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Na minha opinião esse é um dos acontecimentos mais importante para quem é macumbeiro africanista de Ndanji Angola/kongo no Brasil. Bora falar por que hoje vc conhece tudo sobre orixás e nada de E nada de Nkisi/Bakulu. Se tu é de Yoruba. Não segue o fio ou segura a emoção. bora...
Citei uns acadêmicos e surgem dúvidas, claro. Bora falar de um 'acontecimento' durante a história, no "período higienista do Brasil" envolvendo o povo de santo no Brasil.
II Congresso Afro Brasileiro em Salvador realizado em 1937, organizado por Edison Carneiro e Arthur Ramos, ambos espécie de antropólogos ou etnólogos leigos (não existia antropologia no Brasil) um grupo bem heterogêno de acadêmicos estadunidense desembarca no Br.
O evento fundador de um mito etnológico construído com intenções políticas segunda guerra mundial já comendo solta na Europa. Br o fascismo do Estado racista getulista, instalado em 1935 vivia firme e forte, tendendo para a ambiguidade entre apoiar os nazistas ou os aliados.
O Brasil ao lado de Hitler, significava, simplesmente o nazismo ocupando a costa atlântica, a América latina e cercando os EUA? Ja pensou? Com este risco o Dep d EUA a promover intensos esforços de aproximação com o gov Br, esforços estes, principalmente no campo cultural. claro
“Política da boa vizinhança”, uma ação diplomática estrangeira que se mostrou decisiva para a cultura africana no Br, impactando, forte o campo de nossa racista academia e os estudos gerais.
E. Franklin Frazier (negro, sociólogo, interessado no tema da mobilidade social da família negra norte americana, engajado num movimento por direitos civs na América que começava a ser esboçado, exatamente naquela ocasião)
Melville Jean Herskovits (judeu, branco, renomado antropólogo da linha “culturalista”, interessado nos processos de desenvolvimento da cultura negra na Diáspora)
Lorenzo Dow Turner (negro, linguísta dedicado à pesquisa sobre a expansão da cultura negra no mundo da Diáspora sob o ponto de vista da linguagem, estudando,música,filologia, etc .
Ruth Landes (norte americana, branca, antropóloga de beleza invulgar. Seu trabalho, enfocando aspectos radicalmente opostos aos de seus pares, foi objeto de críticas ácidas da parte destes.)
brazucas

Arthur Ramos (médico legista, branco, seguidor fiel das ideias de Nina Rodrigues e principal interlocutor dos acadêmicos estadunidenses por aqui. É considerado o pai da antropologia brasileira)
Edison Carneiro (negro, etnólogo leigo, filho do grande e desconhecido precursor de estudos da cultura negra do Brasil Antonio Joaquim de Souza Carneiro. Edison, um mero “folclorista” para muitos acadêmicos, se torna o mais importante estudioso da cultura negra do Brasil.
Martiniano Eliseu do Bonfim,negro, descendente de escravos nigerianos, informante de todos os pesquisadores envolvidos, foi o verdadeiro mentor da invenção do Candomblé baiano, estudando de forma autodidata ritos e aspectos gerais da cultura yoruba numa longa estada em Lagos, Ng
E não, não vai ter fotos de brasileiros pretos. busca aí quem quiser...
Um nó político ideológico, se bem me entendem preto de esquerda cristão? que tem servido, de forma bastante eficiente para manter o status quo da questão racial no Brasil, qual seja, “manter o negro no seu devido lugar”.
e esta é a parte mais espinhosa da questão – manipulados por interesses de uma elite negra, sempre emergente, muito hábil na busca e na manutenção de algumas vantagens sociais que o sistema pode oferecer a minorias cooptáveis: O assimilacionismo.
desde o início, a invenção do mito da supremacia nagô esteve assentado sim em interesses assimilacionistas de uma aristocracia negra criada ainda nos tempos da escravidão
uma classe de ricos comerciantes, principalmente nagô, estabelecidos em Lagos e em Salvador (muitos inclusive enriquecidos à custa do tráfico de escravos do Benguela para o Brasil)
era bastante influente, inclusive politicamente, nos rumos e na manutenção da sociedade escravista da Bahia e, por conseguinte, do Brasil.
Por sorte nossa, esta construção ocorreu num espaço bem restrito de tempo, com todos os personagens juntos num mesmo local (a cidade de Salvador, Bahia) todos pesquisando o mesmo pequeno espaço sócio religioso (Gantois e seu entorno) entre os anos 1935 e 1941
No processo, marcado por idiossincrasias e divergências importantes entre os intelectuais norte americanos envolvidos, estes "scholars" entrevistam, se relacionam, exatamente com as mesmas pessoas, entre informantes “populares“, envolvidos com o espaço sócio ritual do candomblé.
Menininha do Gantois e Aninha do Axé do Opó Afonjá assistentes ou informantes cultos, a maioria pertencente à ‘classe média’ negra de Salvador (como Martiniano Eliseu do Bonfim)
Estes intelectuais brasileiros são então, fortemente influenciados a partir daí pelas ideias e metodologias dos colegas americanos, eles mesmos com inúmeros interesses na relação com os “negrólogos” daqui, no ensejo de firmarem suas carreiras acadêmicas como africanistas nos EUA
criando-se neste contexto aculturado, as bases da própria antropologia do "negro brasileiro", que é fundada, neste mesmo momento, por estes mesmos personagens.
As intrincadas relações deste jogo branco, estabelecido entre estes dois grupos de acadêmicos, intermediado pela elite negra de Salvador, marca fortemente os rumos que a antropologia do negro tomaria a partir daí, com a fundação do mito da "supremacia nagô" no candomblé
com as linhas das pesquisas de campo deste grupo de acadêmicos norte americanos, isoladamente ou em associação com acadêmicos franceses como Alfred Metràux (um especialista em vudu)
se estendendo para o Haiti e o Suriname, pode-se afirmar com alguma certeza que todo o arcabouço dos estudos “superiores” sobre o negro africano na diáspora se forma aí, neste CURTO ESPAÇO DE TEMPO E LUGAR
A primeira coisa que salta aos olhos, para a afirmação de que esta suposta hegemonia nagô, acreditada pela academia brasileira desde aí, nasceu de um equívoco metodológico (ou de uma série deles) crasso.
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