Hoje é dia de analisar o programa da IL para saúde!
Para quem gosta de políticas de saúde é uma leitura interessante. Para o cidadão comum.. são 200 páginas!
Vamos a isso!
Segue 🧵🧵
Para ser mais fácil, vou começar com o que concordo antes de passar ao que discordo
Fico muito contente por ver a IL com coragem e a acompanhar o pensamento para a redefinição dos papéis sociais da saúde
A saúde, os utentes e profissões têm a ganhar com esta medida
Para ser coerente, também defendo o mesmo paradigma nas farmácias. Mas a ideologia fala sempre mais alto. Enumeram 4 exemplos do que as farmácias podem fazer e um deles é a vacinação. O que está a correr mal para ser retirada dos centros de saúde?
Sem esquecer que a vacinação nas crianças é normalmente (e deve ser sempre) com uma consulta de enfermagem. Portugal tem altas taxas de cobertura vacinal, mesmo com pandemia. Querer que as farmácias assumam esta responsabilidade parece mais capricho ideológico que necessidade
A proposta de simplificar os processos de instalação de equipamentos de radiologia: sim, mas falta o resto. a proposta é muito focada para facilitar os privados a instalarem equipamentos, não há nada sobre a renovação/aumento da capacidade do setor público
Desde que sejam cumpridas as regras de segurança, nada contra tornar os processos mais fáceis e ágeis. Mas é óbvio que é preciso falar em (pelo menos) renovação dos equipamentos do setor público
Defender mais autonomia também é consensual em todos os que escreveram um programa
Vamos ao resto!
O programa fala bastante em enfermagem por via do alargamento de competências. Mas de forma incoerente, pois diz que não há estudos que provem o impacto da formação especializada dos enfermeiros. Dar com uma mão e tirar com a outra
Mais competências sim, mas cuidado que não há estudos que comprovem que sirva para alguma coisa...
Sobre a necessidade de haver um racional para os rácios: existe e está publicado em DR
Nos exemplos dados sobre o que poderia fazer um enfermeiro especialista com mais competências
É notório que não conhecem hospitais públicos. Dizem que "enfermeiro especialista em saúde materna poderia fazer partos"
Tanto que pode como faz! No SNS os partos sem complicações são maioritariamente feitos por estes profissionais. No privado é que não.. quem é mais eficiente?😏
(sem contar com as enormes disparidades nas taxas cesarianas)
Outro exemplo interessante de como não têm ligação nenhuma ao terreno:
Há um debate antigo sobre a evolução da enfermagem, se devemos ser todos especialistas ou não. Mas não faz mal, a IL já decidiu por nós
Sobre a carreira? Não se preocupem, a IL também já decidiu por nós e defende uma carreira que nenhum sindicato defende
Gosto desta ideia de ser contra o papá estado mas viva ao papá partido!
Sem surpresas querem mais PPP e afirmam que Braga ficou horrível. O facto de ter batido o seu recorde de produção cirúrgica em plena pandemia deve ser um pormenor
Querem concursos internacionais para gerir serviços dentro dos hospitais EPE
Não sei se ter um fundo especulativo americano a gerir o bloco de santa Maria durante 12 meses e depois trocar por um fundo saudita seja uma boa ideia. Mas quem sabe?
Propõe uma nova lei de bases para substituir a que está em vigor há apenas 3 anos
O fio está longo para entrar por aí (e ainda falta a reforma do SNS) mas o que acho divertido é o truque retórico clássico "o que os outros dizem é ideológico o que nós dizemos é bom senso)
Vamos então ao que todos estávamos à espera:
A reforma radical do SNS
É defendido a transição para um modelo de 4-5 seguros obrigatórios baseados no trabalho. Não é tão claro quanto ao destino da rede de prestadores atuais, mas fica entendido que parte permanecerá EPE, parte PPP e o restante privatizado/entregue ao setor social
O sistema em si pode garantir o acesso universal à saúde e prevê competição entre os 4-5 seguros obrigatórios
A comparação inicial não é feita com os sistemas que surgem como os melhores em várias avaliações: Noruega e Finlândia. Que têm SNS como o nosso..
Não há um consenso absoluto sobre qual o melhor sistema de saúde. Apenas que este não é o principal determinante do estado de saúde da população
Se falarmos em sistema que potencialmente (se bem gerido e financiado) pode entregar um melhor estado de saúde
Voltamos à Noruega e Finlândia: SNS mas descentralizado. (E esta é a grande reforma que temos de fazer por aqui)
Concedo que em pandemia, um sistema tipo holandês tem maior potencial, pois não sofre do paradoxo da eficiência, tem sempre excesso de capacidade.
Mas precisa de ser centralizado para responder aos desafios.
Como 99% das nossas vidas é feita sem pandemias, devíamos falar em descentralizar o SNS (e não fragmentar em 308 municípios)
A resposta para todos os problemas passa a ser este. A reforma do sistema
Mas não deixa de enganador
Na Holanda há tempos de espera e tiveram de "exportar" doentes durante a pandemia
Não parece boa ideia migrar para um sistema mais caro, que não garante melhores resultados.
