições. Por isso é tão difícil enquadrar penalmente a atividade dos bolsonaristas como Allan dos Santos.
Os que não entendem isso ficam defendendo uma liberdade absoluta de expressão desde que não se converta em incitação à ação criminosa. Mas para erodir a democracia não é necessária a ação ilegal. Basta a desconstituição das normas ou a dilapidação do capital social.
Ou seja, basta o esgarçamento da rede social (a alteração dos seus graus de distribuição, conectividade e interatividade), o aumento do tamanho social do mundo, acarretando um decréscimo da confiança ampliada socialmente e a instalação de estado de guerra (ainda que sem sangue).
O PSDB não se desidratou agora, nem em 2018. Mas muito antes, ao ser vacilante, leniente e conivente com o lulopetismo.
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Os tucanos nunca entenderam que foram escolhidos pelos eleitores para ser oposição. Achavam que ainda estavam no governo de vez que Lula resolveu manter sua política econômica. E refugaram.
Durante cinco anos (2005-2010) publiquei artigos na Folha de São Paulo alertando sobre isso. Mas eles, sempre de salto alto, fingiam que não entendiam.
Lula disse. Está nos jornais de hoje. "Se eu voltar eu vou regular os meios de comunicação deste país”. Como é que um presidente faz isso num país em que há liberdade de imprensa? Enviando um projeto de lei ao parlamento.
Siga o fio.
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Ora, para tanto ele não precisa voltar. Basta que os deputados e senadores petistas apresentem tal projeto.
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Se, para "regular os meios de comunicação", é preciso que isso parta de alguém que está na presidência da República, então alguma coisa está errada. Lula está dizendo que vai usar o seu poder executivo para forçar a aprovação da lei pelo Congresso?