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Desde 2016 eu escrevo ficção quase que exclusivamente em inglês. Então...

Isso mesmo!

1 like = 1 curiosidade sobre escrever ficção em inglês
1. O mercado de FC/F anglófono é muito maior que o nosso e com muitas oportunidades, mas os problemas que temos aqui não são nossa exclusividade. Vanity press, golpes, prêmios forjados, gráficas que se chamam de editoras, cursos caros e de conteúdo duvidoso, e por aí vai.
2. Muitas revistas e antologias estão sempre abertas para submissões do mundo inteiro. Muitas pagam e muitas querem ver mais histórias de autores de outras partes do mundo (EUA/Canadá/Europa ainda domina o mercado).
3. Existe uma associação para quem escreve em FC/F inglês chamada Science Fiction and Fantasy Writers of America. Tendo um certo número de publicações profissionais (mais sobre isso com mais likes) publicadas, você pode pagar uma anuidade para desfrutar de uma série de vantagens.
4. E como a SFWA ficou conhecida? Nos anos 60, O Senhor dos Anéis foi pirateado nos EUA. A associação resolveu então ajudar J. R. R. Tolkien a conseguir alguma compensação financeira pelos livros que foram vendidos ilegalmente no país.
5. De acordo com a SFWA, se você escreveu um conto e alguma editora/revista tenha comprado ele, te pagando $0,06 por palavra (ou mais), então esse conto foi publicado profissionalmente. Você precisa de pelo menos 3 publicados assim para poder fazer parte da associação.
6. Existem 2 grandes prêmios internacionais de FC/F, o Hugo e o Nebula, mas existe vários outros consagrados e que ajudam os escritores a ter uma visibilidade muito maior. Aqui tem uma lista com eles: en.wikipedia.org/wiki/List_of_s…
7. Algumas revistas são quase impossíveis de entrar, mas sempre é possível. Se não for possível, a revista fechará as submissões e só publicará por convite. A Clarkesworld, por exemplo, teve uma taxa de 1,44% de aceitação nos últimos 12 meses. Fonte: thegrinder.diabolicalplots.com/Market/Index?i…
8. Lá fora existe o Writer Beware. A missão deles é detectar, expor e muitas vezes processar golpistas, plagiadores e editoras falsas. Trabalham com advogados e muitas vezes até polícia para caçar os criminosos. Viria a calhar um serviço assim por aqui. sfwa.org/other-resource…
9. A Lei de Yog é séria. O dinheiro deve fluir sempre para o escritor. A maioria dos escritores inseridos no mercado anglófono não curte a ideia de ter que pagar para participar de um concurso ou antologia. Participar sem receber ou recebendo pouco até vai, mas pagar é demais.
10. Escrever em inglês sem ser nativo não é moleza. É preciso paciência e saber que o seu inglês nunca vai ser perfeito. É importante trocar experiências com escritores nativos do inglês pra facilitar na hora de detectar problemas nas suas histórias e aprender com eles.
11. Workshops grandes, convenções e cursos de escrita com nível superior são 3 elementos que ajudam muito a aquecer e manter a qualidade do mercado de FC/F anglófono. São 3 coisas que ainda não temos por aqui em uma escala grande e organizada, mas que um dia pode mudar tudo.
12. Falando em workshops, a @ClarionWest é um dos maiores (ou o maior) workshop de escrita focado em FC/F. São 6 semanas de muita aula e escrita em Seattle. Dois brasileiros já foram: o @fabiofernandes e o Rodrigo Assis Mesquita.
13. Muitas revistas demoram meses (mais de 6 às vezes) para responder, e a regra é rejeição. Pra participar do mercado anglófono, tem que saber lidar com paciência e rejeição. Por outro lado, algumas respondem em alguns dias.
14. Voltando pra SFWA. Algumas de suas vantagens: aconselhamento contratual, permissão pra votar no Nebula, fóruns com toda sorte de contatos profissionais, ajuda médica pra emergências, recepção em algumas convenções (com comidinhas, conforto, etc), e mais.
15. Só por que uma frase está gramaticalmente certa não quer dizer que é aceitável. Existem expressões que só um nativo (ou um estudo aprofundado) vai dizer que não funciona. Se disserem que alguma frase sua é "squinty" ou "jarring", significa que não tá errada, mas tá estranha.
16. Uma dica mais prática. O grupo OPEN CALL na outra rede publica oportunidades de submissões de histórias (de ficção relâmpago até romances). Se vc tiver querendo submeter alguma história e não sabe pra onde, vale a pena ficar de olho. facebook.com/groups/4401076…
17. Não dá pra escrever FC/F em inglês sem ler em inglês. Não só pq é lendo que você aperfeiçoa o idioma e a narrativa, mas também pq você sabe o que está sendo publicado, o que já é clichê lá fora, o que ninguém mais quer. Ex.: vampiros e zumbis tradicionais são passado.
18. Falando em ler. A @LightspeedMag, @clarkesworld, @UncannyMagazine, The Dark Magazine, @NightmareMag, @FiresideFiction, @strangehorizons, @apexmag, @Abyss_Apex, @BCSmagazine publicam histórias gratuitamente em suas páginas. Essas são só algumas, mas existem muitas outras.
19. Se você não respeita o direito de minorias ou pessoas com menos privilégios que você, vai encontrar dificuldade no mercado anglófono. Inclusive, nesse mercado você é minoria também.
20. O site @LitReactor tá cheio de cursos de escrita, do iniciante ao avançado. Pessoalmente, recomendo o Fundamentals of Short Fiction. litreactor.com
21. Falando em ficção curta, se você está começando, sugiro começar pela ficção curta. É o caminho mais fácil (ainda que extremamente difícil) pra quem não tem como frequentar convenções, conversar com agentes e conhecer outros escritores do gênero que escrevam em inglês.
22. Alguns sites que me ajudaram a escrever melhor em inglês:

