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A última declaração do Filipe Martins, o famigerado Soracabannon, deixa muito claro o sentimento que anima a ala ideológica do Governo e que explica grande parte do movimento de direita radical que está na base do bolsonarismo. 
Esse sentimento pode ser resumido em uma palavra: anti-intelectualismo. Um sentimento que, aliás, manifesta-se em várias roupagens (desde rejeição aos “professores doutrinadores” até rejeição aos “tecnocratas”).
É interessante como isso se formou. Nas origens dessa direita, estava o Olavo de Carvalho d’O Imbecil Coletivo e suas críticas à intelectualidade uspiana.
Mas é curioso notar como essa rejeição foi ganhando corpo e crescendo. De uma crítica aos intelectuais de esquerda ela passou a uma rejeição quase completa a qualquer intelectual não-ideológico.
É bem visível como no núcleo olavista, capitaneado pelo Soracabannon, os militares são um entrave justamente por também representarem uma casta intelectual (na forma de burocratas e técnicos altamente especializados).
Dizer que é contraditório “usar critérios técnicos” é apenas uma outra forma de dizer que o que interessa é um certo “contato” direto do Bolsonaro com os eleitores (ou melhor, com parte deles) ou com a “realidade mesma” (pra usar um termo comum nos textos do Olavo)
Ao mesmo tempo, qualidades técnicas são cada vez menos importantes. Guedes vai bem com a ala ideológica justamente quando incorpora a imagem de um “político” com reações “autênticas” - justamente porque a “autenticidade” é mais importante que o conhecimento.
sso também ajuda a explicar a posição dominante e exclusiva que o Olavo desempenha como intelectual do bolsonarismo: é que o Bolsonarismo, por definição, não pode aceitar mais intelectuais além desse.
Na verdade, o próprio Olavo funciona como uma espécie de racionalização do anti-intelectualismo bolsonarista. Ele dá - para parcelas do movimento - uma chancela intelectual para um movimento que é contra todos os intelectuais.
E não deixa de ser curioso como o movimento que surgiu alegando que formaria a “nova elite intelectual” hoje, após não ter passado nem perto disso, queira acabar com qualquer relevância de intelectuais no Brasil.
