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1/ Eu, o "lisboeta" que por acaso é suburbano e que também por acaso até dividiu a vida entre a periferia de Lisboa e a "província", até hoje, também tenho uma história pessoal para contar sobre a escassa oferta de transportes públicos fora dos centros urbanos. Sigam-me. 
2/ Durante a infância e a adolescência, passavam, na aldeia em que vivi (a 10 quilómetros de Lourinhã) 2 autocarros ao longo do dia. O primeiro era às 7 da manhã e o segundo era às 19h00.
3/ (não conhecia alguém da empresa de transportes, mas isto é apenas um aparte).
4/ Quem fazia a exploração era a Rodoviária Nacional, empresa pública. E os autocarros andavam degradados e sem manutenção, com qualquer pessoa que necessitasse de se deslocar, aos organismos públicos e ao supermercado na Lourinhã, à Casa do Povo fazer compras, à praia no Verão.
5/ Mas em 1990, durante o governo de Cavaco Silva, a Rodoviária Nacional (criada durante o PREC, uma nacionalização que resultou do roubo a várias empresas) foi extinta - a empresa pública foi separada e devolvidas as várias operações aos empresários que tinham sido roubados.
6/ Ao longo dos anos 90, estas empresas foram sendo entregues a aos legítimos proprietários. As que operam sem influência da CGTP nunca tiveram problemas de rentabilidade. Mas para as outras, foi-se tornando mais difícil manter as operações com greves sucessivas.
7/ E o que é que isto significou, ao longo dos últimos vinte anos, nas empresas com influência da CGTP? Supressão de rotas e redução de carreiras. Porque, as empresas privadas visam a qualidade de serviço e equipamentos para manter clientes, os interesses da CGTP são secundários.
8/ E depois, claro, também mudaram os hábitos dos portugueses. Durante o governo de Cavaco Silva aumentaram rendimentos e infraestruturas, quase todos passaram a ter veículo próprio, o uso do transporte individual generalizou-se. Poucos usam a "carreira", por se lembrarem da R.N.
9/ Na minha terra, actualmente, há carreiras regulares para a Lourinhã ao longo do dia. A transportadora vai mantendo a operação à conta dos passageiros que se deslocam para as povoações da zona, e ninguém tem acesso ao passe social único, apesar de contribuírem para isso.
10/ Em todo o país, este tipo de realidade repete-se. O que fazer?
11/ Imaginem que havia um partido que prometia nacionalizar todas estas empresas privadas que aumentaram significativamente a oferta nos últimos vinte anos, recriando a Rodoviária Nacional.
12/ Uma empresa destas seria a repetição do enorme erro que levou a degradação generalizada de equipamentos e serviços, reduzindo a interligação entre os vários municípios.
13/ Mas no dia em que um partido prometesse privatizar empresas públicas porque estas não conseguem oferecer o mínimo serviço, todos os que agora se insurgem contra a redução das greves da CGTP, estrebuchariam que nem galinhas com pescoço cortado.
14/ Os que agora dizem que, em vez de se favorecer Lisboa e Porto, o Governo deveria aumentar a oferta de transportes públicos, gritam aos sete ventos a indignidade que é favorecer alguns às custas de todos... aumentar a qualidade de transportes públicos.
15/15 Portanto, poupem-me as tretas ou desinformação. A redução do preço dos passes sociais apenas para alguns, cria desigualdades, sob todos os aspectos. O que precisa de ser feito é melhorar o que funciona mal na mobilidade, desde a manutenção a renovação. A CP é exemplo disto.
