ATENÇÃO: Vírus MUITO parecido com o SARS-CoV-2 circula em morcegos🦇de cavernas no norte do Laos🇱🇦, sendo capaz de se ligar eficientemente ao ACE2 humano (e sua entrada na célula é inibida por anticorpos contra o SARS-CoV-2)

Mais evidências pra evolução natural 👇🧶
Encontrar o reservatório animal do SARS-CoV-2 (ou qual animal abrigaria esse vírus e poderia transmitir para outros) não é uma tarefa fácil. Diversos fatores também estão intimamente relacionados com o risco de "pulos" do vírus entre uma espécie para outra
Vírus de RNA são muito adaptativos, e nossa proximidade com espécies que abrigam esses vírus taz riscos. Cerca de 500 milhões de pessoas vivem em áreas onde podem ocorrer "pulos", incluindo o norte da Índia, Nepal, Mianmar e boa parte do Sudeste Asiático

Sabemos que os morcegos🦇 abrigam diversos coronavírus. Existe uma frequente transmissão desses coronavírus entre essas espécies, já sendo identificados ~100% coronavírus idênticos em diferentes espécies de 🦇

Nessa busca pelo possível reservatório, pesquisadores encontraram espécies candidatas que abrigam coronavírus com alta semelhança ao SARS-CoV-2, como o Rhinolophus affinis (RaTG13), com 96,1% de similaridade em todo o material genético
Ainda, outros estudos também sugeriram o envolvimento de pangolins, seja como reservatório ou como um hospedeiro intermediário desse vírus,
Desde o seu aparecimento em humanos, o SARS-CoV-2 evoluiu através de mutações esporádicas (que levam a deleções ou a trocas de aminoácidos em locais específicos) e eventos de recombinação, este último comento no fio abaixo:
A medida que a frequência desses fenômenos aumenta, principalmente por conta de alta transmissão em uma espécie, é possível que alguns destes resultem em ganhos de aptidão permitindo que o vírus se espalhe mais amplamente ou escape de anticorpos neutralizantes
Apesar da alta similaridade do morcego RaTG13, muitas lacunas permanecem abertas para entender de onde o SARS-CoV-2 poderia ter evoluído. Os autores do estudo da @Nature hipotetizaram que morcegos de cavernas da península da Indochina poderiam trazer respostas desse "elo"
Os autores mostram que nesse local, existem espécies de morcegos que abrigam coronavírus tão próximos ao SARS-CoV-2 que diferem em 1-2 resíduos de aminoácidos de seus RBD (região da Spike), além de sua entrada e replicação depender da interação com o ACE2 humano
Comparando vários coronavírus de morcegos, as porções S1 e região N terminal (outros locais da Spike) são as menos parecida entre eles, sugerindo que podem ser regiões importantes para adaptação do vírus, por exemplo, quando ele infecta um novo hospedeiro mamífero.
Agora, vamos cavar um pouco mais esse buraco e entender como pode ter ocorrido essas modificações no ancestral do SARS-CoV-2
Imaginem o material genético do SARS-CoV-2 como um mosaico.

5 sequências muito próximas àquelas encontradas em outros coronavírus podem ter contribuído, sendo eles encontrados nas espécies:
🦇R. malayanus RmYN02 e R. pusillus RpYN06 (encontrados na China em 2019)
🦇R. affinis RaTG13 (China em 2013)
🦇R. malayanus BANAL-52 e R. pusillus BANAL-103 encontrados no norte do Laos em 2020, mostrado pelo presente estudo

Nenhuma sequência de coronavírus de pangolim foi imediatamente associada a um evento de recombinação na origem do SARS-CoV-2.
Entre os 17 resíduos (componentes do aminoácido que formam proteínas) que interagem com o ACE2 humano, 16 são conservados entre SARS-CoV-2 e BANAL-52 ou -103 (exceto o H498Q), e 15/17 são conservados para BANAL-236 (exceto K493Q e H498Q )
Outras análises demonstraram que essas similaridades também são vistas na dinâmica de interação desses vírus com as células humanas: sua entrada e replicação depende do receptor ACE2 humano e geral partículas infecciosas a partir disso.
Todo esse estudo revela que que os coronavírus laocianos:
🔹R. malayanus BANAL-52
🔹R. pusillus BANAL-103
🔹R. marshalli BANAL-236

São os ancestrais mais próximos do SARS-CoV-2 conhecidos por encontro
A região ORF8 foi muito diferente entre esses coronavírus relacionados ao SARS-CoV-2, porém estavam muito mais próximas ao SARS-CoV-2 do que a dos pangolins.

A ORF8 é "excluída" (sofre deleção) de muitas cepas de coronavírus que apareceram após Mar/20.
Essas deleções, segundo os autores, lembram as deleções identificadas durante a epidemia de SARS de 2003.

Portanto, a presença de ORF8 é consistente com morcegos atuando como um reservatório natural de cepas iniciais de SARS-CoV-2

pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14752165/
Os autores concluem que o SARS-CoV-2 poderia originalmente resultar de uma recombinação de sequências pré-existentes em morcegos Rhinolophus que vivem nos extensos sistemas de cavernas de calcário do Sudeste Asiático e do Sul da China
Muitas dessas espécies compartilham essas áreas e possivelmente essas cavernas, explicando as possíveis trocas genéticas/recombinações entre eles.

Temos um vírus altamente adaptativo e uma troca constante entre espécies + proximidade de uma outra espécie = spillover/pulo
No entanto, a ligação epidemiológica entre esses vírus de morcego e os primeiros casos humanos ainda não foi estabelecida.

Michael Worobey remonta essa possível conexão num artigo brilhante publicado na @ScienceMagazine (fio abaixo)
Coletores de guano, ou certas comunidades religiosas ascéticas que passam algum tempo dentro ou muito perto de cavernas, bem como turistas que visitam cavernas, estão particularmente em risco de serem expostos, segundo os autores .
Precisamos lembrar que desequilíbrios ecológicos afetam a todos. Quando desmatamos, reduzimos habitats selvagens com a urbanização ou praticamos caça de animais selvagens, estamos criando oportunidades para eventos zoonóticos
E quanto mais cedo aceitarmos essa responsabilidade e a ciência como nossa aliada para entender e agir enquanto sociedade, mais evitaremos esses cenários piores e pandemias futuras.

Temos responsabilidade sobre nossa casa e sobre quem vive nela.

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