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Edgard, o Contínuo @edgard_continuo
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Há uma outra coisa sobre Bolsonaro e a mídia, que é a falta de lastro dos jornalistas sobre o que vinha acontecendo na Internet. Descobrimos um novo mundo que parecia ser o subterrâneo online durante a eleição. De repente descobrimos que o subterrâneo somos nós.
No meu tempo de faculdade se discutia como o jornalista havia se tornado, a partir dos anos 80, um sujeito da bolha classe média, sem contato com a grande massa pobre. E isso evidentemente se reflete na pauta. Classe média escrevendo pra classe média. Sabe a bolha do Facebook?
Agora vemos um segundo fenômeno, que é o enorme espaço online onde fermentou-se o que se transformou um enorme e orgânico apoio a Bolsonaro. Quem tem mais de 30 de idade nas redações normalmente não viu isso acontecer.
A gente viu casos que pensávamos isolados, como a turba anti-feminista que massacrava Lola Aronovich na Internet (e fora dela). Mas esse fenômeno online pouco ou nada foi visto como consistente e representativo.
Um bom texto sobre isso foi escrito por Daniel Salgado (que hoje tem 23 anos) na revista Serrote. É sobre Olavo de Carvalho, mas o pano de fundo é o cenário que descrevi: revistaserrote.com.br/2018/11/transg…
O hype de Olavo de Carvalho, que até os anos 2000 era um caquético outsider, um estudo de caso de sociologia, psicologia e política, acredito eu.
Pensa que você é um adolescente ou pouco mais que isso, vivendo tua vida tranquila. De repente você descobre um cara, ou um grupo, dizendo: sabia que tudo que você acredita é mentira? A terra é plana. O aquecimento global não existe. Olha só, vou te mostrar a verdade.
Não falo só do Olavo (ele apenas diz não ter posição sobre terra plana, etc, rs), mas de todos os grupos sub-reptícios online. Eles imediatamente dão a esse moleque: 1) um "conhecimento" que outros não têm ("agora você sabe a verdade"), e 2) acolhimento (agora vc é um de nós).
No caso de Olavo de Carvalho, ele ainda escreve em português correto e cita uns intelectuais, desde gregos até contemporâneos. Só fala asneira profunda, mas você é um moleque e é seu primeiro contato com tudo isso. É uma coisa deslumbrante, parece tudo muito inteligente.
Flavio Azambuja Morgenstein tem a mesma estratégia. "Nazismo é de esquerda". Cita dois ou três livros ("li todos!"), cita uns intelectuais (o famoso francônio Juju de Beriguenstein), conclui o absurdo e empacota como conspiração: o marxismo te enganou a vida inteira sobre isso.
Pensa no sucesso do livro do Menino do Acre. Tudo isso é a meninodoacrezação da vida, da política.
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