A própria IL reconhece que será mais caro, pois quer compensar no salário o aumento do custos com a saúde
Se o desemprego aumentar ou salários permanecerem estagnados (conjugado com a inflação ser maior na saúde) e temos um sistema mais caro, que drena mais recursos
Mas sem apresentar melhores resultados de saúde
Já está longo, mas muito mais haveria a dizer
Notas finais:
Elogio à proposta de aumentar o IVA nas terapias não convencionais
E elogiar a frase "a saúde deve ser vista como investimento e não um custo + não é possível quantificar
O custo final da nossa proposta": na semana passada criticaram tanto a Catarina Martins por ter dito o mesmo, fico feliz por afinal pensarem o mesmo😏
Fim de 🧵
Obrigado a quem leu
Comentários são sempre bem vindos ☺️😃
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Eu conheço bem os bairros do Seixal. Eu próprio cresci nuns prédios construídos com o objetivo de ser mais um bairro social da zona
Conheço as pessoas, já fiz voluntariado num deles, organizamos eventos em conjunto. estamos presentes e trabalhamos juntos ao longo dos anos
Não somos/sou o único. Sei disso nem pretendo ser o que não sou. E toda a ajuda é bem vinda. O que acho incrível, é ver quem não levantou uma palha durante anos a fio, ter a coragem de nos criticar por estarmos presentes. Bem ou mal, nós estamos lá. E não excluímos ninguém
Sei onde se come a melhor andala da margem sul, conheço a história de vida de quem fundou o vale de chicharos, ou de como sair do bairro é uma missão quase impossível. Sei das injustiças e de como a situação é bem mais complexa que o simples bons vs maus
Vou responder ao desafio de analisar o programa do Volt. Pela ausência do programa da IL e PSD não tenho tido oportunidade de seguir o calendário, pelo que vamos a isso!
Programa que surpreende pela dimensão e detalhe
Segue 🧵🧵🧵
O programa dá destaque à saúde mental e farmacêuticos
Começa com um capítulo sobre acesso aos cuidados de saúde:
Pretendem reduzir listas de espera essencialmente através da tecnologia. Há boas experiências piloto na área que podem e devem ser expandidas. Concordo
Mas não percebo a enorme cautela à contratação de profissionais (colocam 3 condicionantes!) Quando é um dos problemas neste capítulo.
A organização e melhor utilização da capacidade instalada é outro dos determinantes que também não é abordado
Hoje seria o debate com CDU, pelo que está na hora de olhar para o seu programa eleitoral para a saúde
Um programa longo, bem estruturado e que defende o SNS
Segue 🧵🧵🧵
Avançam o mesmo programa de 2019, mas com um prefácio. A saúde tem direito a um capítulo próprio com 7 pontos extra/destaque.
Maioria dos pontos dizem respeito a questões laborais (situação que desenvolverei mais à frente)
Mais contratações, dedicação exclusiva, carreiras
Pedem o "aceleramento na compra de equipamentos em particular de meios auxiliares de diagnóstico". Importante mas curto e mal definido. E pedir apenas mais meios é insuficiente, era uma boa oportunidade para explicar como produzir mais com os meios atuais (e futuros)
O último relatório linhas vermelhas é muito interessante.
A maior incidência está no grupo 20-29, seguindo-se dos 30-39. São os jovens adultos os principais focos de novos casos.
A incidência no grupo +65 é 6x inferior ao grupo 20-29. Impacto da 3ª dose e talvez menor mobilidade
Ainda estamos com situação crescente, não é claro quando será atingido o pico. Mas o impacto nas UCI está totalmente dissociads dos novos casos. Há mais pessoas 20-39 em UCI que +80 (8 vs 6). Maior grupo são os 60-79
Em outubro, um não vacinado +80 tinha o dobro da probabilidade de internamento que um vacinado da mesma idade. Proporções semelhantes para 70-79 e 60-69.
No grupo 50-59 um não vacinado tinha 6x maior risco de internamento que um vacinado
alinhou no discurso que ninguém queria eleições. são um partido responsável. divagou e o moderador chamou à pergunta:
- lembrou o medo das maiorias absolutas e é preciso transparência
Costa, quer maioria absoluta?
Elogia Livre e Tavares. Cola Rui Rio a politicas de austeridade. Aproveita para se mostrar como partido da responsabilidade e estabilidade
Hoje iniciam-se os debates! está na hora de ir ler os programas eleitorais, com olho na saúde. Vou deixar o do Bloco para o fim e tentar seguir a ordem dos debates da Catarina.
O que significa que vamos começar pelo CH.
Segue o 🧵🧵 após leitura e análise atenta👀👀👇🏼👇🏼
Antes da saúde propriamente dita, passei pela economia. Afinal de contas, não há saúde sem economia (nem economia com pessoas doentes)
O CH defende que gerir um país é igual a gerir um orçamento familiar. Começa de forma bem tosca
Defende um corte enorme nos impostos e elege como *prioridade* económica pagar a dívida. Além da ironia boa de ter o partido nacionalista a servir os interesses dos banqueiros alemães, é revelador do pensamento de vistas curtas. A prioridade não é crescer, é pagar dívida