writing-world.com/index.shtml
ell.stackexchange.com
theeditorsblog.net
critters.org
macmillandictionary.com/us
thesaurus.com

Não tenha medo de ir até um dicionário, thesaurus, perguntar e errar.
23. O Critters é um bom lugar para conhecer outras pessoas escrevendo em inglês. É um grupo de escrita e crítica que se baseia em um sistema de créditos. Você comenta o trabalho dos outros, eles comentam o seu. critters.org
24. É importante saber escrever uma "cover letter" quando você submete para alguma revista. Ela tem que ser básica e direta ao ponto. Basta o título da história, quantidade de palavras e algumas publicações suas (se tiver), além de workshops. A não ser que peçam mais que isso.
25. Esse link é bem interessante e explica como uma cover letter tem que ser feita. Na dúvida: quanto menos, melhor. inkhaven.net/2010/04/lesson…
26. Traduzir sua própria ficção é perigoso, a não ser que você seja um tradutor. De qualquer forma, a revista Samovar aceita traduções, além de pagar autor e tradutor. samovar.strangehorizons.com
27. Uma dica útil e que funciona pra mim é anotar frases e palavras que você lê em histórias e pensa “eu nunca usaria isso”. Depois, tente adaptar esses trechos em suas histórias. Com o tempo, você acaba absorvendo-os.
Sei que só tem 27 tópicos e já foram quase 50 curtidas, mas em breve vou colocar mais (talvez só amanhã). :-)
28. Voltando pra SFWA. Uma curiosidade boba. O nome é SF and Fantasy Writers of AMERICA, mas escritores do mundo todo são bem-vindos. Nem sempre foi assim, no entanto.
29. O Brandon Sanderson tem um curso inteiro no YouTube. É o curso de escrita criativa que ele dá em uma universidade norte-americana. Tem versões de vários anos.

Alguns links:

