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As coisas estão se desenrolando num ritmo muito acelerado e fica até difícil saber onde tudo vai parar. Mas vou tentar colocar aqui alguns pitacos até para dar sentido pra mim mesmo do que está ocorrendo no caso Sérgio Moro.
O primeiro disclaimer importante é: eu, como muitos aliás, defendi por muito tempo o então juiz Sérgio Moro. Houve erros, claro. Mas sabemos que operações de combate à corrupção nunca são fatos comuns e corriqueiros no Brasil.
Conduzir uma operação com as dimensões da Lava Jato exigia um juiz de razoável técnica, alta determinação e coragem. Há pressões, há interesses envolvidos e, sem esses três elementos, a coisa dificilmente teria resultados.
Pois bem. Moro proferiu muitas decisões controversas (e não incluo - até pra evitar excessos políticos nesse fio - a condenação do Lula). Mas como só temos a dimensão das coisas em retrospectiva, foi com o aceite para o MJ que a ficha cai. Pra mim e pra muita gente.
Dito isso, passemos aos fatos do dia: em primeiro lugar, #InFuxWeTrust. Ao contrário da repercussão que o fato ganhou, achei que esse trecho específico menos comprometedor que os antevemos. Reforçou o contexto que já sabíamos, mas não trouxe nada de novo.
Parta da repercussão talvez se deva à menção ao Ministro Fux, mas não há indicação que o encontro tenha sido secreto e é ingenuidade achar que, em despachos e conversas pessoais, os Ministros não emitam opiniões como aquela (ou contrárias àquela -- vide Gilmar).
A resposta do Moro que virou a hashtag do dia apenas reforça a relação de intimidade que ele tinha com o Deltan. Mas essa relação já tinha sido revelada no Domingo. Por isso disse que ela reforça, mas não acrescenta nada.
A divulgação do inteiro teor das conversas pelo Intercept é mais interessante: ela confirma o contexto que já esperávamos, confirma a relação de intimidade e a existência de uma forte associação entre acusação e Juiz.
Não sei também se é o fato de as mensagens terem sido todas obtidas do celular do Deltan, e não do Moro (minha hipótese), mas parece que a relação do Moro com Deltan, em especial, era muito, muito próxima.
Como já escrevi, essa relação não é normal e lança uma dúvida brutal sobre a parcialidade do Moro. Pelos trechos, no entanto, essa parcialidade parece muito mais derivar da sua proximidade com Deltan e a acusação do que um viés contra determinado acusado.
A suspeição não ocorre só quando há parcialidade *contra* alguém (inimizade, por exemplo). Ela também ocorre quando há parcialidade *a favor*. E, na forma como li as conversas, parece que era isso que ocorria.
Moro via a LJ como um todo único. Ele era parte da engrenagem (a parte mais importante), mas era, ainda assim, a mesma engrenagem, e nela estava incluída a Força Tarefa.
Vários trechos reforçam não só a existência de um propósito comum, como de uma *preocupação* comum. É essa unidade o elemento que mais salta aos olhos e que me leva a crer que o SM, de fato, via seu papel e o do MPF como muito próximos.
Nos trechos completos, não apareceram elementos que indicassem perseguição *específica* a algum condenado (a Lula, por exemplo). Apareceram, na verdade, elementos para reforçar a íntima associação de acusação e órgão julgador.
Por que isso é importante? Porque a parcialidade, nesse caso, não se dirige ao Lula. É, como eu disse, uma parcialidade a favor. E se isso for reconhecido como causa de suspeição, não consigo vislumbrar outra conclusão que não a anulação. De tudo. Não só Lula.
Por fim: SM no estádio. Por enquanto, a reação do Ministro e do Planalto é não reagir. Apegar-se à desculpa dos hackers e não enfrentar o conteúdo das conversas. O Intercept disse que tinha mais conteúdo. E provou que tem. Como SM irá sobreviver politicamente a isso?
Só consigo ver duas soluções nesse caso: ou o Moro pede as contas e deixa o cargo, ou ele faz o que até agora não fez -- assumir que é um político e defender-se politicamente.
O conteúdo das conversas - a meu ver, indisputável nesse momento - dificilmente vai sumir com respostas evasivas. A ironia é que a sobrevivência política do Moro talvez dependa de ele não só assumir as conversas como defendê-las.
Desde que chegou ao Ministério, o SM pouco fez de concreto para defender a Lava Jato. Na verdade, ele próprio, ao ter assumido o cargo, colocou a Operação na berlinda e a fragilizou.
Por incrível que pareça, agora talvez fosse a hora - sob a ótica dele, não a minha - de defender as heterodoxias da Lava Jato; dizer que tudo aquilo foi necessário e ir para o enfrentamento na opinião pública.
O problema, para quem o defende, é que o Moro não parece estar preparado para isso. Ele ainda vive na ilusão de que sua reputação de juiz será suficiente. E as revelações do Intercept mostram quem não é.
E um autojabá: se quiser saber minha opinião atual sobre a Lava Jato e os vazamentos, publiquei esse texto hoje no @NexoJornal nexojornal.com.br/ensaio/2019/A-…
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