Hoje foi divulgado (em uma conferência) o caso de uma paciente sem sinais detectáveis de HIV em testes extensivos desde que interrompeu o tratamento antirretroviral em Out/20 após um transplante de células-tronco com uma mutação genética que bloqueia a invasão do HIV 👇🧶
Os detalhes de seu caso foram apresentados terça-feira na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas. Com certeza é algo surpreendente e muito animador, mas vamos entender um pouco melhor, com o que foi divulgado até o momento, o que aconteceu
A paciente recebeu um transplante para tratar a leucemia mieloide aguda (câncer que leva a geração desenfreada de células imaturas na medula óssea), bem como o HIV, com o qual ela foi diagnosticada 4 anos antes de desenvolver a leucemia. drauziovarella.uol.com.br/cancer/tudo-o-…
A paciente recebeu um transplante de células-tronco: 1) de um parente adulto 2) e sangue de cordão umbilical de um recém-nascido com o qual não era parente.
A resposta foi/está sendo surpreendente, e o tratamento é sim promissor. Assim como essa paciente, 3 outros pacientes com câncer alcançaram a remissão do HIV após transplantes de células-tronco, que continham células-tronco com uma mutação chave em um gene chamado CCR5.
A molécula CCR5 é importante para a entrada do HIV nas células. Ele está presente no exterior de nossas células de defesa, e na ausência dele, ou com alguma mutação que modifique essa dinâmica, o vírus tem uma dificuldade em entrar na célula hospedeira jamanetwork.com/journals/jama/…
Mas é importante destacar que tudo isso ainda precisa de muita investigação. Transplantes de células tronco são arriscados e dispendiosos, ainda precisamos entender os mecanismos/processos de controle dessa proliferação das células-tronco.
Em 2019, saiu na @Nature um caso de não detecção do HIV após um transplante de células-tronco. Foi o segundo paciente relatado. Esses 2 pacientes tinham uma forma de câncer no sangue que não estava respondendo à quimioterapia e precisaram de transplante nature.com/articles/d4158…
Esse transplante de medula óssea foi realizado após a destruição das células sanguíneas do paciente, sendo reabastecido com células-tronco transplantadas de um doador saudável. As células transplantadas eram de um doador que tinha mutações no gene CCR5.
A grande questão é: até agora, os casos eram pessoas com HIV que também tinham um câncer e que, por conta dessa doença, acabaram precisando do transplante. Portanto, esse tratamento não poderia ser feito dessa forma em pacientes sem histórico da doença
Mas os pesquisadores seguem estudando novas abordagens de terapias, a partir de dados como este. Afinal, o HIV é uma preocupação global. Somente na África Subsaariana, temos dois terços dos 37,7 milhões de pessoas do mundo que vivem com HIV.
Tivemoscasos anteriores,como o de Timothy Brown, inicialmente chamado de “paciente de Berlim”, cujo sucesso inspirou pesquisadores a explorar terapias genéticas que poderiam curar a doença. Ele acabou falecendo em 2020 após uma recidiva da leucemia wsj.com/articles/SB122…
Em 2019, os pesquisadores relataram que dois outros pacientes, homens em Londres e Düsseldorf, na Alemanha, alcançaram remissão sustentada do HIV após receber transplantes. wsj.com/articles/londo…
Uma possibilidade, sugerida por Steven Deeks, pesquisador da área, poderia ser "fazer isso usando as próprias células de uma pessoa, o que seria muito mais seguro e escalável.” wsj.com/articles/woman…
É mais um ponto importante no entendimento de abordagens contra o HIV, e precisamos seguir investindo em pesquisa científica para chegar, cada vez mais próximo, de uma cura.
E não esqueça: PROTEJA-SE! existem várias formas de prevenir uma exposição ao HIV, e vocês conhecem uma delas: uso de preservativo.