youtube.com/playlist?list=…

youtube.com/playlist?list=…
30. Revistas que pagam $0.06 ou mais por palavra são consideradas profissionais. Entre $0.01 e $0.05 são semi-profissionais. Menos de $0.01 é considerado um “token” (uma espécie de pagamento simbólico). Isso de acordo com a SFWA. Outras associações podem ter outros entendimentos.
31. Existem também as que pagam um valor fixo, chamado de “flat”. Claro que se uma revista paga $250 fixo e você publicou uma história de 1000 palavras, então você foi muito bem pago e isso normalmente é considerado um pagamento profissional.
32. Os adjetivos em inglês possuem uma ordem específica que deve ser respeitada e que dita o uso da vírgula entre os qualificadores. Pode parecer complicado, mas dá pra pegar com muita leitura e experimentação. gingersoftware.com/content/gramma…
33. Não pense que o dinheiro flui lindamente no mercado anglófono. É melhor que aqui, mas muitas revistas excelentes e famosas são bancadas com Patreon e Kickstarter.
34. A grande maioria das revistas pede que as submissões sejam no formato de Shunn. É um formato padronizado pelo escritor William Shunn. Vale ler o texto no link abaixo e entender que as regras de submissão devem SEMPRE ser respeitadas. shunn.net/format/story.h…
35. Responder rejeições é considerado indecoroso. Não faça isso a não ser que a revista permita explicitamente ou que alguém lhe faça uma pergunta. Se a rejeição for mais pessoal (e você vai notar), um agradecimento ou algum comentário não farão mal.
36. Nem sempre uma rejeição é pq a qualidade da sua história é ruim. Algumas revistas recebem milhares de submissões, e às vezes elas já tem em mente um estilo, um tema ou uma voz específica pra alguma edição. Então, de repente, a sua história só não é adequada naquele momento.
37. Falando em rejeição: deixa passar. Não adianta tentar remoer o motivo de ter sido rejeitado. Se ainda assim vc quiser praticar Rejectomancia, o C. C. Finlay, da Fantasy and Science Fiction Magazine, tem esse post sobre as rejeições da revista: ccfinlay.com/blog/nectar-fo…
38. Todas as histórias submetidas a uma revista são lidas. Se não foi é por causa de algum problema. Por isso, a maioria das revistas definem um tempo de espera. Depois dele, você pode enviar um e-mail perguntando se a história foi lida. Fique sempre atento às instruções.
39. Revistas boas para ter um feedback da sua história ao ser rejeitado, ainda que breve: @fandsf, @escapepodcast, @Pseudopod_org, @PodCastle_org, Cosmic Roots and Eldritch Shores, Grimdark Magazine.
40. Dica que deveria ser óbvia, mas lá vai: antes de sair submetendo para revistas, trabalhe bastante em melhorar sua prosa. É sempre o mais importante!
41. As revistas mencionam termos como "submissões múltiplas" e "submissões simultâneas". A primeira significa submeter mais de um conto pra mesma revista. É raramente aceito. A segunda significa submeter o mesmo conto para várias revistas. Também é raramente aceito.
42. Sobre submeter o mesmo conto para várias revistas, as instruções de submissão DAS DUAS (ou mais) vão te dizer se pode ou não. Mesmo que possa, normalmente pedem para avisar que isso foi feito. A regra geral é esperar ser rejeitado antes de submeter pra outra.
43. A maioria das revistas está comprando a exclusividade de publicar o seu conto por um determinado tempo. Depois disso, você pode vender pro mercado de reprints. Muitas revistas aceitam contos previamente publicados, mas pagam um valor menor ($0.01 por palavra é comum).
44. Histórias publicas em português ou outra língua previamente, quando traduzidas pro inglês, são normalmente aceitas.
45. A @amazonBR vende edições das revistas que já mencionei na thread, embora ainda não tenhamos o sistema de assinaturas. Mas vale a pena checar lá se você prefere ler os contos em um e-book bem organizado.
46. O que diferencia um conto de um romance de uma novela é o número de palavras. Isso já é conhecido aqui, mas lembrando:

Novel (romance) - 40.000 ou mais palavras
Novella - 17.000 até 40.000
Novellette - 7.500 até 17.000
Short Story - 1500 até 7500
Flash Fiction - 1 até 1500
47. Não ache que pq está escrevendo em inglês você tem que usar cenário e personagens americanos ou ingleses. Inclusive, por causa da saturação, os editores lá fora querem cada vez mais histórias que não tenham personagens europeus, americanos, cis, brancos, ricos.
48. Ainda nesse assunto. Cada vez mais revistas pedem ativamente submissões de pessoas que se identifiquem como LGBTQ+, que tenham alguma deficiência, que não more no eixo América do Norte-Europa, etc.
49. Por exemplo, a Future SF Digest está pagando mais que o normal e querendo especificamente contos de pessoas que não morem em países anglófonos e não tenham inglês como língua nativa. future-sf.com/submissions/
50. O movimento #ownvoices está sendo muito difundido. Ele pede mais submissões de pessoas que se identifiquem com alguma característica. Mais sobre isso no 51.
51. Escrever uma história com um protagonista negro não-binário (por ex) é saudável pra um mercado majoritariamente dominado por protagonistas brancos e cis, mas se você é um negro não-binário, você representa diretamente aquela minoria. Você faz parte do #ownvoices.
52. Como ser elegível para o Nebula ou Hugo? Basta ter sido publicado em língua inglesa naquele ano. "Basta" é forte, já que a sua história tem que ter um certo nível de excelência e ser razoavelmente conhecida pela comunidade votante.
53. E quem vota? No Hugo é qualquer pessoa que se inscrever na Worldcon (a cerimônia que entrega o prêmio), mesmo que você não vá. No Nebula você precisa ser membro da SFWA.
54. Dá pra ganhar dinheiro publicando em inglês? Não entra nessa pensando nisso. Até dá, mas é um longo caminho e uma profissão que dificilmente vai te sustentar sozinha. Grande parte dos escritores anglófonos continuam tendo outras profissões.
55. Contudo, como o mercado é mais aquecido e existe uma série de oportunidades e especializações, é muito mais fácil viver com trabalhos relacionados à escrita lá (mesmo que você precise ganhar dinheiro com aulas, palestras, cursos, revisões, leituras) do que aqui no Brasil.
56. Quando eu digo "lá" é primariamente Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, mas tem muita gente que vive parcialmente da escrita anglófona em países não-anglófonos como França, Rússia e até Brasil (três que eu lembrei).
Podem perguntar alguma coisa específica e tentarei responder nos próximos! Lembrando que de forma alguma sou autoridade no assunto, estou apenas compartilhando o que aprendi e as experiências que tive nesses ~3 anos.
57. O @fabiofernandes me explicou isso: “Há uma discussão séria a respeito do Hugo. Segundo o estatuto, não existe nada que afirme cabalmente que a história tem que ter sido publicada em inglês. Teoricamente, QUALQUER obra de FC publicada em QUALQUER país pode concorrer.”
“Salvo engano, um dos primeiros vencedores do Hugo foi um livro francês não-traduzido (eu realmente não lembro se foi traduzido ou não). Anyway, hoje em dia não acontece porque ninguém vota em nada que não seja em inglês.” Lembrando que o @fabiofernandes É autoridade no assunto.
57. Em 2016, na premiação do Hugo relativo a 2015, um grupo de extrema direita (os Sad Puppies, quase todos homens e brancos) resolveu se manifestar e tentaram forçar obras muitas vezes com teor ofensivo, sarcástico ou de autores que "não escreviam ficção com mensagens".
58. No fim das contas, o que começou como um movimento a favor de uma ficção com mais aventuras “como antigamente”, revelou-se um movimento anti-diversidade, racista e cheio de ideias neo-nazistas. Um pouco mais sobre isso: theguardian.com/books/2016/aug… (a treta é bem maior)
59. Os Sad Puppies tentaram forçar a nomeação de livros de um pequeno grupo extremista que além de ser anti-diversidade, tinham foco em superioridade militar, negavam problemas ambientais, e muita coisa que a gente consegue adivinhar bem. Essa treta reflete bem os nossos tempos.
60. Além dos Sad, houve um outro grupo em paralelo, os Rabid Puppies.

Em resumo:

Sad Puppies - sexistas e homofóbicos que acham que a FC/F está mudando pra pior.

Rabid Puppies - supremacistas brancos que acham que a FC/F não é lugar para mulheres, negros, LGBTQ.
60.1 - Em resumo, farinha do mesmo saco.
61. Histórias contadas no presente são cada vez mais populares na FC/F anglófona, principalmente quando se trata de contos.
62. Várias histórias na segunda pessoa também tem feito sucesso, além de histórias onde a estrutura quebra paradigmas (ou pelo menos não usa o convencional). Tem uma no formato de um questionário, por exemplo.
63. Histórias interativas também estão ganhando espaço. Uma recomendação é STET, publicada na Fireside. firesidefiction.com/stet
64. Uma coisa que me ajuda MUITO a escrever em inglês é a funcionalidade de tocar em uma palavra e ver seus significados. A funcionalidade é do Mac OS, mas tem softwares semelhantes que fazem isso no Windows também.
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