Ainda, confira a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP): aids.gov.br/pt-br/publico-… e a Profilaxia Pós Exposição (PEP): aids.gov.br/pt-br/pep-prof…
ATENÇÃO: Vírus MUITO parecido com o SARS-CoV-2 circula em morcegos🦇de cavernas no norte do Laos🇱🇦, sendo capaz de se ligar eficientemente ao ACE2 humano (e sua entrada na célula é inibida por anticorpos contra o SARS-CoV-2)
Mais evidências pra evolução natural 👇🧶
Encontrar o reservatório animal do SARS-CoV-2 (ou qual animal abrigaria esse vírus e poderia transmitir para outros) não é uma tarefa fácil. Diversos fatores também estão intimamente relacionados com o risco de "pulos" do vírus entre uma espécie para outra
Vírus de RNA são muito adaptativos, e nossa proximidade com espécies que abrigam esses vírus taz riscos. Cerca de 500 milhões de pessoas vivem em áreas onde podem ocorrer "pulos", incluindo o norte da Índia, Nepal, Mianmar e boa parte do Sudeste Asiático
Estudo recente da África do Sul🇿🇦:
🔹Não vacinados e recuperados de #Omicron➡️proteção somente contra Omicron
🔹Vacinados e recuperados de #Omicron➡️proteção contra Omicron, Delta, Beta, C.12 e D614G!
É algo que falamos já tem um tempo aqui: a resposta via infecção pode não ser abrangente para outras variantes de preocupação (VOCs), tendo risco para reinfecção. Em recuperados, mas não vacinados, dependendo da VOC, vemos reduções em reduções de 20 a 43x no título de anticorpos
Isso ressalta alguns pontos sobre adquirir uma imunidade somente via infecção:
🔹Pode desencadear respostas variáveis entre indivíduos
🔹Não é abrangente para todas as VOCs
🔹Traz todos os riscos da doença e suas possíveis sequelas
Segundo dados do Ministério da Saúde de Israel🇮🇱, uma 4ª dose em idosos (60+ anos):
🔹triplicou a proteção contra a doença grave
🔹dobrou a proteção contra a infecção
Segundo a reportagem, os números são baseados em 400.000 israelenses que receberam a 4ª dose e 600.000 que receberam 3 doses, com o MS enfatizando que a metodologia é semelhante a artigos anteriores que os especialistas publicaram no @NEJM
Infelizmente, muitos desses dados de Israel tem ganhado manchetes ruins. Não tem muito tempo que comentei a notícia de um dado desse mesmo grupo. Temos que ter cuidado em não confundir dados de anticorpos com a generalização de dados de proteção.
Já se perguntou como o sistema imunológico, após uma vacina por exemplo, é capaz de montar uma memória imunológica duradoura?
Vou comentar de um protagonista desse processo: as células dendríticas foliculares!
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Em um estudo recente, pesquisadores investigaram como essas células dendríticas foliculares (FDC) são capazes de guardar essas "informações" (ou antígenos) para auxiliar no processo de geração da memória imunológica ncbi.nlm.nih.gov/labs/pmc/artic…
Podemos entender essas FDC como um importante reservatório para o antígeno, que é essencial para a formação de locais nos nossos "centros de defesa", os centros germinativos. É nesse local em que as células B de memória e efetoras se diferenciam
Sobre a "variante recombinante que une características da Delta e da Omicron". Já conhecíamos ela pelo nome Deltacron, lá de Janeiro. Essa nova detecção está sendo monitorada e investigada.
Comento sobre a Deltacron e a primeira detecção aqui
@PeacockFlu comenta que, ao contrário da primeira detecção, essa parece ser diferente em origem, mas não temos indicativo atualmente sugerindo que essa variante seria muito diferente do que a gente observa para a BA.1 (sub-linhagem #Omicron)
Com os dados atuais, não parece ser diferente do que já estamos enfrentando nesse momento. No entanto, isso é motivo para fazer pouco ou nada sobre a situação? Não. É motivo de cuidado, monitoramento e entendimento que, enquanto a transmissão estiver alta, o risco existe